Há mais de um século, foi dada a largada para uma grande revolução na maneira como vivemos e produzimos. A ideia que transformou a indústria e a ciência para sempre surgiu em 1902, sob a névoa densa da cidade americana de Pittsburgh, que registra os maiores índices de precipitação pluvial por ano no estado da Pensilvânia.
Àquela época, o engenheiro Willis Carrier procurava respostas para os problemas de temperatura e umidade em lugares fechados e, enquanto esperava um trem, pensou em empurrar o ar através de água fria, fazer seu próprio vapor e regular a quantidade de umidade do ambiente.
Naquele mesmo ano, em 17 de julho, ele entregou o projeto do primeiro sistema de ar condicionado moderno para a gráfica Lithographing Sackett-Wilhelms & Publishing, localizada no Brooklyn, distrito de Nova York. Durante o verão, a indústria sofria com a umidade excessiva, que, absorvida pelo papel, deixava o material borrado e escuro.
Willis Carrier acreditava que poderia retirar a umidade desse ambiente por meio do resfriamento do ar e, aos 25 anos, reverteu o processo de aquecimento de objetos com vapor, ao projetar uma máquina que fazia o ar circular em dutos resfriados artificialmente.
Esse arrefecimento permitiu controlar a quantidade de umidade nele contida e a temperatura do local. Fazia apenas um ano que o jovem inventor havia completado os estudos na Universidade de Cornell.
Traçando um caminho
Willis Haviland Carrier nasceu em uma fazenda no dia 26 de novembro de 1876, na região de Angola, a cerca de 500 quilômetros da capital do estado de Nova York, Albany. Ganhou uma bolsa de estudos na Cornell em 1897 e, logo após se graduar em engenharia mecânica, em 1901, foi convidado para trabalhar na metalúrgica Buffalo Forge Company.
Recém-formado, impressionou rapidamente seus empregadores. Ao notar que utilizar regras gerais para desenvolver e instalar equipamentos criava margens de segurança e custos excessivos, delegou a si mesmo a pesquisa de dados para criar uma fórmula de seleção de ventiladores de caldeira com máxima eficiência e mínima energia. Foi assim que ele acabou convidado para solucionar os problemas causados pela variação da umidade atmosférica na gráfica do Brooklyn.
O invento, que controlava a temperatura e umidade do ar, se tornou público na St. Louis Worldsfair, em 1904, no Missouri. Nos anos seguintes, Carrier trabalhou no aprimoramento do projeto e em testes do produto. Em 2 de janeiro de 1906, obteve sua patente e chamou a invenção de “Aparelho para Tratar o Ar” (Apparatus for Treating Air, em inglês).
A primeira venda aconteceu no final daquele mesmo ano, para o Banco Nacional LaCrosse, localizado no estado do Wisconsin. Em 1907, a primeira venda para um cliente internacional foi concretizada.
O contrato com a Fuji Silk Spinning Company, de Yokohama, Japão, marcou o lançamento de uma indútria global que continua se expandido para novas regiões e aplicações até hoje.
Ainda em 1907, a Buffalo Forge criou uma subsidiária denominada Carrier Air Conditioning Company of America, como forma de reconhecer a liderança de Willis no novo mercado.
Quatro anos depois, em 8 de dezembro, o engenheiro apresentou a Fórmula Psicométrica Racional no encontro anual da Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos (ASME, em inglês).
Mas o início da Primeira Guerra Mundial agravou as incertezas econômicas e a Buffalo Forge optou por concentrar suas operações na fabricação tradicional, resultando na dissolução da Carrier Air Conditioning Company.
Construindo um legado
No dia 26 de junho de 1915, Carrier e seis amigos deram início às atividades da Carrier Engineering Corporation (CEC). A década de 20 foi fundamental para o avanço da tecnologia desenvolvida por Willis.
A climatização para conforto humano, e não apenas para suprir as necessidades da indústria, começou em 1924. Um fenômeno americano de cinemas climatizados permitiu que Carrier, sozinho, tenha sido responsável, em cinco anos, por mais de 300 instalações nesses locais.
O primeiro ar-condicionado residencial foi apresentado em 1926, mas o elevado custo o restringia às pessoas de alto poder aquisitivo. Na década seguinte, a maior parte dos equipamentos residenciais foi utilizada em pequenos estabelecimentos comerciais. Além disso, a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial desaceleraram o uso não industrial.
Mais tarde, em 1949, Carrier anunciou que os quatro maiores e mais modernos arranha-céus do pós-guerra receberiam intalações de ar condicionado. O sistema Weathermaster, desenvolvido por ele dez anos antes, viabilizou sua aplicação nesse tipo de construção.
Ainda assim, muitos consideram o maior feito de Carrier um sistema desenvolvido por ele entre 1940 e 1944 para o túnel de vento de um comitê da aeronáutica localizado em Cleveland, Ohio, que deveria simular congelamento em altitudes elevadas para testes com protótipos de aeronaves.
Em 7 de outubro de 1950, pouco antes do seu aniversário de 74 anos, o detentor de mais de 80 patentes de condicionamento de ar, Willis Haviland Carrier faleceu durante uma viagem a Nova York.
Era o início de uma década marcada pela produção e comercialização em massa de modelos de condicionadores de ar residenciais. Em 1955, uma em cada 22 casas americanas possuía algum tipo de ar-condicionado. Apenas cinco anos depois, o número quadruplicou. Hoje, 87% de todas as residências dos EUA têm a tecnologia.
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