Antes de 2007, praticamente não se ouvia falar em Veículo Urbano de Carga, popularizado pela sigla VUC. Mas quando seu acesso ao chamado Centro Expandido de São Paulo tornou-se exclusivo, em detrimento de caminhões maiores, esse quadro começou a mudar.
Hoje, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Distrito Federal também preferem ter em suas áreas centrais caminhões pesando até 6 toneladas, medindo no máximo 6,30m, com largura nunca superando os 2,60m e sem ultrapassar a altura de 4,40m.
Com mudanças na legislação da área, estabelecendo regras específicas para o transporte de produtos farmacêuticos que requerem condições especiais de temperatura, certos parâmetros de qualidade evoluíram.
Dentre as exigências da ANVISA para vacinas e outros produtos biológicos está o uso de sistemas de monitoramento durante cada trajeto, com a devida documentação de eventuais variações de temperatura.
A capacitação necessária aos profissionais envolvidos nestas operações também aumentou, pois a fiscalização promete ignorar alegações de desconhecimento das regras vigentes.
Resultados
Os primeiros sinais de que os VUCs com baú frigorífico estão vivendo um período promissor vêm dos números relacionados ao emplacamento desses veículos.
Segundo a ANFIR – Associação Nacional dos Fabricantes dos Implementos Rodoviários, de janeiro a julho deste ano 1.251 unidades passaram pelos DETRANs de seus respectivos estados, ou seja, 70% do total registrado ao longo de 2023 inteiro.
”A gente nota esse crescimento, sim, principalmente a partir da nova regulamentação dos fármacos, um setor que tem buscado bastante os caminhões pequenos para distribuição”, diz o líder de Vendas da Thermo King na América Latina, Cláudio Biscola.
A tecnologia embarcada para que os baús atendam à tolerância de apenas 1 grau – enquanto uma norma da ABNT aceita o triplo disso para carnes e outros congelados – também aumentou.
”Nós desenvolvemos e homologamos para a distribuição desses produtos na Europa uma válvula chamada PTC – Precision Temperature Control, que não deixa a temperatura variar sequer meio grau”, exemplifica o executivo.
E as inovações não param por aí, já que na FENATRAN, entre 4 e 8 de novembro, a Thermo King vai mostrar a segunda geração do equipamento para VUCs que substitui a potência do motor pela energia da própria bateria do veículo como fonte para a geração de frio.
“Demos uma repaginada na carenagem, com formas arredondadas que certamente também vão chamar a atenção dos visitantes do nosso estande no São Paulo Expo”, adianta o líder de Vendas.
Cuidados especiais
Todos os pontos na fabricação do baú para um VUC de carga fria requerem cuidados especiais e, consequentemente, alto nível de excelência, do projeto à linha de montagem.
A isolação térmica, por exemplo, deve ser perfeita, e todos os componentes do sistema precisam de um balanceamento preciso entre condensador e válvulas.
Da mesma forma, a quantidade de fluido refrigerante – que no caso da Thermo King é o OpteonTM XP44 (R-452A), da Chemours – deve ser exata.
Outro fator importante, não só pelo lado da mobilidade urbana, mas sobretudo pela qualidade do frio no interior do baú, é o dimensionamento correto do seu sistema.
”Precisa acompanhar a cubagem e a operação a ser realizada”, acrescenta Biscola, dando como exemplo disso ”uma caixinha de 3 metros rodando em São Paulo, parando inúmeras vezes no trânsito, abrindo a porta por vários minutos. Enfim, tudo isso tem de entrar na conta”, ensina.
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Conjuntura favorável
O crescimento da cultura do delivery em todo o país, revigorado durante a pandemia, persiste no mercado e isso também vem contribuindo para expandir o setor.
A chamada ”última milha”, por exemplo, é lembrada por Patrícia Abdalla, gerente de Marketing e Comunicação da Thermo King na América Latina, como importante fator extra de crescimento para o VUC frigorífico.
“Aqui em Barueri são inúmeros os centros de distribuição com câmaras frigoríficas já existentes, ou em fase de construção, que carregam os VUCs com destino à capital, onde caminhões maiores não entram”, diz ela.
A única interrogação hoje na área parece ser mesmo de ordem tributária, frente à intenção manifestada pelo governo de sobretaxar a importação de peças e componentes para veículos elétricos, apesar do seu reconhecido papel positivo também no campo ambiental.
Mão de Obra
Percorrer as grandes cidades levando cargas preciosas, não apenas em termos monetários, mas principalmente para a saúde de quem consome de alimentos a vacinas, é sinônimo de imensa responsabilidade.
”Zelamos ao máximo pela qualidade da nossa rede de manutenção”, garante Biscola, ao reconhecer a importância desse aspecto.
Não é à toa, segundo ele, que um Técnico Master da Thermo King demora 5 anos para se formar. Isso ocorre, até mesmo, em função das constantes inovações tecnológicas ocorridas no setor, o que requer atualização frequente dos conteúdos transmitidos.
Outro desafio, num país de dimensões continentais como o nosso, é suprir todas as regiões de uma mão de obra altamente específica e qualificada, o que leva a Thermo King a manter um programa, em conjunto com os dealers da marca, para treinar até mesmo técnicos não-credenciados.
Uma boa parcela de profissionais, todavia, continua recorrendo a treinamentos independentes como os ministrados pela Super Ar, em São Paulo, tanto em sua escola-oficina como em caravanas que regularmente a empresa organiza para percorrer o país.
“Esses veículos que integram a cadeia do frio transportam, em média, 7 toneladas, são os que mais existem no Brasil e geralmente fazem percursos de até 700 km. Por isso, necessitam de muita mão de obra”, explica Sérgio Eugênio da Silva, mais conhecido na área como professor Serginho.
Pioneiro nesse tipo de atividade, ele resolveu desenvolvê-la ao perceber a carência dessa especialização em regiões onde as autorizadas não conseguem responder sozinhas a uma demanda que só faz crescer.
Por isso ele adotou por aqui a metodologia que aprendeu na França, em 2011, quando ainda cursava o SENAI no Brasil. ”Hoje, aplico essa técnica com os meus alunos e está sendo um enorme sucesso”, comemora.
Serginho justifica sua opção pelo fato de ter constatado que menos de 0,1% dos técnicos nacionais opta por trabalhar com ar-condicionado e transporte refrigerado, devido a obstáculos como o difícil acesso às tecnologias de alguns fabricantes.
”O setor é muito fechado e, para descobrir as coisas, é necessário ralar bastante”, constata. Diante disso, afirma que a Super Ar executa a chamada engenharia reversa, investe nos equipamentos e os estudam durante uns dois anos, antes de lançar qualquer novo curso, ”o que vem dando muito certo”, conclui.