Gastar o mínimo possível de energia e preservar ao máximo a natureza – seja ao climatizar ambientes, seja ao prevenir o desperdício de toneladas de produtos perecíveis no interior de câmaras frigoríficas.
Promover os atributos desejáveis e, ao mesmo tempo, banir a ocorrência de desastres no cumprimento de pré-requisitos como esses têm sido – e não de hoje – tarefa da automatização de sistemas.
Mais recentemente, porém, o perfil de toda essa inteligência embarcada nos equipamentos que saem das fábricas para a vida de todos nós vem mudando, com a presença cada vez mais frequente dos algoritmos, aqueles seres invisíveis, mas cujas proezas todos sentimos a cada acesso a e-commerce, buscador da internet ou banco digital.
Um número crescente de startups tem colocado a safra mais recente de recursos disruptivos a serviço do AVAC-R, um seleto rol de jovens empresas que inclui a paulistana Omni-Electronica, cujo fundador e CEO, Arthur Aikawa, se refere a este novo momento como “retrofit de inteligência”.
Essa abordagem inovadora para lidar com os mais antigos problemas do setor ele justifica, por exemplo, ao frisar um aspecto do controle de temperatura até pouco tempo atrás descrito como insolúvel, ou seja, devido ao fato de cada pessoa desejar um setpoint segundo sua fisiologia, dentre outros fatores.
“É muito comum que intervenções de correção em sistemas AVAC-R sejam feitas a partir de requisitos e diretrizes subjetivos. Daí frases como ‘precisamos que o ar-condicionado tenha mais potência’. Para um projetista, instalador e manutencista, essas demandas acabam sendo vagas e passíveis de interpretação”, explica o engenheiro eletricista com ênfase em eletrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
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Segundo ele, por mais que os profissionais envolvidos na intervenção sejam cuidadosos no mapeamento de situação, premissas e correta ponderação entre alternativas, é bastante difícil contemplar todos os aspectos sazonais, quando o processo inteiro é realizado em semanas.
E questiona: “Será que se trata de capacidade de refrigeração? Balanceamento de dutos? Preferências pessoais? Ou há oportunidade para modulação da taxa de renovação? Enfim, os projetistas fazem o melhor possível com as informações disponíveis, mas fica muito aquém do ideal”, argumenta Aikawa.
Mesmo assim, uma demanda iniciada de forma subjetiva, uma vez acompanhada por um histórico de 24 meses de monitoramento de temperatura, umidade relativa, concentração de CO2 e material particulado PM 2.5 – coletados a cada cinco minutos, 24 horas por dia, daria origem ao “sonho de todo projetista”, acrescenta.
“O que propomos é o ‘retrofit inteligente’”, ou seja, “utilizar tecnologias de fácil e rápida instalação para acompanhar o antes, durante e depois de uma intervenção. Assim, mitigamos os riscos de intervenções fracassadas e possibilitamos ações mais cirúrgicas com investimento dimensionado para atender a demanda”, explica.
Além disso, Arthur identifica nessa conduta a oferta de condições para que, além dos sintomas reportados pelos ocupantes do prédio, o profissional de manutenção possa acessar a um detalhamento objetivo da dinâmica da qualidade do ar interno nos ambientes-alvo desse tipo de intervenção.
Comunicação
No campo dos gargalos remanescentes na interface entre o mundo dos recursos tecnológicos de ponta e o AVAC-R, o profissional coloca, em primeiro lugar, a troca de informações entre cliente e fornecedor.
As tecnologias de monitoramento on-line, segundo Aikawa, oferecem um meio de campo neutro e sistemático para balizar discussões e nortear prioridades já na fase de definição de escopo de uma intervenção.
Contudo, essa objetividade no apontamento de falhas e possíveis soluções ainda esbarra em questões como a disponibilidade de capital para o início imediato das intervenções necessárias.
E essa agilidade toda independe de haver anos de dados coletados e armazenados, “pois, muitas vezes, algumas semanas bastam para se elucidar inúmeros questionamentos. Em alguns casos, até mesmo invalidar hipóteses equivocadas. Tudo depende do ciclo e da dinâmica de cada edifício”, acrescenta o CEO da Omni-Electronica.
Cultura favorável
A distância que, frequentemente, ainda separa a detecção rápida e inteligente de problemas nos sistemas e a decisão de saná-los não significa a existência no setor de uma cultura desfavorável à implantação de inovações tecnológicas.
Pelo contrário, observa Arthur, pois ele identifica no mercado de AVAC-R “um universo extremamente rico de conhecimento e diferentes disciplinas que interagem para disponibilizar um elemento vital para todos os ocupantes de infraestruturas prediais”, analisa.
“Tanto é, que chega a ser comum o envolvimento de biólogos, engenheiros, administradores, arquitetos e médicos em uma roda de conversa para solucionar questões que nos impactam no dia-a-dia”, acrescenta o engenheiro.
Isso, porém, não impede um nível ainda relativamente baixo de conhecimento geral das pessoas que, na opinião do executivo, seriam os principais geradores de demanda por qualidade nos projetos e instalações do setor.
“A vantagem do mercado de AVAC-R é se constituir em uma infraestrutura crítica para todo e qualquer edifício com alto grau de investimento e custo operacional. Ou seja, qualquer ganho de eficiência no dimensionamento ou processo operacional tende a viabilizar investimentos com paybacks menores que 18 ou até 12 meses”, afirma.
Dentre as desvantagens, ele destaca uma falta crônica de documentação, projetos e infraestruturas cheias de gambiarras, mal planejadas, mal executadas e mal operadas, o que faz vários projetos nascerem com um volume muito grande de pontos para diagnóstico e correção.
“É exatamente nesse ponto que pretendemos auxiliar com nosso portfólio de soluções. Ainda, as mesmas tecnologias podem ser aproveitadas para aferir o impacto da intervenção após sua conclusão e manter a coleta de dados para auxiliar a operação e futuras demandas de ajustes”, conclui o empresário.