A infecção por gotículas respiratórias é, atualmente, uma das formas mais conhecidas de transmissão da covid-19, doença causada pelo novo agente do coronavírus (Sars-CoV-2).
Por isso, qualquer pessoa que mantenha contato próximo (cerca de um metro) com algum portador, seja ele assintomático ou não, corre o risco de ser contagiada.
Entretanto, um grupo de engenheiros mecânicos de uma universidade canadense está investigando uma possibilidade de contaminação menos conhecida – a transmissão por via aérea.
Como fornecer ar seguro e saudável aos espaços fechados – de prédios residenciais a escolas e escritórios – é o tema central do projeto, de acordo com Lexuan Zhong, professora de engenharia da Universidade de Alberta.
Líder do estudo, a cientista classificou o esforço como uma “intervenção não farmacêutica” que, se bem-sucedida, poderá evitar “consequências mais amplas” da pandemia e, literalmente, salvar vidas.
Essa pesquisa “é tão valiosa quanto as investigações sobre vacinas”, disse a pesquisadora ao site de notícias canadense Global News.
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“Melhorar os sistemas de ventilação em estruturas de ocupação elevada pode ser uma maneira crucial de conter a pandemia. Esse estudo tem o potencial de impactar milhões de pessoas que vivem e trabalham nesses edifícios”, salientou.
Os engenheiros de Alberta estão trabalhando em colaboração com a faculdade de medicina da universidade para entender melhor como os vírus podem “viajar” pelas correntes de ar.
Eles desejam apresentar atualizações efetivas de projeto e alterações nos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado (HVAC), visando a melhor qualidade do ar interno (QAI).
Soluções acessíveis
A transmissão aérea do coronavírus não é tão comum quanto a transmissão por gotículas, que ocorre quando um infectado tosse ou espirra perto de uma pessoa saudável.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que a transmissão por gotículas é a principal forma de disseminação da covid-19, razão da ênfase em medidas de distanciamento social, lavagem das mãos e fechamento de espaços públicos.
Porém, conforme especialistas em qualidade do ar chineses e australianos apontaram recentemente num artigo científico, “o fato de não haver métodos simples para detectar os vírus no ar não significa que eles não viajem pelo ar”.
Esses pesquisadores usaram o vírus causador da síndrome respiratória aguda grave (Sars) como exemplo. Algumas evidências sugerem que é possível a disseminação aérea desse outro agente biológico, que é da mesma família do Sars-CoV-2, o vírus da covid-19.
Eles argumentaram que, à medida que as gotículas com vírus são expelidas pelas pessoas, elas começam a evaporar, ficando tão pequenas que são mais facilmente transportadas pelo ar e podem ser levadas a “dezenas de metros de onde se originaram”.
Quando isso acontece, “acabamos perdendo a noção sobre para onde essas gotículas vão”, disse Brian Fleck, engenheiro mecânico e professor da Universidade de Alberta, que faz parte do projeto canadense. “Elas meio que se movimentam pelo prédio”, afirmou.
“Embora não seja o método mais poderoso de transmissão, é certamente uma forma que preocupa as pessoas porque temos dificuldade em controlá-la”, salientou.
Neste momento da pandemia de coronavírus, que já infectou mais de três milhões de pessoas em todo o mundo, ele ressaltou que os pesquisadores devem procurar maneiras de ajudar a humanidade a superar essa crise.
“Ainda que só possamos reduzir apenas alguns poucos pontos percentuais da taxa de transmissão, vale a pena pesquisar”, avaliou Fleck, acrescentando que essa pequisa é mais importante agora, pois diversas províncias do Canadá já estudam flexibilizar as medidas de quarentena.
Para o pesquisador, será particularmente difícil determinar como controlar as correntes de ar em grandes espaços fechados, como supermercados e prédios de escritórios.
Mas um aspecto fundamental será encontrar soluções baratas, disse Fleck. Nesse ponto, ele acredita que métodos de filtragem aprimorados e mais renovação de ar sejam modificações importantes a serem adotadas.