A Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, saudada pela indústria de refrigeração e ar condicionado como um acordo climático histórico e equitativo, deve dar novo impulso ao mercado global de fluidos refrigerantes de baixo impacto ambiental, particularmente as hidrofluorolefinas (HFOs).
A produção, o licenciamento e a venda desses fluorquímicos, entre os quais o R-1234yf e o R-1234ze, resultarão em bilhões de dólares em receita para as empresas que detém suas patentes, conforme prevê um relatório da ReportLinker, companhia francesa que usa inteligência artificial para fornecer análises setoriais para equipes de marketing, pesquisa e desenvolvimento.
O tamanho do mercado dessas duas HFOs foi estimado em US$ 2,6 bilhões em 2021, devendo atingir US$ 2,9 bilhões em 2022. De acordo com o documento, a receita do segmento está projetada para crescer 11,18% ao ano até 2027, quando deverá totalizar cerca de US$ 5 bilhões.
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Apesar das incertezas econômicas globais exacerbadas pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia, o gerente de marketing e desenvolvimento de negócios da Chemours na América Latina, Arthur Ngai, lembra que o fluido refrigerante “Opteon YF tem sido largamente adotado pela indústria automotiva nos últimos anos, principalmente na Europa, nos EUA e no Japão”.
Soluções de menor impacto climático também vêm sendo adotadas globalmente pelo setor refrigeração comercial. “Milhares de supermercados mundo afora já operam com misturas à base de HFOs em suas instalações de frio alimentar, reduzindo o impacto climático e o consumo de energia de suas operações”, informa.
Para esse segmento, especificamente, a Chemours desenvolveu um fluorquímico comercializado sob a marca Opteon XP40 (R-449A), substância lançada para substituir o hidroclorofluorcarbono (HCFC) R-22 e o hidrofluorcarbono (HFC) R-404A em instalações novas ou existentes.
Além de não exaurir a camada de ozônio, o XP40 possui potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) 65% menor que o do R-404A, um poderoso gás de efeito estufa que já está sendo eliminado em vários países.
Com a iminente ratificação da Emenda de Kigali pelo Brasil, o País deverá congelar o consumo de HFCs em 2024, reduzi-lo em 10% até 2029 e atingir redução de 85% até 2045.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as emissões dos HFCs vêm aumentando globalmente em torno de 8% ao ano, podendo responder por até 19% das emissões de gases de efeito estufa em 2053.
A ONU estima que, sem a Emenda de Kigali, esses superpoluentes climáticos poderiam provocar um aumento médio da temperatura de aproximadamente 0,5 °C até o fim do século.
“Vamos entrar numa fase de transição mais acelerada rumo a alternativas mais sustentáveis, o que deve abrir melhores oportunidades profissionais para técnicos preparados para essas mudanças significativas na nossa indústria”, avalia Ngai, salientando que “isso já está ocorrendo no Brasil, onde muitos supermercados e centros de distribuição têm investido em retrofits e novos equipamentos compatíveis com HFOs”.