Assunto cada vez mais debatido no Brasil, a qualidade do ar interior (QAI) de residências e empresas – do escritório ao chão de fábrica – tem preocupado profissionais de diversas áreas, como construção civil, saúde pública, pesquisa científica e climatização.
Todos estão temerosos com a alta incidência de casos de câncer de pulmão causados em função do radônio, especialmente em locais com pouca ou nenhuma ventilação.
O gás radioativo é considerado um assassino silencioso, pois é inerte, inodoro, incolor e insípido. Segundo os especialistas, o frio facilita a concentração deste elemento, especialmente em ambientes calafetados e aquecidos artificialmente.
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O radônio se origina a partir do decaimento do urânio e do tório e está presente em praticamente todos os lugares da crosta terrestre. É o segundo maior causador de câncer de pulmão – estima-se que ele seja responsável por cerca de 10% dos casos, perdendo apenas para o tabaco.
“A principal fonte de radônio é – acredite se quiser – o próprio solo sobre o qual o imóvel foi construído”, diz Robson Petroni, coordenador da Conforlab, referência nacional na análise de radônio em ambientes confinados.
“Inúmeros fatores contribuem para que ocorra a ‘concentração’ de radônio em ambientes confinados, mas o mais significativo é correlacionado com a engenharia, projeto e até mesmo com os materiais empregados na construção de um imóvel”, explica.
“Ao emanar do solo e encontrar um local confinado, o radônio se ‘concentra’ e contamina o ambiente, tornando-se um fator de risco muito grande para a saúde de todos os ocupantes, especialmente as crianças e fumantes”, alerta.
Este gás também costuma se acumular em ambientes fechados como cavernas, minas e túneis, podendo inclusive ser transportado pela água de fontes subterrâneas, como os aquíferos que abastecem o País.
Impactos do radônio na saúde pública
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), estima-se que dentre as mortes causadas por câncer associado ao conteúdo de radônio na água, 89% correspondem a câncer pulmonar devido à inalação do gás, e 11% são resultantes de ingestão direta de água contendo este elemento, provocando câncer de estômago.
Há muitos estudos nessa área que são esclarecedores. Em 2011, no trabalho “Concentrações de Radônio nas Águas Subterrâneas, Rochas e Solos de Porto Alegre, RS”, desenvolvido por Ana Clara Butelli Fianco para o programa de pós-graduação em geociências do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a pesquisadora revelou que amostras analisadas de água do aquífero que abastece a região apresentaram concentração de radônio dissolvido superior ao limite máximo estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 100 Bq/L, podendo atingir até 500 Bq/L.
Outro trabalho, “Níveis de Radioatividade Natural Decorrente do Radônio no Complexo Rochoso da Serra de São Vicente, SP”, realizado em 2006 e publicado no periódico Radiologia Brasileira pelos pesquisadores Adilson Lima Marques, Luiz Paulo Geraldo (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e Wlademir dos Santos (Centro Universitário Monte Serrat), monitorou o radônio em várias amostras de águas, solos e locais fechados.
O estudo concluiu que “para algumas residências e na maioria das fontes de água estudadas, os teores de radônio encontrados estiveram acima dos limites máximos propostos por organismos internacionais”.
Em Poços de Caldas (MG), estudo apresentado em 2014 pelo Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional do Câncer (Inca) em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde e a Comissão Nacional de Energia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, revelou que em 15% das 342 casas pesquisadas na cidade mineira a concentração de radônio ficou acima do limite aceitável.
“Todos os ambientes confinados possuem radônio. A única dúvida é o quanto há de radônio neles”, ressalta Robson Petroni.
Padrões internacionais estabelecidos pela OMS e EPA estabelecem que a concentração de radônio em um ambiente confinado deve ser inferior a 4 pCi/L.
“Ambientes com níveis de radônio acima 4 pCi/L se tornam potencialmente perigosos à saúde. Locais assim devem ser ‘tratados’ para minimização da concentração até níveis aceitáveis”, informa.
Ainda de acordo com a EPA, ambientes com mais de 8 pCi/L de radônio devem ser evitados a todo custo.