Embora a redução gradual de gases de efeito estufa fluorados tenha tido um efeito pontual nos preços dos hidrofluorcarbonos (HFCs) no mercado europeu, os preços globais são em grande parte afetados pelo preço da fluorita.
Esse mineral é a principal fonte comercial do fluoreto de cálcio (CaF₂) e é matéria-prima básica de todos os produtos químicos à base de flúor.
Em artigo publicado originalmente no Cooling Post, Mike O’Driscoll, diretor e cofundador da Imformed, plataforma de pesquisa de mercado para a indústria global de minerais não metálicos, analisa a situação atual da oferta e possíveis tendências futuras para este componente vital.
Sem a fluorita, não é possível produzir ácido fluorídrico (HF), e sem HF, é impossível fazer a extensa gama de compostos fluorados que são essenciais em diversas aplicações industriais e domésticas, incluindo os componentes vitais usados em gases de refrigeração e ar condicionado.
Porém, há relativamente poucas fontes de fluorita comercialmente desenvolvidas em todo o mundo, e o maior país produtor, a China, está passando por reduções na oferta, ao passo que novos fornecedores têm enfrentado atrasos no início das operações.
O reduzido nível de oferta e os altos preços continuaram na virada de 2018 para 2019, e a expectativa para 2020 é que essa tendência se mantenha, a menos que surja maior capacidade de produção.
A dúvida que fica é: os grandes players do mercado de fluidos refrigerantes poderão contar com um nível adequado de fluorita?
Uso da fluorita na obtenção de compostos fluorados
As duas especificações comerciais primárias de fluorita são o grau ácido (acima de 97% de CaF₂) e o grau metalúrgico (de 60% a 96% de CaF₂); há ainda o chamado grau cerâmico, que pode variar de 94% a 96% de CaF₂ .
O grau ácido é responsável por aproximadamente 60% a 65% da produção total de fluorita, sendo que as duas principais aplicações são: na fabricação de ácido fluorídrico (HF) e na produção de alumínio – principalmente para se obter fluoreto de alumínio (AlF₃), que é capaz de diminuir a temperatura do banho na fabricação de alumínio.
Além de refrigerantes e propelentes, os mercados de compostos fluorados incluem aparelhos elétricos e eletrônicos, a indústria metalúrgica (extração, fabricação e processamento), baterias de íons de lítio, produtos farmacêuticos, polímeros e agroquímicos.
O grau metalúrgico corresponde a cerca de 37% a 40% de toda produção de fluorita, e é utilizado principalmente como fundente na fabricação de aço.
Os compostos fluorados representam o maior mercado da fluorita. Estima-se que a demanda por fluorita em 2018 foi de 6,33 milhões de toneladas, com o HF somando 40% do total, o aço, 30%, alumínio, 25%, e outros, 5%.
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Em geral, estima-se que a produção de fluorcarbonos tenha consumido aproximadamente um milhão de toneladas de HF em 2017, exigindo mais de dois milhões de toneladas do grau ácido.
A demanda mundial total de HF permaneceu estável em 1,2 milhão de toneladas em 2018, com a China ainda fornecendo 45% da produção mundial, a América do Norte, 25%, e a Europa, 13%.
No entanto, os fechamentos de fábricas na China devido a pressões ambientais reduziram a produção e as exportações nos últimos anos. Em resposta, o Japão aumentou a produção.
O mercado de fluorcarbonos está constantemente sob os holofotes do controle ambiental, visto que muitos países, especialmente a União Europeia e os EUA, estão introduzindo restrições ao uso de certos HFCs devido ao seu potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) elevado.
Contudo, conforme ressalta o especialista, as hidrofluorolefinas (HFOs), refrigerantes alternativos de baixo GWP, também são produzidas usando HF.
Fontes atuais
A China continua sendo a maior produtora mundial de fluorita, respondendo por cerca de 60% da produção mundial total de 5,8 milhões de toneladas em 2018, seguida por México, África do Sul, Mongólia, Vietnã e Espanha. Houve um certo nível de produção recente proveniente do Paquistão, Tailândia e Myanmar.
O suprimento de fluorita em 2018 foi razoavelmente apertado, principalmente devido ao fechamento de minas por parte de autoridades de controle ambiental na China, e à produção limitada e atrasada de produtores novos e emergentes no Canadá, África do Sul e Ásia.
Isso deve se manter durante 2019 e até mesmo 2020, a menos que a capacidade de produção aumente, na avaliação do especialista.
A participação da China nos mercados globais de exportação de fluorita diminuiu significativamente nos últimos anos, em comparação com os picos de 2010-11.
Pela primeira vez, em 2017 e também em 2018, a China se tornou um importador líquido de fluorita: mais de 500 mil toneladas foram importadas frente a mais de 400 mil exportadas em 2018 – um reflexo da pressão sobre a oferta interna devido aos controles ambientais, assim como o impacto do crescimento da demanda interna de um mercado de compostos fluorados em ascensão. A expectativa é de que a tendência continue em 2019.
O forte aumento das importações do grau metalúrgico na balança comercial da China veio principalmente da Mongólia, mas também de Myanmar. O grau ácido da fluorita foi importado do México e da África do Sul. Os maiores exportadores mundiais de grau ácido são o México, o Vietnã, a África do Sul e a China; no caso do metalúrgico, estão Mongólia, o México e a China.
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Os principais mercados regionais do grau ácido são os EUA, a Itália, a Índia e a Alemanha, refletindo os principais centros de fabricação de compostos fluorados.
A contração na oferta global em 2018 resultou em aumentos acentuados nos preços da fluorita em grau ácido, que atingiu o pico de mais de US$ 500 por tonelada, e essa tendência se manteve em 2019, com relatórios de que os preços do grau metalúrgico também estavam subindo e superando os níveis do ácido, chegando até US$ 550 por tonelada.
A dependência das importações líquidas dos EUA em relação à fluorita chinesa caiu de 52% em 2009 para apenas 6% em 2018, sendo ofuscada pelo aumento das importações vindas do México, de 69%, e, mais recentemente, do Vietnã, mas em menor escala.
Embora os EUA tenham elevado as tarifas de 10% para 25% em relação a um total de US$ 200 bilhões de produtos chineses em maio de 2019 na “Lista 3”, que inclui muitos minerais, a fluorita (grau ácido e metalúrgico) foi excluída, enquanto o fluoreto de alumínio e o ácido fluorídrico permanecem na lista.
Em contraste, houve certamente um risco maior proveniente das recentes ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas punitivas de 5% sobre todos os bens importados do México a partir de 10 de junho de 2019.
Acontece que Trump recuou de seu plano, anunciando no dia 7 de junho que os EUA chegaram a um acordo com o México, e haverá um acordo renegociado entre Estados Unidos, México e Canadá. Portanto, os consumidores norte-americanos de fluorita sentirão certo alívio, pelo menos por enquanto.
O surgimento de novas fontes
O esgotamento das reservas de alta qualidade do mineral, o alto custo da produção de fluorita no grau ácido, e a chance de mais reduções de capacidade na China, combinadas com a demanda contínua por fluorita nos mercados de produtos químicos, aço e alumínio indicam que há espaço para fontes novas e alternativas de fluorita.
Os dois players do mercado que estão na dianteira são as companhias Sepfluor Limited e Canada Fluorspar Inc. No entanto, ambas tiveram atrasos para iniciar as operações. Mas as perspectivas de progresso são positivas.
Na África do Sul, a mina a céu aberto de US$ 122 milhões da SepFluor, conhecida como Nokeng Fluorspar Mine, foi finalmente comissionada para a produção comercial, com capacidade de 180 mil toneladas por ano de fluorita no grau ácido.
A Canada Fluorspar Inc. está impulsionando a produção em suas instalações em St. Lawrence, Newfoundland, em Toronto, no Canadá, com uma meta nominal de 200 mil toneladas por ano de fluorita no grau ácido. A empresa está planejando construir um terminal marítimo vital perto do local de mineração.
Até o final de 2019, já o mercado já saberá se as novas fontes estarão a todo vapor; caso não estejam, o ano de 2020 pode ser marcado por uma predominância do baixo nível de oferta da fluorita, assim como uma pressão de alta no preços.