O mundo perdeu na semana passada o ambientalista britânico James Lovelock, considerado o cientista independente mais importante do século 20.
Segundo um comunicado de seus parentes no Twitter, ele faleceu na noite da última terça-feira (26/7) em casa, no interior da Inglaterra, “cercado por sua família em seu 103º aniversário”.
Lovelock ficou conhecido por ter feito o alerta precoce sobre o aquecimento global, por meio de sua “teoria de Gaia”, formulada em 1970. A hipótese, rechaçada à época por acadêmicos, apresenta a Terra como um ser vivo capaz de se autorregular.
“Que vida e que histórias! O gênio de Jim [seu apelido] fez dele o Forrest Gump da ciência, dando início às ciências climáticas, à busca de vida em Marte, à descoberta do buraco na camada de ozônio e à concepção do mundo como um sistema autorregulador”, homenageou, em um tuíte, seu biógrafo, o jornalista Jonathan Watts.
“Trabalhando para Shell, Nasa, MI6 [inteligência externa britânica] e Hewlett-Packard, ele tinha acesso e conhecimento. Quando alertou o mundo sobre a crise climática, falou com imensa autoridade”, disse Watts, enfatizando a tensa relação que manteve com os movimentos ambientalistas.
Ele “trabalhou para grupos petrolíferos, conglomerados químicos e para o Exército. Era apaixonadamente pró-nuclear”, acrescentou o biógrafo.
Seu apoio à energia nuclear e suas críticas às energias renováveis – ele declarou, em 2009, que elas “não tinham o menor impacto na luta contra o aquecimento global” – chocaram os ambientalistas.
- TCC sobre refrigeração magnética recebe menção honrosa da ABCM
- Eliminação de CFCs reduziu aquecimento global, revela estudo
- Relatório da ONU confirma baixo GWP do R-1234yf
Para o Museu de Ciências de Londres, “Lovelock estava décadas à frente de seu tempo em seu pensamento sobre a Terra e o clima”.
Numa entrevista concedida em junho de 2020 à AFP, o pesquisador relativizou a pandemia de coronavírus, dizendo que a covid-19 “mata principalmente os da minha idade – os mais velhos –, que já são muitos”.
“A mudança climática é mais perigosa para a vida na Terra do que quase qualquer outra doença concebível”, disse ele.
Em 2021, pouco antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), ele publicou um artigo no The Guardian ressaltando que a Terra pode “destruir a humanidade antes que a humanidade destrua a Terra”, e que tinha dúvidas se ainda era possível salvar o planeta de uma catástrofe climática.
“Há quase 60 anos, sugeri que nosso planeta se autorregulasse como um organismo vivo. Chamei isso de teoria de Gaia, e mais tarde fui acompanhado pela bióloga Lynn Margulis, que também adotou essa ideia. Ambos fomos duramente criticados por cientistas da academia […]. Nos anos seguintes, vimos o quanto a vida – especialmente a vida humana – pode afetar o meio ambiente. Dois atos genocidas – asfixia por gases de efeito estufa e o desmatamento das florestas tropicais – causaram mudanças em uma escala não vista em milhões de anos”, afirmou no artigo.