Fundada em 2015, em pleno olho do furacão da crise econômica que até hoje ainda assola o País, a paulistana NexoAr é um desses casos de sucesso empresarial de curto prazo. Desde o início das atividades, a prestadora de serviços sempre buscou mesclar boa gestão e estratégias bem definidas para suas operações.
Mas a grande mudança de patamar no mundo dos negócios começou em 2018, quando a empresa viu a demanda por seus serviços de manutenção corretiva e preventiva crescer exponencialmente.
O fato ocorreu em função da entrada em vigor da Lei nº 13.589, que obriga todos os edifícios de uso público ou coletivo a terem um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) de seus sistemas de climatização, observando os parâmetros normativos e de qualidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Entre as penalidades previstas para quem desrespeita a Lei do PMOC estão multas que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão, tendo seu valor dobrado na reincidência, além de sanções cíveis.
A nova legislação, que visa eliminar ou minimizar riscos à saúde humana agravados pela má qualidade do ar interno, também se aplica aos ambientes climatizados de uso restrito, como fábricas, laboratórios, hospitais, entre outros.
“A partir de então, registramos um crescimento absurdo no número projetos solicitados para atender à legislação do PMOC, assim como serviços de manutenção preventiva e corretiva”, comenta o fundador e diretor executivo da companhia, Diego Camargos, apoiando-se em números extraordinários.
Se no primeiro ano de atividade a NexoAr registrou R$ 350 mil de faturamento, projeta fechar 2019 com R$ 6 milhões, expansão de impressionantes 1.715% em apenas quatro anos.
Para chegar a esse estágio, tem atualmente contratos de quase duas mil máquinas instaladas em todo o Brasil, sendo 80% de clientes que administram instalações de ar condicionado (gestores de facilities) e 20% de proprietários de apartamentos de alto padrão, com “obras residenciais usando sistemas com volume de refrigerante variável (VRV), que temos feito bastante em parceria com a Daikin e distribuidores da marca”, explica.
“A Lei do PMOC foi o divisor de águas em nosso negócio. Temos, inclusive, um departamento de engenharia muito forte, com um engenheiro e dois projetistas que cuidam desses projetos, além de um departamento operacional que executa nossos contratos”, complementa.
De acordo com Diego, o PMOC trouxe também como aspecto positivo a maior conscientização de empresas e profissionais, embora essa mudança se dê, muitas vezes, por causa da obrigatoriedade e da possibilidade de pesadas multas, como já ocorreu com alguns clientes seus que ignoraram a lei, resolveram testar a sorte e se deram mal.
“Não é só pelo risco ambiental, mas pela saúde e preservação da vida humana. O ponto negativo do PMOC é que ainda não estão muito claras de quem são as responsabilidades, por exemplo, sobre quem assina, se é um engenheiro mecânico com especialização em segurança do trabalho ou se basta um técnico em climatização”, enfatiza.
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O rápido aumento do volume de serviços levou a NexoAr a realizar manutenções de centrais de águas gelada (CAGs) e sistemas de expansão direta com VRV, além de instalação de ar-condicionado em quase todo o país.
“Nesse momento, temos obras em vários locais, como Manaus, Palmas e Salvador”, exemplifica Diego, que também é diretor do Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo (Sindratar-SP), onde acompanha de perto e participa das discussões em torno do PMOC e do desenvolvimento do HVAC-R brasileiro.
Tamanho desafio levou a prestadora de serviços a ampliar seu quadro de colaboradores, que no início das operações era de três funcionários, saltando para 38 efetivos e 30 terceirizados.
O acelerado crescimento também impôs à companhia duas mudanças de sede. A primeira aconteceu com apenas oito meses de operação, quando passou de um pequeno escritório de 10 metros quadrados com uma mesa, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, para uma loja maior no mesmo bairro, onde ficou durante um ano e meio. Atualmente, está instalada em um galpão de 700 metros quadrados na Moóca.
Tecnologia
Um dos diferenciais da NexoAr para se manter em alta no concorrido mercado do frio está a utilização de tecnologia de ponta, que proporciona aos clientes a segurança de que o serviço realmente foi realizado, independentemente da distância da sede.
Diego explica que a empresa dispõe de uma plataforma instalada em tablets que todos os colaboradores levam ao local da prestação do serviço. Cada aparelho está interligado a um sistema central que alia geolocalização e leitura de um QR Code enviado ao cliente e referente ao equipamento.
Enquanto o primeiro permite saber a exata localização do técnico – mesmo se houver problemas de sinal ou desligamento do plano de dados –, o segundo é usado como garantia de que o profissional vai realizar o serviço no tempo médio projetado.
Se for detectado qualquer inconsistência no andamento da manutenção, o sistema bloqueia qualquer tentativa de fechamento da ordem de serviço. Mas se tudo estiver dentro dos parâmetros, ainda assim o técnico precisará enviar fotos da máquina desmontada, das peças higienizadas, da máquina montada, caso contrário, ele não é liberado para iniciar a etapa seguinte dentro do sistema.
“Mas o que isso garante? Que o técnico está fazendo o seu trabalho, dando mais segurança para o cliente”, salienta Diego, graduado em administração de empresas e recursos humanos e pós-graduado em gestão de vendas e eficiência energética em climatização.
Coragem
Oriundo da própria indústria de climatização, o fundador da NexoAr atuou durante seis anos na Carrier, mais precisamente no Canal Totaline, onde ficou até 2015, quando foi demitido da multinacional norte-americana.
Mesmo com o agravamento do quadro econômico do País – e a despeito de todos todos os prognósticos emitidos por amigos e conhecidos, que temiam o investimento do dinheiro de sua rescisão em um negócio próprio em momento de crise –, o executivo decidiu empreender na área de projeto, instalação e manutenção de ar-condicionado, a fim de “não voltar para um fabricante ou ir trabalhar num distribuidor”.
Segundo Diego, entre 2015 e 2017, o crescimento registrado da empresa ficou em 10%, dentro do previsto. Enquanto a indústria e o comércio sentiam os efeitos da queda nas vendas de equipamentos, a NexoAr permanecia estável, atendendo clientes que geralmente passam ao largo de crises, a exemplo de uma entidade religiosa.
“Todo mês, ela inaugurava uma unidade nova, onde fazíamos a instalação e ainda ficávamos com a manutenção das máquinas. Portanto, este foi um crescimento muito programado. Por outro lado, tínhamos como cliente um grande escritório de contabilidade, com oito salas alugadas na Avenida Paulista, mas em dois meses permanecia com apenas duas. Então, eu crescia em um cliente e, às vezes, caía em outro”, descreve.
Hoje, mesmo com a continuação da estagnação econômica, a empresa atende em torno de 15 obras simultaneamente, instalando e fazendo principalmente a manutenção de equipamentos de VRV.
“Há obras de 10 hp a 25 hp, com destaque para o atendimento de um cliente que comprou o andar inteiro de um prédio e o transformou em um apartamento de 440 metros quadrados”, frisa.
Parceria bem-sucedida
Uma das principais parceiras da Daikin, com quem teve o primeiro contato em 2017, a NexoAr trabalha com exclusividade com os produtos da multinacional japonesa, tendo como contrapartida treinamento contínuo de pessoal.
“Após acertar este acordo, ‘virei a chave’, passando só a indicar e instalar Daikin. Começamos a crescer, mês a mês. Hoje, somos uma referência em Daikin. Recebemos ligações do Brasil inteiro solicitando serviços em máquinas”, conta.
Agora, o próximo passo desta bem-sucedida parceria com a companhia está se desenhando com a preparação de um time de quatro especialistas em automação da NexoAr. Desenvolvida pela Daikin, essa tecnologia chamada MSM se traduz, por exemplo, no monitoramento de equipamentos a distância.
“Por meio de alarme, é possível identificar falhas em componentes ou picos de energia. Dependendo do tipo de solução necessária, basta entrar no sistema e reiniciar a máquina. É o que eu quero começar a vender, em pouco tempo, para os meus clientes de contrato”, comenta Diego.