A Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus) – organização não governamental (ONG) portuguesa da área de meio ambiente – lamentou hoje (15) o “acordo nebuloso” alcançado na Conferência do Clima em Glasgow (COP26) e a falta de ação dos países no compromisso de descarbonização da economia. A instituição pediu maior esforço até o final da década.
“A redução drástica e urgente das emissões de gases de efeito estufa continua a ser uma premência até 2030”, alertou a ONG, criticando a falta de compromisso sobre o abandono da utilização do carvão e o fim dos apoios e isenções concedidos às empresas de combustíveis fósseis.
A associação cita nações como a Índia, China, Arábia Saudita e os Estados Unidos como responsáveis pela “abordagem suavizada” na definição de metas. Disse que elas traduzem apenas “piedosas intenções que resolvem muito pouco ou quase nada” para o compromisso final assinado no sábado (13).
“O aumento do financiamento à transição energética dos países mais vulneráveis ficou sensivelmente na mesma meta não cumprida anteriormente, uma vez que não foi atingido o objetivo de financiar a adaptação climática dos países em desenvolvimento em US$ 100 bilhões anuais. Continua ainda por ser definida a compensação aos países por perdas originadas pelas mudanças climáticas”, denunciou.
Em comunicado, a Quercus mostrou-se insatisfeita com a reintrodução de 300 licenças de emissão no mercado de créditos de carbono. Lembrou que elas já tinham sido “abandonadas após o Protocolo de Quioto”, ratificado em 1999, e que “o Acordo de Paris já nem sequer as previa”, em 2015.
Em termos positivos, a ONG destacou os acordos setoriais na área das emissões de metano, de reflorestamento e de incentivo a energias limpas nos veículos, apesar de considerar que são insuficientes para a limitação do aquecimento global a 1,5 ºC até o fim do século.
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Sem deixar de sinalizar que o número de participantes na conferência mostra uma “preocupação relativa às mudanças climáticas como nunca tinha sido anteriormente obtida”, a Quercus espera que seja aproveitada a “fresta” aberta na COP26 para reforçar a luta contra as mudanças do clima e que a pressão social contribua para corrigir alguns aspectos na cúpula de 2022, em Sharm-el-Sheik, no Egito.
Motivo da insatisfação
A 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas adotou formalmente, no sábado, declaração final com uma alteração de última hora, proposta pela Índia, que atenua o apelo ao fim do uso de carvão.
A alteração foi sugerida pelo ministro indiano do Meio Ambiente, Bhupender Yadav. No encerramento da COP26, ele pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia a eliminação do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução progressiva de emissões.
A proposta acabou sendo aprovada pelo presidente da cúpula, Alok Sharma, que disse “lamentar profundamente a forma com o processo ocorreu”.
O documento final aprovado – Pacto Climático de Glasgow – preserva a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de tentar conter o aumento da temperatura global em 1,5 ºC acima dos níveis médios da era pré-industrial, dizem os organizadores do encontro.
No entanto, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, comentou o acordo, alertando que apesar de “passos que são bem-vindos, a catástrofe climática continua batendo à porta”.
*Com informações da RTP – Rádio e Televisão de Portugal