A climatização do Centro Corporativo Portinari, prédio comercial construído em Brasília (DF) e primeiro de sua região a obter o certificado de sustentabilidade Leed Platinum, também recebeu o Ashrae Brasil Chapter Technology Award 2022, em função da excelência do sistema ali instalado pela também brasiliense Air System.
Construído pela Supera Engenharia e ocupado em maior escala após a fase aguda da pandemia, o edifício de três pavimentos, distribuídos ao longo de 14,8 mil metros quadrados, teve as 407 TRs do seu ar-condicionado central pensadas nos mais diversos detalhes para unir eficiência energética à saúde e bem-estar de seus ocupantes.
Segundo o engenheiro Ricardo Gibrail, o projeto precisou superar desafios, a partir da compatibilização da arquitetura concebida com os requisitos de excelência exigidos, da mesma forma, da climatização do edifício, instalada ao longo de 7,2 mil m².
“Optou-se por desenvolver o projeto com o sistema VRF, no qual, além de termos zonas com controle de temperatura, deveríamos fazer o sistema de renovação com ar externo dedicado (DOAS) e recuperação de energia do ar admitido com o ar expurgado”, detalha o empresário, cuja empreiteira completa neste mês três décadas de mercado.
Nesta admissão, destinada a renovar a atmosfera no interior do prédio, o ar é tratado e resfriado pelo expurgo do ar de retorno, com o controle proporcional da concentração de CO₂, “aspecto também impactante na economia de energia”, frisa.
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Já no sistema de exaustão instalado nas garagens, Gibrail destaca o conjunto de sensores interagindo com inversores de frequência, aumentando assim a eficácia dos exaustores Limit Load empregados na extração dos gases do prédio.
Dentre os resultados percebidos no dia a dia por características assim, também observadas nas demais instalações desta autêntica obra-prima da construção civil, se destacam a economia de energia em cerca de 36%, e também algo em torno de 48% com relação à água consumida, na comparação com edifícios novos não certificados. A qualidade do ar interior (QAI), por sua vez, certamente os cerca de 1,2 mil ocupantes que o edifício comporta logo vão atestar.
Aliás, conciliar meio ambiente e ocupação saudável é um caminho considerado sem volta por Gibrail, sendo este segundo e igualmente fundamental aspecto garantido por projetos como o do premiado edifício de Brasília, onde tudo foi projetado com o esmero típico dos artistas.
Descarbonização em foco nas cidades
A cerimônia de entrega do Chapter Technology Awards 2022 foi promovida em 26 de maio, último dia do 2° Fórum de Sustentabilidade do capítulo brasileiro da Associação Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado, na sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP).
Conforme destacaram os renomados profissionais do Brasil e do exterior que participaram do fórum, a construção de edifícios mais eficientes, resilientes e de baixo impacto ambiental é considerada pelos cientistas como uma das estratégias mais efetivas para o mundo poupar energia e, ao mesmo tempo, enfrentar a crise climática em curso.
“Um edifício neutro em carbono – também conhecido como zero-emission building (ZEB) – apresenta desempenho energético muito elevado, e a energia necessária para manter sistemas de ar condicionado funcionando, por exemplo, é obtida a partir de fontes renováveis”, explicou o engenheiro Thomas Phoenix, membro da Ashrae desde 1982.
A arquiteta Juliana Pellegrini Trigo, presidente da Ashrae Brasil, avaliou que, “apesar de a neutralidade climática dos edifícios ser um tema ainda pouco discutido no País, sua inserção no contexto brasileiro será inevitável”.
“A descarbonização do ambiente construído está atrelada às melhores práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês)”, disse.
“Precisamos ter operações com emissões líquidas zero. Apesar dos muitos desafios, isso pode ser alcançado por meio da combinação entre sistemas de recuperação de calor, de geração de energia solar, geotérmica, eólica etc. dentro e fora dos edifícios e outras tecnologias de alta eficiência”, ressaltou a engenheira Sheila Hayter, ex-presidente da Ashrae.
O advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, secretário municipal de Mudanças Climáticas de São Paulo, lembrou que algumas cidades brasileiras já se comprometeram a zerar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2050, compromisso alinhado com o Acordo Climático de Paris, cujo objetivo é impedir que temperatura da Terra suba mais de 2 °C neste século, em relação relação à temperatura da era pré-industrial.
Segundo ele, o plano de descarbonização da capital paulista prevê a construção de processos eficientes de preparação e prevenção à emergência climática, o que deve acelerar a necessidade de inovação em eficiência urbana, a demanda por energias renováveis e o desenvolvimento de edifícios de baixo impacto climático ou neutros em carbono.
A ambiciosa política pública que está sendo implantada no maior centro financeiro da América Latina deve criar um ambiente de negócios favorável para a disseminação do conceito de edifícios inteligentes, além de métodos e processos construtivos de menor impacto econômico e socioambiental, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
O plano paulistano contra as mudanças climáticas tem “60 objetivos, 43 tarefas que englobam esses objetivos e a mobilização de pelo menos 18 secretarias municipais para a consecução deles”, disse o secretário.