O adjetivo “natural” tem sido largamente utilizado na indústria de refrigeração e ar condicionado como uma “palavra evasiva” e com forte apelo comercial para rotular compostos como a amônia, o dióxido de carbono e os hidrocarbonetos.
É o que afirma o professor britânico Richard Powell, especialista no desenvolvimento de fluidos frigoríficos de baixo impacto ambiental com mais de 40 anos de experiência no setor.
O renomado cientista argumenta que todos os refrigerantes vendidos como naturais são fabricados em grandes plantas químicas. “Em outras palavras, eles são artificiais”, explica Powell, voltando a ressaltar que “eles são produtos químicos sintéticos, não naturais”.
Por essa razão, ele avalia que chamar os refrigerantes fluorados de produtos sintéticos, a fim de contrapô-los com as substâncias chamadas genericamente de naturais, é indiscutivelmente desonesto, principalmente no mundo acadêmico.
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“Tendo em mente que as comunidades científicas e técnicas são frequentemente criticadas por não comunicar claramente seus trabalhos ao público em geral, devemos lembrar que o adjetivo ‘natural’ transmite um significado específico ao público leigo, essencialmente de acordo com a definição do Dicionário Oxford: ‘existente ou derivado da natureza; não feito ou causado pela humanidade’. O termo ‘natural’ também implica para o público em geral que os produtos são intrinsecamente seguros ou, pelo menos, de baixo risco”, diz.
Entretanto, prossegue Powell, quando o assunto é segurança, os refrigerantes “naturais” deixam muito a desejar. “Pelo meu próprio trabalho científico, pude considerar os refrigerantes ‘naturais’ e os que contêm flúor, equilibrando seus méritos técnicos, ambientais e de segurança com as demandas dos usuários finais”, afirma.
“Materiais à base de hidrocarbonetos inflamáveis estão envolvidos na tragédia da London Grenfell Tower em 2017, quando, terrivelmente, 72 pessoas perderam a vida num incêndio que [começou num refrigerador doméstico e] me fez reconsiderar meu próprio trabalho com esses fluidos”, revela.
“Desde Grenfell, minha preocupação com os hidrocarbonetos aumentou, ainda mais depois da decisão da Comissão Eletrotécnica Internacional [IEC, na sigla em inglês] de elevar a carga máxima permitida em pequenas unidades de refrigeração de 150 g para 500 g”, acrescenta.
Ele também destaca que “o dióxido de carbono foi reconhecido como uma substância perigosa por mais de 100 anos pela agência de saúde e segurança do trabalho do Reino Unido”, e que “cerca de 90 mortes por ano ocorrem nos EUA por causa do acúmulo de dióxido de carbono em espaços confinados. O gás não é apenas um asfixiante, mas também um produto químico tóxico que, em altas concentrações, pode causar tremores, confusão e dor”.
“Os instaladores de equipamentos de refrigeração projetados para operar com dióxido de carbono e seus clientes devem reconhecer que são necessárias precauções adequadas para minimizar o risco de um acidente perigoso”, adverte.
Em relação à amônia, o pesquisador menciona que esse outro produto tóxico “é o refrigerante industrial preferido desde a década de 1870 para grandes instalações fabris, especialmente nas indústrias de processamento de alimentos, pistas de gelo e cervejarias”.
“No entanto, apesar de anos de experiência, acidentes fatais ainda ocorrem regularmente. Não devemos esquecer que, à medida que um sistema se torna mais complexo, aumenta a chance de mau funcionamento”, alerta Powell, salientando que as instalações do gênero teriam de, em tese, “ser à prova de falhas”.
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