Para os profissionais da indústria de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração (AVAC-R), a qualidade e eficiência do trabalho desempenhado estão intimamente ligadas à qualidade das ferramentas utilizadas em seu dia a dia.
No entanto, os preços elevados desses utensílios essenciais, muitas vezes importados, representam um desafio imenso para os engenheiros, técnicos e mecânicos do setor.
“As ferramentas proporcionam ao profissional em campo rapidez, produtividade e confiabilidade naquilo que ele está executando, pois tempo é dinheiro, e se o serviço ficar bem-feito e garantido, há menos chance de haver prejuízo com retrabalho.”
É assim que o empresário Sérgio De Leon, diretor de uma das poucas fabricantes locais do setor – a gaúcha ZL Ferramentas –, resume um dos principais atributos dessas aliadas essenciais dos refrigeristas em seus serviços.
Atender essa necessidade, segundo ele, requer de uma indústria como a dele ouvir sempre o profissional e as demandas por ele trazidas. “Nosso nome fantasia, não por acaso, é ZL Soluções”, diz.
“Mas o que a gente vê hoje é muita modinha, muita influência vinda de fora que não condiz com a realidade do trabalho em campo e do próprio Brasil”, constata.
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Como exemplo disso, De Leon aponta o profissional que compra uma bomba de vácuo de última geração, mas não possui sequer um vacuômetro, item essencial para saber se o vácuo foi devidamente realizado no interior de um sistema.
A estratégia da ZL, diante de um quadro dessa ordem, tem sido conciliar preço justo e qualidade, a fim de também minimizar a questão do alto custo das ferramentas utilizadas pelos técnicos do AVAC-R brasileiro.
No seu entender, contudo, o grande calcanhar de Aquiles no setor de ferramentas para refrigeração é o pós-venda, já que a maioria esmagadora dos fabricantes se encontra no exterior, ”e quando vence a garantia legal, fica complicado receber atendimento”, lamenta.
Ao acompanhar o cliente de perto, analisando seus relatos, vídeos e fotos, De Leon afirma ser possível identificar, até mesmo se um eventual problema apontado se encontra na ferramenta ou então no próprio processo de trabalho do profissional.
Lá e cá
Se, por um lado, nem sempre significa bom negócio trabalhar quase que exclusivamente com ferramentas importadas no Brasil, em outros países a situação é bem diferente.
Recém-ingresso da Europa, onde foi pesquisar novidades do AVAC-R, incluindo ferramentas elementares para o dia a dia do refrigerista, Edson Girelli, da paranaense Girelli Refrigeração, enumera os principais motivos que identifica para um cenário tão diferente por onde esteve.
“Nossa profissão é mais regulamentada por lá, o que dificulta a ação de aventureiros”, afirma. “Além disso, o acesso a ferramentas de boa qualidade é mais fácil, visto que o dinheiro lá vale mais”, analisa o lojista.
Já a qualidade dos bons profissionais ele considera equivalente. Na Itália, por exemplo, o engenheiro ressalta uma certa superioridade estética nas instalações, “mas isso não desmerece em nada o profissional brasileiro, que é muito talentoso e habilidoso nos serviços que executa”, reconhece.
Mas cairia muito bem uma diminuição sensível na carga tributária da atividade por aqui, defende Girelli. “Equipamentos para produção não deveriam ser tributados, pois geram empregos, produtos finais e tudo isso ajuda a economia a girar”, justifica.
“Sem falar na questão ambiental, pois você, tendo as ferramentas corretas, o técnico faz um trabalho melhor e os produtos têm maior vida útil após a instalação e o startup”, acrescenta.
Bastidores
A Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) também se diz atenta à alta carga tributária, não só das ferramentas, mas também de outros itens sem os quais o trabalho do técnico se dificulta, podendo até ficar inviável, dependendo do caso.
“O Departamento Nacional (DN) de Empresas de Instalação e Manutenção está identificando, com o apoio do nosso Departamento Jurídico, quais são as ferramentas e equipamentos cujas alíquotas de impostos são mais elevadas e têm maior probabilidade de serem reduzidas”, explica o presidente da entidade, Arnaldo Basile.
No entanto, ele admite que o impacto no valor de aquisição no comércio não será fortemente percebido, “pois estamos falando de eventuais reduções de alíquota de 3% a 8%, talvez até 10%”, acrescenta o líder setorial.
Mesmo assim, Basile chama a atenção para o risco existente quando se vincula reparos bem-feitos e custo do instrumental de trabalho.
“Não somente as ferramentas utilizadas pelos técnicos do setor AVAC-R encareceram, mas todos os segmentos econômicos, mundo afora, vivenciam esse problema, sejam eles grandes geradores de emprego ou não”, pondera Basile.
O presidente da Abrava lembra ainda que a crise econômica brasileira (2015-2018), seguida pela pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, provocou aumentos de custos e desabastecimento de insumos, componentes, acessórios, ferramentas e vários outros itens em escala global.
“Não são apenas os prestadores de serviço que amargam dificuldades, mas sim as empresas em geral”, acentua ele, considerando ainda a necessidade de todos os segmentos e profissionais serem competitivos e fazerem o certo na primeira vez, pré-requisito que se acentuou muito no Brasil na última década, de acordo com o dirigente.