Pródigo em registrar grandes incêndios em equipamentos culturais, o Brasil continuamente faz jus ao título reconhecido internacionalmente de incinerador de sua própria história. Somente nos últimos sete anos, o País viu três importantes espaços virarem cinzas.
Embora não tenha provocado comoção mundial, o fogo que em 21 de dezembro de 2015 – iniciado a partir de um defeito em um holofote – destruiu o Museu da Língua Portuguesa, na região central de São Paulo, já prenunciava futuras tragédias.
E não deu outra. Apenas dois meses depois, em fevereiro de 2016, um incêndio na Cinemateca Brasileira destruiu definitivamente 270 títulos e outras 461 obras, sendo que estas últimas tinham, felizmente, cópia de segurança.
Em julho de 2021, a instituição passou por mais um incidente da mesma espécie, que desta vez atingiu um galpão na Vila Leopoldina, na capital paulista. A perícia concluiu que as chamas começaram depois do uso de um solvente inflamável na limpeza da tubulação do sistema de ar condicionado.
Entremeando os dois desastres no maior centro audiovisual da América do Sul, foi na noite de 2 de setembro de 2018, no Rio de Janeiro, que um incêndio de proporções épicas devastou o Museu Nacional – criado em 1818 por D. João 6º.
Segundo a perícia, as chamas começaram após o sobreaquecimento causado por um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado, em função de instalação elétrica inadequada. Do acervo de 20 milhões de peças, 90% foram perdidas ou severamente danificadas, portanto, um prejuízo incalculável para a ciência mundial.
Como se provou a cada tragédia, incêndios não criminosos geralmente começam com um curto-circuito na rede elétrica, que pode provocar de uma simples fagulha em material inflamável a uma sobrecarga em equipamentos de ar condicionado mal instalados.
Fechado desde 2013, o Museu do Ipiranga – sede do Museu Paulista da Universidade de São Paulo –, situado dentro do complexo do Parque Independência, na capital paulista, está desde então passando por profundas reformas e restaurações, com o objetivo de não se transformar em mais um monte de cinzas.
A reabertura ao público será em 7 de setembro, data da celebração do bicentenário da Independência do Brasil.
Segundo o governo paulista, o valor total do restauro e ampliação do edifício-monumento chegou a R$ 211 milhões e contou com ajuda direta de 29 patrocinadores, repasses do estado e aportes da União, por meio da Lei Rouanet. A obra principal foi 100% concluída pelo governo do estado, por meio da Universidade de São Paulo e da Fundação USP.
Tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal, o prédio, construído entre 1885 e 1890, recebeu tecnologias de ponta nos sistemas elétrico e hidráulico, além de intervenções na infraestrutura, que garantirão um sistema de segurança predial de nível internacional.
O edifício-monumento e o valioso acervo em exposição agora são protegidos contra incêndios por chuveiros automáticos (sprinklers) de alta tecnologia e sistema de detecção precoce de fumaça.
O sistema de sprinklers adotado é do tipo “pré-ação”, uma tecnologia que antevê alarmes falsos, evitando disparos acidentais. Já o sistema de detecção de fumaça utiliza a técnica de aspersão (sucção do ar em intervalos fixos) para constante análise, podendo identificar partículas de resíduos queimados que podem prenunciar um incêndio.
Os sistemas comuns de detecção de fumaça são acionados apenas em caso de muita fumaça, ou seja, após o incêndio ter tomado certa proporção. Mas, com a técnica de aspersão, garante-se a proteção do prédio por meio de um sistema mais efetivo.
Proteção térmica
A revitalização trouxe outros ganhos para o museu, como a implantação de proteção térmica em toda a estrutura do prédio. A parte elétrica foi integralmente reformada e envolvida em manta cerâmica, material capaz de reter altas temperaturas, normalmente utilizado em portas corta-fogo.
As estruturas metálicas foram revestidas com pintura intumescente, que preserva a resistência ao fogo das peças em caso de temperatura elevada. O telhado e as coberturas ganharam camadas de proteção que garantem conforto térmico aos usuários e proteção ao acervo nos pavimentos superiores.
Além disso, os sistemas hidráulicos e de captação pluvial passaram por modernização, para que não haja qualquer possibilidade de contato com o sistema elétrico – causa de muitos incêndios. Na parte expandida da construção, optou-se por materiais pouco inflamáveis ou resistentes ao fogo, como concreto aparente e gesso.
- Obra-prima da engenharia tem ar-condicionado duplamente premiado
- Gambiarra elétrica causou incêndio no Museu Nacional, confirma PF
- Tubo flexível dispensa cobre e reduz tempo de instalação de split
As tecnologias de prevenção contra incêndios estão integradas a um sistema inteligente de gerenciamento predial, otimizando processos de segurança, manutenção do prédio e conservação do acervo.
O sistema controla os equipamentos anti-incêndio, iluminação, ar-condicionado, câmeras de segurança, elevadores e escadas rolantes. Todo esse aparato está ligado a dois geradores abastecidos a gás natural, não poluentes e com baixa emissão de ruído. Caso ocorra a falta de energia na edificação, esses geradores garantirão o funcionamento de toda a instalação sem limite de tempo.
As novas tecnologias também incluem vidros de baixa transmitância, que retêm o calor dos raios solares, garantindo conforto térmico por todo prédio e melhor conservação do acervo. A iluminação é controlada ponto a ponto via sistema de automação, com lâmpadas LED, que economizam energia e emitem menos calor.
Outra opção ecológica escolhida foi a instalação de um sistema híbrido para a circulação de ar, que inclui aparelhos de ar condicionado apenas na expansão do edifício, iniciativa que preserva a integridade da construção histórica.
“Muitas instituições culturais estão repensando o uso de ar condicionado em seus espaços, devido ao alto custo de manutenção e de consumo de energia, além de possíveis patologias ao edifício e ao acervo”, diz a liderança da restauração.
Impermeabilização
Considerada uma parte fundamental da obra de reforma do Museu do Ipiranga, a impermeabilização do concreto aparente de colunas e superfícies ficou a cargo da construtora Concrejato, por meio de produtos fornecidos pela ConcreteSeal do Brasil, representante e distribuidora exclusiva para a América Latina da linha mundial da Evercrete.
A empresa usou dois produtos da empresa norte-americana em nove mil metros quadrados – para cada produto – nas áreas interna e externa do complexo – lajes, fundações, colunas e em tudo o que tiver sido feito de concreto armado.
Com dez anos de garantia, um dos produtos protege e bloqueia superfícies contra infiltração de água, poluição, ataques químicos e salinos. “Sua formulação mantém a cor e textura da superfície íntegra, sem manchas, mofo, algas, entre outros intrusos”, afirma o empresário Walter Campos Júnior, CEO da ConcretSeal do Brasil.
Dotado de alto poder de penetração por capilaridade no concreto, o outro produto, com 50 anos de garantia, limita a difusão de água (umidade) e oxigênio na estrutura, protegendo e reduzindo a deterioração da corrosão das armaduras por ataques de cloretos.
“Fabricada a partir de monocomponente à base-água, não tóxica, inodora, transparente e ambientalmente correta, essa solução penetra por capilaridade no concreto, ‘selando’ os microporos, bloqueando ação da carbonatação, conservando as armações internas”, explica.
Além do Museu do Ipiranga, o executivo salienta que os produtos da marca está presente nas obras do novo pavilhão do Centro de Pesquisas do Albert Einstein, em São Paulo; do Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, também na capital; e do AGE 360, que, com seus 132,72 metros, se tornará o segundo edifício mais alto de Curitiba (PR), além de outros empreendimentos no País.