O acidente que em 29 de agosto vitimou o mecânico Rodrigo Roa Alvares, de 37 anos, durante o serviço de manutenção em uma misturadora de hambúrguer em uma unidade da JBS Seara Alimentos, na cidade de Dourados (MS), chamou a atenção do setor do frio pelo motivo da tragédia.
Com mais de dez anos de experiência no ramo, o profissional se desequilibrou enquanto gravava um vídeo para comprovar o término do trabalho. A fim de melhorar a qualidade da filmagem, subiu em uma plataforma, mas acabou escorregando e caindo dentro da máquina.
À polícia, um ajudante que trabalhava com a vítima contou que o equipamento estava sem a trava de segurança, mas não soube informar em qual momento este componente foi retirado.
Embora até onde se saiba o vídeo que Rodrigo gravava não era para ser postado em uma rede social, mas para provar ao contratante o término do trabalho, o acidente também serviu de alerta para técnicos e instaladores do HVAC-R.
Isto porque é cada vez maior o número de profissionais com páginas no Facebook e canais no YouTube, com o objetivo de difundir seu trabalho e dar dicas aos demais colegas sobre determinado serviço – até com passo a passo.
O sucesso nas redes sociais despertou a atenção de muitas empresas do setor, que passaram a patrocinar esses canais. Tal movimento levou alguns desses novos youtubers a investir no aprimoramento do conteúdo divulgado, possibilitando o aumento do número de assinantes e a consequente monetização do espaço.
Normas de segurança
Para o diretor-secretário do Sindratar-SP e coordenador do Comitê de Normas Regulatórias da Abrava, Paulo Américo dos Reis, a falta de atenção a determinados procedimentos de segurança para a captação de uma boa imagem para as redes sociais pode levar a todo tipo de acidente, entre os quais queimaduras por calor e frio, choques elétricos, explosões, inalação de produtos químicos, quedas e perda de visão, audição e de membros.
“Esse é um problema do ser humano e, principalmente, do cidadão brasileiro, por falta de cultura de cidadania e respeito. Houve falta de conhecimento sobre as normas regulamentadoras, que definem os cuidados e procedimentos de segurança em qualquer atividade. No caso em questão, deixou de observar a NR 35”, argumenta.
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A Norma Regulamentadora 35 – parte de um rol de 37 NRs – estabelece os requisitos mínimos de proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução.
Paulo Américo defende o expediente de técnicos e instaladores de filmar e divulgar vídeos em redes sociais, desde que feito com critério e obedecendo às regras de segurança e às boas práticas da engenharia, com vistas a evitar acidentes.
“Essa é a forma de disseminar os procedimentos corretos para evitar, por exemplo, o aparecimento do chamado ‘Zé Faísca’, aquela pessoa curiosa que leu sobre algo em algum lugar e se mete a fazer serviços de instalações elétricas. Quando não se acidenta, ele deixa rastros de um possível acidente futuro. E no nosso setor, é muito grande a quantidade de pseudossábios profissionais”, afirma.
O engenheiro conta que tem o costume de assistir aos vídeos postados principalmente no YouTube e, quando necessário, participa interagindo com mensagens para alertar os técnicos sobre qualquer coisa negativa que possa ter visto. Entretanto, confessa já ter se decepcionado muito.
“Houve um vídeo que trazia uma imagem altamente preocupante, fiz uma pergunta sobre isso na área de mensagens, mas não houve qualquer retorno por quem produziu o vídeo. Somente alguns colegas concordaram com a minha preocupação, e isso me deixou muito chateado. Qualquer postagem precisa ser cuidadosa e, se houver equívoco, esse profissional precisa corrigi-lo imediatamente”, alerta.