
Assinado em 2016 na cidade africana de Kigali, capital de Ruanda, este acordo internacional acrescentou ao Protocolo de Montreal, firmado 29 anos antes, a necessidade da redução gradual do uso de Hidrofluorcarbonos (HFCs).
Embora esses fluidos refrigerantes não degradem a Camada de Ozônio, contribuem para o aquecimento global, caso sejam lançados ao meio ambiente, fenômeno cientificamente associado aos impactos climáticos hoje tão preocupantes no Brasil e no mundo.
Toda essa trajetória, bem como as bases da nova jornada que agora começa, foram objeto de um dia e meio de imersão no tema em São Paulo.
Na segunda (16) o foco esteve na comemoração dos 37 anos do Protocolo de Montreal e os avanços obtidos pelo Programa Brasileiro de Substituição dos HCFCs, que já se encontra em sua Etapa 2.
No dia seguinte, o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas lançou oficialmente o Programa de Implementação da Emenda de Kigali – KIP, numa imersão em período integral reunindo os atores estratégicos para que se repita o êxito obtido até aqui pelo PBH.
Tópicos básicos
Ao falar na abertura do encontro em nome da ABRAVA, o gerente Sênior de Vendas das Américas da Chemours, Renato Cesquini, ressaltou que aquela entidade, que representa o AVAC-R brasileiro, vai dar todo o suporte ao governo, bem como às agências implementadoras, para que a nova empreitada seja exitosa, a exemplo das regulamentações anteriores.
O desejo de todos no setor para que o sucesso dessa implementação de Kigali se concretize ele considerou evidente a partir da presença maciça no evento dos principais entes da iniciativa privada e dos órgãos públicos imprescindíveis ao novo projeto.
”Ao mesmo tempo, esse momento vai permitir a adoção de novas tecnologias, trazendo ao mercado equipamentos mais modernos, seguros e com maior eficiência energética, hoje já proporcionada por muitos dos fluidos refrigerantes de nova geração, quando comparados aos HCFCs e HFCs”, frisou.

Igualmente importante, segundo Cesquini, é o fato de tais produtos já estarem disponíveis no mercado brasileiro. ”E, quando não, se originam de empresas com plataforma global que, muito facilmente, podem trazer seus portfólios para o Brasil, mantendo nossas indústrias muito bem assessoradas ”.
O terceiro tópico destacado por ele foi a área de treinamento e capacitação que, além de mobilizar técnicos em refrigeração e ar-condicionado, deve alcançar todos os envolvidos, ou seja, donos de supermercados, gerentes de shopping centers, engenheiros etc. ”Todos precisam estar cientes do que está acontecendo para poder fazer a melhor escolha”, explicou.
”Esses novos fluidos apresentam características muito desafiadoras. Por isso reforço que a capacitação é extremamente importante, pois nós vamos nos deparar com produtos inflamáveis, tóxicos, e com pressões de trabalho mais elevadas, o que exige um rigor muito maior no controle de processos e equipamentos, e isso tudo demanda, realmente, profissionais capacitados”, acrescentou.
Oportunidades
Em meio à importância da questão ambiental e aos desafios que substituir os HFCs representa, Renato considera igualmente significativas as oportunidades e benefícios gerados pela implementação da Emenda de Kigali no Brasil.
A primeira delas, no entender do executivo, é a própria mitigação do Efeito Estufa. ”Dado o sucesso de programas anteriores, eu tenho certeza de que este será executado de forma muito apropriada e atingirá todas as metas traçadas. ”O Brasil precisa desse protagonismo,esse é o momento certo para figurarmos entre os países que já avançaram nas regulamentações”, afirmou.
A segunda oportunidade trazida por tudo isso abrange a expansão da economia circular e o crescimento econômico, por meio de mais emprego e renda, assim como o fortalecimento de parcerias, ao longo das duas décadas de trabalho que o país terá pela frente.
Outra oportunidade são os investimentos necessários ao longo dos próximos vinte anos, sendo em parte alavancados por recursos internacionais que favoreceram muito as empresas e o próprio país, no que tange ao atingimento de resultados.
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“Tais investimentos estendem-se ao capital humano, dada a necessidade de upgrade intelectual, porque todos precisarão estar em um nível mais elevado de capacitação nesta nova etapa da mitigação dos gases de efeito estufa”.
Outro ponto relevante destacado por Cesquini é a necessidade de reciclagem e regeneração, aspecto que ele considera extremamente importante, tendo em vista que o parque instalado, dentro de 10,15 anos, será muito grande, a exemplo do que já ocorre nos Estados Unidos, Japão e Europa.
Por fim, as oportunidades incluem a imparcialidade que, novamente, deve prevalecer. ”O evento de hoje é uma clara demonstração de que será tudo trabalhado a muitas mãos para que o melhor resultado seja alcançado, e de forma justa para todos os segmentos da nossa cadeia produtiva”.
Engajamento
”O Plano de Implementação da Emenda de Kigali será estratégico para que tenhamos um entendimento mais claro de como se encontra o consumo de HFCs no país, e qual estratégia deverá ser traçada para que se atinja a redução máxima de 80% até 2045”, analisa Lucas Fugita, Especialista em Serviços Técnicos, Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da Chemours.

Foto: Letícia Benetti
A grande expectativa, segundo ele, é que o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, juntamente com o Ibama e as agências implementadoras do KIP, adote uma política de regulamentação possibilitando o atendimento das metas de redução de HFC, mas que seja viável, tanto tecnicamente quanto do ponto de vista econômico.
”Obter esse equilíbrio requer a colaboração entre os fabricantes do setor, instituições de ensino e governamentais, empresas de comércio e serviços mas principalmente, do cliente final, muitas vezes ainda alheio a toda essa questão”, acrescenta.
Um claro sinal de bom começo nessa direção foi o engajamento demonstrado pelo setor nesta primeira reunião. ”Participaram fabricantes de sistemas de refrigeração e ar-condicionado, fornecedores de componentes, fluidos refrigerantes, escolas técnicas, entidades como Abrava, Eletros e Abras”, exemplifica.
Também significa um trunfo importante para o sucesso dessa nova fase a experiência acumulada por todos esses players durante o PBH, ”pois isso certamente irá facilitar nas reduções dos HFCs e na assimilação de novas tecnologias”, opina Lucas, apontando como bom precedente a ser seguido a forma como fabricantes de equipamentos na Europa e nos EUA adaptaram seus portfólios à Emenda de Kigali.
HFOs
A busca pelo substituto ideal aos HFCs, há anos tão arraigados em inúmeras aplicações do AVAC-R local, já terminou para Fred Wilson, da Gás Eco Sustentabilidade, um dos empresários presentes ao lançamento do KIP.

Foto: Letícia Benetti
Com 37 anos de experiência na área e vários testes já realizados para saber qual fluido usar nos projetos executados por sua empresa, localizada em Valinhos (SP), ele considera os HFOs da linha Opteon, da Chemours, ideais para este novo momento.
”Essas Hidrofluorefinas passaram a ser a opção em todas as nossas obras, no lugar do R-22 em chillers, e do R-404A, no caso dos racks de refrigeração”, informa Fred.
Segundo ele, trata-se da solução mais adequada para os equipamentos que compõem o parque instalado do HVAC-R no Brasil, pelo fato de possuir um GWP significativamente menor em relação a alguns HFCs.
”Além disso, os HFOs apresentam excelente absorção de calor, o que pode gerar uma eficiência energética, em média, entre 9% e 14% maior, sem falar na segurança dos instaladores e técnicos, igualmente superior, pois parte destes fluidos refrigerantes para retrofit não são inflamáveis”, conclui.