O papel emergente dos fluidos frigoríficos mais eficientes e de baixo potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) em aplicações de refrigeração e ar condicionado tem sido assunto cada vez mais frequente nas conversas entre profissionais de campo e especialistas do setor.
Isso ficou bem nítido durante a 10ª Semana Tecnológica de Refrigeração e Climatização, seminário técnico promovido na Escola Senai Oscar Rodrigues Alves, na zona sul de São Paulo, entre 5 e 8 de outubro.
Globalmente, à medida que os hidrofluorcarbonos (HFCs) vêm dando lugar a alternativas de menor impacto ambiental, os refrigerantes à base de hidrofluorolefinas (HFOs) se despontam entre as principais opções para o segmento, conforme destacaram em suas palestras os engenheiros Lucas Fugita, especialista de serviços técnicos e desenvolvimento de mercado na Chemours, e Amaral Gurgel, consultor da indústria química americana no Brasil.
Criados há três décadas, os HFCs vêm sendo usados com sucesso em processos de refrigeração, ar condicionado e expansão de espumas no lugar de compostos que degradam a camada de ozônio, como os clorofluorcarbonos (CFCs), que já foram banidos mundialmente pelo Protocolo de Montreal.
“Apesar de toda sua notória utilidade, o fato é que os HFCs são gases de efeito estufa; por isso, deverão ser reduzidos em mais de 80% nos próximos 30 anos”, disse Fugita, lembrando que, com a redução substancial exigida pela Emenda de Kigali, a civilização tem a oportunidade de evitar até 0,5 °C de aumento na temperatura média da Terra até 2100.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a implementação global do pacto climático evitará o lançamento de até 80 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) equivalente na atmosfera até 2050.
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Na expectativa de fornecer soluções mais sustentáveis para o mercado, a Chemours investiu mais de US$ 1 bilhão em sua linha de fluorquímicos de quarta geração, tendo a hidrofluorolefina (HFO) R-1234yf como molécula-mãe.
Segundo a companhia, esses produtos, que integram seu portfólio Opteon, possibilitam uma transição bem-sucedida no setor, tanto em instalações frigoríficas novas quanto nas existentes.
“Temos sido firmes em nosso apoio à redução gradual dos HFCs, o que resulta no desenvolvimento de soluções para ajudar toda a indústria nesse processo, tanto do ponto de vista técnico como em termos econômicos e ambientais”, declarou o especialista.
“As HFOs já provaram ser alternativas operacionalmente seguras e sustentáveis para racks de compressores, chillers, bombas de calor e sistemas automotivos, entre outros equipamentos do gênero.”
“Nos EUA, nove em cada dez carros utilizam em seus sistemas de ar condicionado o fluido refrigerante R-1234yf em vez do HFC R-134a, totalizando mais de 80 milhões de veículos”, exemplificou.
“Trata-se de uma solução largamente adotada também na União Europeia, onde a legislação ambiental é bem restritiva em relação aos fluorquímicos de alto GWP”, emendou.
Fugita ainda ressaltou que, por essa razão, milhares de supermercados europeus vêm investindo em retrofits e novos equipamentos compatíveis com HFOs. “Muitos varejistas brasileiros também seguem nessa mesma direção”, informou.
“Notadamente, instalações com HFOs têm despertado o interesse de clientes que buscam cumprir leis ambientais e/ou compromissos de ESG estabelecidos para descarbonizar suas operações, por meio da redução de emissões oriundas de vazamentos (diretas) e do consumo de energia (indiretas)”, afirmou.
“Geralmente, as emissões indiretas de carbono são responsáveis por 80% das emissões totais dos sistemas de refrigeração e ar condicionado”, acrescentou.
Cenário brasileiro
Com a iminente adesão do Brasil à Emenda de Kigali, cujo texto já foi promulgado pelo Senado, o País deverá congelar o consumo de HFCs em 2024, reduzi-lo em 10% até 2029 e atingir redução de 85% até 2045.
“Esse cenário vai acelerar a adoção do fluido refrigerante Opteon XP40 (R-449A) e de outros produtos à base de HFOs. Além de supermercados, já temos centros de distribuição utilizando o XP40, que apresenta GWP 67% menor do que o HFC R-404A e pode ser usado também na substituição do HCFC R-22 em sistemas de refrigeração comercial”, avaliou Amaral Gurgel.
“A conversão de equipamentos com R-404A e R-22 pode ser feita a qualquer momento e de forma muito rápida, sem interromper as operações dos clientes”, completou.
E os benefícios do Opteon XP40 também se aplicam a novas instalações. “Fabricantes de racks têm projetado e instalado centrais frigoríficas com R-449A em várias regiões brasileiras”, lembrou.
“Esse período de mudanças extraordinárias no setor oferece uma grande oportunidade para os proprietários desses sistemas fazerem investimentos que permitam cumprir requisitos ambientais de longo prazo, reduzindo custos e emissões diretas e indiretas de carbono ao mesmo tempo”, frisou.
“Ao estabelecer medidas para lidarmos com as mudanças climáticas, a Emenda de Kigali eleva o compromisso da nossa indústria com a saúde do planeta, contribuindo decisivamente para a qualidade de vida das futuras gerações”, salientou.