A ideia de resfriar artificialmente o planeta para conter as mudanças climáticas – na verdade, bloquear a luz do sol antes que ela aqueça a atmosfera – ganhou um impulso na quinta-feira (25), quando um influente órgão científico pediu ao governo dos EUA que gaste pelo menos US$ 100 milhões para pesquisar a tecnologia, informa uma reportagem do The New York Times.
Essa tecnologia, conhecida como geoengenharia solar, envolve refletir mais da energia do sol de volta para o espaço por meio de técnicas que incluem a injeção de aerossóis na atmosfera.
Em um novo relatório, as Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina (Nasem, na sigla em inglês) disseram que os governos precisam saber urgentemente se a geoengenharia solar pode funcionar e quais podem ser os efeitos colaterais.
“A geoengenharia solar não é um substituto para a descarbonização”, alertou Chris Field, diretor do Instituto Woods para o Meio Ambiente da Universidade de Stanford e chefe do comitê que produziu o relatório, referindo-se à necessidade de lançar menos dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera.
Ainda assim, a tecnologia para refletir a luz solar “merece um financiamento substancial e deve ser pesquisada o mais rápida e eficazmente possível”, acrescentou.
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O relatório reconheceu os riscos que tornaram a geoengenharia uma das questões mais controversas da política climática.
Esses riscos incluem perturbar os padrões climáticos regionais de maneiras potencialmente devastadoras, por exemplo, mudando o comportamento das monções no sul da Ásia; relaxar a pressão pública para reduzir as emissões de gases de efeito estufa; e até mesmo a criação de um “risco inaceitável de aquecimento catastroficamente rápido” se os governos começassem a refletir a luz do sol por um período de tempo e depois parassem.
Contudo, os autores argumentam que as emissões de gases de efeito estufa não estão caindo de forma suficientemente rápida para evitar níveis perigosos de aquecimento global, o que significa que o mundo deve começar a examinar outras opções.
Jennie Stephens, diretora da Escola de Políticas Públicas e Assuntos Urbanos da Northeastern University, disse que a pesquisa em geoengenharia consome dinheiro e atenção do problema central, que é cortar emissões e ajudar comunidades vulneráveis a lidar com as perturbações climáticas que já estão acontecendo.
“Precisamos nos dobrar em relação a mudanças transformadoras maiores”, disse Stephens. “É aí que o investimento precisa estar”, avaliou.
A geoengenharia solar tem apoio bipartidário no Congresso, que no final de 2019 deu à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) US$ 4 milhões para pesquisar a tecnologia.