Responsável por cuidar de todos os detalhes do funcionamento dos sistemas de refrigeração, o refrigerista tem, no dia 7 de julho, a data celebrada pelo mercado em sua homenagem.
Essencial para o HVAC-R, este profissional tem sido cada vez mais valorizado e reconhecido por empresas e consumidores, elevando, ano após ano, a qualidade do atendimento ao cliente.
Em comemoração à data, o Blog do Frio tem a honra de prestar uma homenagem a um dos mais importantes refrigeristas brasileiros.
Trata-se de Geraldo Custódio da Silva, fundador da revenda Polipartes, falecido no Rio de Janeiro no último dia 7 de junho, aos 76 anos, vítima de parada cardíaca.
Cego desde os 14 anos – nunca se soube a causa da enfermidade, embora a desconfiança sempre tenha recaído sobre um raro tipo de catarata –, este mineiro de Manhumirim descobriu a profissão, por acaso, quando ganhou uma lavadora de roupas usada defeituosa.
Curioso e incansável, desmontou e remontou a máquina cinco vezes até descobrir o defeito. Foi à loja, comprou as peças e colocou o equipamento para funcionar, facilitando a vida da esposa, Teresa, então grávida do filho Eduardo, e com quem foi casado por 46 anos.
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Os vizinhos viram toda aquela determinação e começaram a pedir para ele consertar outros eletrodomésticos, como ferro elétrico, batedeira, aspirador de pó, mas foi quando ele se deparou com um aparelho de ar condicionado que a relação dele com esses equipamentos atingiu outro patamar.
Geraldo aprendeu os principais macetes indo às lojas e conversando com outros técnicos e balconistas. Continuou a consertar geladeiras, freezers, secadoras e todos os aparelhos que os moradores das redondezas levavam. E a partir daí não parou mais.
Refrigerista qualificado
Em 1974, Geraldo Custódio concluiu o curso de mecânico em refrigeradores e lavadoras Brastemp. Antes, porém, havia estudado eletricidade no Instituto Benjamin Constant, onde também desenvolveu a paixão pelo radioamadorismo.
Sem a visão, desenvolveu os outros sentidos para o trabalho. “Basicamente pelo olfato, quando encontrava defeitos na parte elétrica; pela audição, quando detectava defeitos da parte mecânica por causa de ruídos característicos; e pelo tato, uma incrível maneira pela qual percebia os problemas”, descreve o filho Eduardo, hoje diretor geral da Polipartes.
O sucesso foi tão grande e rápido que Geraldo se tornou técnico em linha branca, refrigeração e climatização, montou uma oficina nos fundos de casa e, numa dessas ideias geniais criou um cartão de visita adesivado e à prova d’água, que colava nos aparelhos que consertava.
Assim, se o cliente precisasse dele novamente, os contatos estariam no aparelho. Se entregasse na mão o cliente provavelmente perderia o cartão, acreditava.
Atento aos detalhes e consciente que a indústria da época ainda tinha muito por evoluir, acabou colaborando diretamente para isso, ao criar, por exemplo, a chave da porca do cesto, ferramenta mais usada no Brasil para a retirada da “porca do bloco do cesto”, peça da lavadora de roupas Brastemp de modelo antigo, comercializada até hoje no mercado.
As habilidades de Geraldo possibilitaram também a identificação de um problema crônico no chicote de fios das lavadoras. Incomodado com o volume de defeitos nessa peça, o refrigerista acabou fabricando o seu próprio chicote, com fio mais grosso, capaz de suportar a fadiga provocada pelo movimento da máquina.
“Meu pai mostrou a uma loja no Rio e o dono encomendou algumas peças. Começava aí uma escala do produto. Essa história terminou com uma fábrica produzindo milhares de peças por mês, com entregas em todo o Brasil”, conta Eduardo.
Segundo ele, depois de muitos anos trabalhando na fábrica de chicotes, os planos econômicos e a concorrência produzindo chicotes com qualidade inferior inviabilizaram a atividade e Geraldo começou a comercializar, no atacado, um mix maior de peças para equilibrar as vendas.
Nascia, então, a Polipartes, varejista fundada juntamente com o filho Eduardo e o irmão Eli Oliveira da Silva. “Ele decidiu ir para o varejo, onde conseguia falar com os técnicos, avaliar a qualidade dos produtos, falar com os fornecedores sobre a qualidade, funcionalidade dos produtos. Estava realizado com o varejo e se apaixonou”, enfatiza o diretor geral da empresa.
Mesmo sem enxergar, o refrigerista que conquistou o Brasil sempre será lembrado pela determinação com que trabalhava, deixando como legado, para os filhos Eduardo e Elaine, o precioso ensinamento de valores que conduzirão a família para sempre.
Se a vida do homem é uma eterna busca por conhecer a si mesmo, no dia 25 de junho, pouco mais de duas semanas após seu passamento, Geraldo fez jus a este pensamento, quando teve suas cinzas jogadas na Praia Vermelha, no tradicional bairro da Urca, zona sul do Rio, onde tudo começou.