O desenvolvimento da refrigeração na África é crítico em um continente onde as pessoas estão morrendo de fome e doenças devido à falta de uma cadeia do frio básica.
Essa foi a mensagem central do U-3ARC, grupo que representa empresas do setor de todos os 54 países africanos, apresentada na 20ª Conferência Europeia de Refrigeração, Ar Condicionado e Bombas de Calor (RACHP), realizada na semana passada em Milão, na Itália.
Durante o encontro, a entidade destacou a extensão dos desafios enfrentados pela região em uma indústria global que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa e alcançar a sustentabilidade.
Dentre os desafios estão a falta de infraestrutura energética, alto custo das tecnologias, infraestrutura insuficiente de transporte, falta de conscientização e treinamento, falta de regulamentação e ausência de financiamento.
Essas dificuldades se tornaram ainda mais evidentes durante a pandemia de covid-19, quando apenas 22 dos 54 países africanos tinham uma cadeia do frio funcional para armazenar vacinas que necessitam ser mantidas entre 2 °C e 8 °C. “Isso nem é a metade [das nações] e, na minha opinião, as vidas africanas merecem os mesmos direitos que qualquer outra vida no mundo”, disse Said El Harch, secretário-geral da U-3ARC.
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A falta de uma cadeia do frio adequada também prejudica a capacidade da África de fornecer alimentos frescos e de boa qualidade para a população.
Segundo Madi Sakandé, presidente da U-3ARC, 70% dos alimentos produzidos na África são perdidos devido à falta de refrigeração adequada, o que contribui para a alta dos preços. “As pessoas estão morrendo de fome na África simplesmente por causa da falta de uma cadeia de frio”, afirmou Sakandé.
A situação é especialmente preocupante na África subsaariana, onde muitos países ainda não possuem uma cadeia do frio desenvolvida ou nem menos semidesenvolvida. Além disso, a refrigeração é considerada um luxo, ao invés de uma necessidade, sendo fortemente taxada em vários países.
A falta de conscientização e treinamento promove práticas inadequadas e permanece outro grande desafio para o desenvolvimento de uma boa cadeia do frio, levando ao armazenamento de produtos em temperaturas incorretas, ou padrões de higiene inadequados.
A segurança é outra questão preocupação alarmante. Após numerosos relatos de acidentes com fluidos refrigerantes inflamáveis, a U-3ARC pediu uma paralisação na introdução de tecnologias usando substâncias A3 e A2L até que os técnicos na África fossem adequadamente treinados.
A U-3ARC, no entanto, mantém-se otimista e acredita que é possível superar esses obstáculos. O grupo apela por colaboração entre governos, empresas, organizações internacionais e sociedade civil para investir em infraestrutura, promover o uso de tecnologias apropriadas, educar e treinar profissionais da indústria do frio, desenvolver e aplicar regulamentações adequadas e mobilizar os recursos financeiros necessários.
A situação, enfim, expõe a necessidade de um compromisso global para abordar as desigualdades no desenvolvimento de infraestruturas de refrigeração, com o objetivo final de melhorar a segurança alimentar e a saúde pública em toda a África.