Previsto para ocorrer a partir de 2024, o congelamento das importações de hidrofluorcarbonos (HFCs) deve acentuar a importância dos procedimentos de reciclagem e regeneração de fluidos refrigerantes no mercado brasileiro de refrigeração e ar condicionado.
Com a iminente ratificação da Emenda de Kigali, o País ainda terá de reduzir o uso dessas substâncias em 10% até 2029 e atingir redução de 85% até 2045.
“Usar refrigerante reciclado ou regenerado é uma forma de economizar dinheiro e proteger o clima”, conforme salientou o professor Sérgio Eugênio da Silva em duas palestras ministradas neste mês – em Três Lagoas (MS) e Santarém (PA) – durante a Expedição Transamazônica, road trip educativa organizada pelo centro técnico automotivo paulistano Super Ar.
Segundo o docente, que percorreu mais de seis mil quilômetros durante 15 dias, a urgente necessidade de reduzir emissões de gases de efeito estufa no setor também tem estimulado a adoção de fluidos refrigerantes mais sustentáveis, entre os quais substâncias puras e misturas classificadas pela Ashrae como levemente inflamáveis (A2L).
“Uma delas é o Opteon YF, uma hidrofluorolefina (HFO) fornecida pela Chemours que vem sendo largamente adotada no lugar do R-134a nos países desenvolvidos”, disse o engenheiro, lembrando que “as montadoras instaladas por aqui também deverão migrar para o R-1234yf nos próximos anos”.
“Há um número crescente de novos refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) com propriedades semelhantes às dos HFCs tradicionais sendo colocados no mercado atualmente”, disse.
Segundo ele, o baixo impacto climático será crucial para que os fluidos frigoríficos atendam a exigências ambientais cada vez mais rigorosas em todo o planeta. Outra questão relevante abordada foram as diretrizes de segurança.
- EUA ratificam pacto climático para conter uso de HFCs
- Chemours consolida ações rumo à neutralidade climática
- Eficiência dos ares-condicionados precisa aumentar 50% até 2030
“O efeito de ignição dos refrigerantes A2L é baixo quando os comparamos com os hidrocarbonetos (HCs), como o propano (R-290) e o isobutano (R-600a), e eles ainda são difíceis de inflamar”, esclareceu.
“Apesar disso, qualificação e equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados são indispensáveis. Ademais, é preciso que componentes com fontes de ignição sejam evitados e ventilação apropriada seja fornecida quando necessário durante a manipulação desses compostos”, alertou.
Controle de emissões
Outra boa prática destacada pelo especialista em ambas as apresentações foi o controle de fugas de refrigerantes em sistemas de automóveis, trens, caminhões, ônibus e tratores. “Vazamentos devem ser identificados e reparados antes da recarga de refrigerante nas manutenções”, reforçou.
“Afinal de contas, cada molécula de R-134a lançada na atmosfera equivale a 1,3 mil moléculas de dióxido de carbono”, informou o professor, ao ressaltar que “não é novidade que as emissões de gases de efeito estufa são o grande vilão das mudanças climáticas”.
“Mas muita gente não sabe que os fluidos frigoríficos são um dos grandes responsáveis por esse fenômeno, razão pela qual eles devem ser devidamente recolhidos, reciclados ou regenerados após manutenções e outras ações corretivas”, afirmou.
“O refrigerante regenerado é frequentemente confundido com o reciclado. Eles parecem apresentar semelhanças, mas, na realidade, são muito diferentes. Um refrigerante regenerado corretamente, por exemplo, possui a mesma qualidade do refrigerante virgem, patamar que o produto reciclado não atinge”, esclareceu.
“Como a reciclagem apenas passa o refrigerante recolhido por um processo básico de limpeza, geralmente significa que não há análise ou garantia de qualidade associada ao produto em termos de especificação ou pureza”, acrescentou Sérgio Eugênio, advertindo que “se todos os contaminantes não forem totalmente removidos por meio do processo de reciclagem, o refrigerante reciclado pode causar danos se introduzido em outros sistemas”.
“Se uma mistura for devolvida a um sistema junto com qualquer contaminante não removido – óleo ou umidade, por exemplo –, ela pode não funcionar da mesma maneira que o produto virgem ou regenerado, correndo também o risco de causar problemas operacionais no sistema e afetar sua eficiência”, ressaltou.
Plantando a semente da união
A expedição educativa sobre a Emenda de Kigali promovida pela oficina e escola profissionalizante paulista entre 5 e 20 de setembro contou com patrocínio de grandes empresas do segmento – ACA, Bergstrom, Chemours, Globus, Mastercool, Paccini, Quimital, Rodofrio, SterBox e Texa – e apoio institucional da Doutor IE, Conforlab e Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
A caravana tecnológica também contou com suporte promocional de lojistas do Mato Grosso do Sul e Pará – Brutus e 8PK, respectivamente.
Há 17 anos no segmento, o técnico sul-mato-grossense Reginaldo Porfírio Pereira, que atua há sete anos como distribuidor de equipamentos, peças, insumos e ferramentas de climatização e refrigeração automotiva, espera que o setor se una cada vez mais em seu estado.
“Com esse evento aqui em Três Lagoas, estamos ajudando a plantar a semente da união entre a nossa classe. Aqui temos serviço o ano todo, ou seja, nosso segmento não para. Mas, infelizmente, 80% das empresas da região acham que qualificar funcionário é criar concorrente”, declarou o fundador da Brutus, salientando que tem “lutado incessantemente pela valorização da categoria” no Centro-Oeste brasileiro.
Já na região Norte do País, quem vem realizando trabalho semelhante entre os mecânicos são os empresários Paulo Henrique Baccon e Kelson Felipe Prata, sócios na 8PK. “Para nós, é um privilégio imenso receber a Expedição do Clima aqui no Pará”, disse Baccon.
Apesar da distância dos grandes centros urbanos do País, Prata também lembra que o ramo de ar condicionado automotivo na região é um mercado sem sazonalidade. “Atendemos oficinas e consumidores finais o ano inteiro”, acrescentou o empresário, referindo-se ao calor escaldante que faz no bioma amazônico.
Antes de retornar do oeste paraense para a capital paulista, a equipe da road trip da Super Ar passou por Altamira, onde o professor Sérgio Eugênio ministrou curso de boas práticas para os colaboradores da oficina Júnior Ar Condicionado.
“Cumprimos com sucesso nossa missão de disseminar novas tecnologias e boas práticas entre os profissionais do ramo de climatização e refrigeração automotiva em duas regiões de alta demanda, mas carentes em termos de treinamentos, cursos e palestras”, avaliou o docente.
Comments 1