
Curitiba, conhecida por muitos como a “capital do frio”, não é só famosa por seu clima e pela grande quantidade de indústrias do setor estabelecidas em sua região metropolitana, mas também por ser o berço da Escola Técnica Profissional (ETP), instituição que vem, há 25 anos, transformando a vida de centenas de alunos todos os anos e revolucionando o mercado de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração (AVAC-R) no Brasil.
A gestora comercial Márcia Santos, diretora administrativa da escola paranaense, relembra com brilho nos olhos sua origem modesta. Com apenas quatro alunos e algumas poucas cadeiras, o sonho começou numa pequena sala alugada de 50 metros quadrados, onde apenas alguns cursos livres eram oferecidos.
A inspiração veio do professor Alexandre Fernandes, então estudante de engenharia mecânica nos idos de 1998 e hoje doutor na área, que via no setor uma grande uma lacuna relacionada à necessidade de formação de qualidade.
Sobre as origens da escola, particularmente, Alexandre compartilha uma história pessoal de gratidão e determinação. Desde os 12 anos de idade, ele já trabalhava na indústria de ar condicionado e, ao longo do tempo, passou a buscar uma forma de retribuir o que aprendeu em campo sem competir diretamente com seus mentores. “A solução foi fundar a ETP”, lembra.
Embora tenha enfrentado diversas adversidades em seu início – desde desafios financeiros até a resistência de profissionais já estabelecidos –, o casal Márcia e Alexandre permaneceu resiliente, acreditando na importância da educação profissional.
Hoje, a ETP ocupa uma ampla e moderna sede própria, com mais de 1,3 mil metros quadrados repletos de laboratórios e salas de aula, além de manter uma instituição de ensino superior fundada em 2013, a Faculdade Profissional (Fapro), que atualmente também oferece cursos de pós-graduação.
Ao falar das conquistas, Márcia destaca a evolução da oferta educacional. Começando com cursos profissionalizantes, a escola, depois de cinco anos de trabalho árduo, obteve a validação do Ministério da Educação (MEC) para oferecer seu curso técnico, uma verdadeira transformação na formação profissional. “Afinal de contas, a educação muda perspectivas, muda as pessoas”, enfatiza.
Esse salto, no entanto, também não veio sem desafios, pois ofertar um curso do gênero exige a aprovação de um órgão regulador, e muitos na área inicialmente resistiram à ideia, segundo Márcia.
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“Mas a visão e a persistência da ETP transformaram a resistência em reconhecimento, e muitos alunos vieram a entender a importância da formação técnica para suas carreiras”, diz.
Segundo a executiva, a ETP também se destaca por seu compromisso com a atualização constante. Mantendo uma relação estreita com fabricantes e outras empresas do setor, a escola se posiciona não apenas como um local de aprendizado, mas como um espaço de troca de experiências, onde novidades são introduzidas e o contato direto entre alunos e mercado de trabalho é fomentado cotidianamente.
O sucesso disso é evidente. Ao longo dos anos, a ETP produziu incontáveis histórias inspiradoras – desde alunos que tiveram seu primeiro contato com a refrigeração na instituição e saíram com contratos de trabalho até aqueles que avançaram para carreiras em engenharia ou como mestres, doutores e empresários.
Nos próximos anos, a ETP tem planos de continuar a liderar o setor, mantendo-se atualizada com as mudanças tecnológicas e adaptando-se às demandas crescentes na área da refrigeração, climatização e eficiência energética.
Como exemplo, Márcia e Alexandre citam a consolidação da parceria firmada recentemente com a Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ, em alemão), visando a promoção de cursos e treinamentos para engenheiros, técnicos e mecânicos sobre o uso de dióxido de carbono (R-744) e propano (R-290) em sistemas de refrigeração comercial.
A instalação de um moderno laboratório em formato de supermercado de pequeno porte na instituição de ensino faz parte do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
O objetivo do projeto é reduzir o consumo do fluido refrigerante R-22 no varejo de alimentos e bebidas e, ao mesmo tempo, promover o uso seguro e eficiente de alternativas com zero potencial de destruição da camada de ozônio (ODP, na sigla em inglês) e baixo potencial de aquecimento global (GWP).
“O foco do nosso laboratório é a qualificação profissional e a segurança, a fim de garantir que os refrigeristas estejam equipados com o conhecimento e as ferramentas certas para atuar em campo”, reforça Alexandre.
Outro audacioso passo planejado pela ETP é transformar a Fapro numa instituição de pesquisa, sonho que já começa a sair do papel. “No momento, estamos buscando parceiros públicos e privados, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para fomentar a produção de ciência em nosso campus”, antecipa o docente.

Ensino a distância
Um grande desafio enfrentado pela ETP e Fapro nos últimos anos foi a pandemia de covid-19. Em resposta à emergência sanitária, ambas tiveram de adaptar rapidamente a sua metodologia de ensino presencial para o mundo on-line, atendendo a uma demanda imprevista.
“Tivemos de aprender a ser uma instituição de ensino novamente”, conta Márcia, ao destacar os esforços para criar um ambiente virtual de aprendizagem eficaz.
Tanto a ETP quanto a Fapro, hoje, abraçam um modelo híbrido de ensino, no qual os alunos têm a flexibilidade de estudar remotamente e revisitar as aulas quando necessário.
“Isso gerou uma melhoria significativa na qualidade de vida dos nossos alunos, que não precisam mais fazer com frequência longos deslocamentos após um cansativo dia de trabalho para estudar. Todos passaram a aprender mais e ficaram muito felizes com isso”, comenta.

Equidade de gênero
Num setor ainda dominado por homens, mulheres como Márcia, que também é técnica em refrigeração e ar condicionado, enfrentam inúmeros desafios diários. Mas a ETP se esforça para mudar esse cenário, incentivando a formação de mão de obra feminina e reconhecendo suas capacidades e competências.
“Muitos lares são sustentados por mulheres. Precisamos chamar essas mulheres e oferecer-lhes formação técnica de qualidade, para que elas possam melhorar suas vidas e as de seus filhos”, diz Márcia, sublinhando a urgência de promover a equidade de gênero no setor.
“As mulheres compõem mais da metade da população brasileira. Por isso, ter representatividade de gênero na indústria e nas instituições de ensino e pesquisa pode garantir que as necessidades e preferências de todos os fabricantes, empreiteiros e clientes finais sejam consideradas no dia a dia”, acrescenta.

Eficiência em foco
Cada vez mais, a indústria de refrigeração e ar condicionado demanda soluções sustentáveis e otimizadas para o uso de recursos. É nessa perspectiva que a ETP e a Fapro têm se destacado, ao priorizar a formação em eficiência energética.
“Como educadores, temos a responsabilidade de transmitir aos nossos alunos a importância e os benefícios disso. Nesse cenário, o AVAC-R pode ser um dos pilares dessa mudança global em direção a um consumo mais responsável de energia”, avalia Alexandre.
“Investir em tecnologias de refrigeração e ar condicionado eficientes é olhar para o presente e o futuro ao mesmo tempo. Enquanto economizamos energia, também estamos prolongando a vida útil de nossos equipamentos e contribuindo para um planeta mais sustentável”, completa.
Enfim, em um período em que a formação técnica é mais valorizada do que nunca, a história de resiliência e inovação da ETP serve de inspiração para instituições educacionais em todo o Brasil, independentemente de seu porte.
A determinação e a visão de seus fundadores ressoam como um testemunho do poder da educação de transformar vidas. E assim, enquanto a ETP comemora seu 25º aniversário, ela promete iluminar o caminho da educação técnica e profissionalizante no Brasil por muitos e muitos anos.