Vacinas e muitos outros medicamentos contêm proteínas que sofrem degradação e se tornam inutilizáveis a temperaturas ambientes, o que significa que estes produtos precisam ser refrigerados durante seu transporte e armazenamento.
Perdas ocasionadas por quebras na cadeia do frio são um sério problema de saúde global, em particular para os programas de vacinação infantil em massa nos países em desenvolvimento. A armazenagem inadequada resulta na perda de milhões de doses de vacinas todo ano.
Mas uma equipe da Universidade de Bath, em parceria com colegas da Universidade de Newcastle, criou uma técnica que pode manter as proteínas intactas a altas temperaturas até um limite de 100 °C, ao revesti-las com proteções de sílica, composto químico atóxico e inerte encontrado na areia.
Assim que uma proteína é revestida com sílica, ela pode ser armazenada e transportada sem refrigeração antes que sua camada de proteção possa ser removida quimicamente, mantendo a substância ilesa.
A descoberta significa que as vacinas e outros medicamentos importantes poderão ser transportados com muito mais facilidade, economia e segurança, especialmente para áreas ou lugares distantes que não possuem infraestrutura, onde a necessidade é, com frequência, mais urgente.
Ensilicamento
As equipes chamam este novo método de ensilicamento (ensilication, em inglês), e esperam que ele solucione a necessidade não prática e cara de uma cadeia de frio oferecendo proteção rigorosa para produtos à base de proteínas, como vacinas, anticorpos e enzimas.
A pesquisa foi publicada no periódico Scientific Reports. “Uma vez que as proteínas da vacina se degradam e se emaranham, não há o que fazer. Você pode compará-las com um ovo que foi cozido – não é possível reverter o processo”, disse a responsável pelo projeto, Asel Sartbaeva, do Departamento de Química da Universidade de Bath.
Para a pesquisadora, a habilidade de armazenar e transportar proteínas a temperaturas ambientes ou até mais quentes pode acabar com um grande problema logístico para entregar vacinas e outros medicamentos com segurança a pacientes mundo afora.
“Nós demonstramos que, com este novo processo, podemos simplesmente evitar que as proteínas se degradem até mesmo em temperaturas maiores que 100 °C, ou armazená-las em pó por no máximo três anos em temperaturas ambientes sem perda da função”, ressaltou.
“Estamos muito animados com as potenciais aplicações deste processo. Nossos próximos passos serão testar nossa descoberta em mais vacinas, anticorpos, medicamentos antivirais, soros contra venenos e outros biofármacos”, completou.
Vantagens do novo método
Quando uma proteína em solução é misturada com sílica, o dióxido de silício se atrela à proteína, assumindo sua forma e rapidamente desenvolvendo várias camadas de revestimento.
A maior vantagem deste método é que, ao contrário de técnicas similares, ele não requer desidratação a frio, um processo por meio do qual cerca de metade de todas vacinas não sobrevivem.
O resultado final é um pó de proteínas revestidas de sílica, e a proteção de sílica permite à proteína ser aquecida até 100 °C ou armazenada a 22 °C por pelo menos seis meses sem perda de função.
A equipe de pesquisa testou o método em três proteínas: uma proveniente da vacina contra tétano, uma originária da hemoglobina do cavalo e uma enzima da clara do ovo.
A pesquisa recebeu financiamento da The Royal Society, da organização Annet Trust e de dois ex-alunos da Universidade de Bath, segundo as informações divulgadas pela instituição de ensino.