O currículo dessa engenheira mecânica certamente lhe permite uma visão privilegiada das barreiras enfrentadas pela mulher que resolva abraçar uma profissão onde os homens ainda sejam maioria.
Doutora e mestre em sua área, ela reconhece o muito que suas colegas hoje se esforçam para capacitar-se, buscando assim ampliar sua inserção em mercados de trabalho predominantemente masculinos, como ainda é o HVAC-R.
É que existe, segundo ela, um certo bloqueio por parte dos próprios empregadores, principalmente em se tratando de vagas relacionadas a instalação e manutenção em campo, motivado pelo receio de processos judiciais, inclusive decorrentes de assédio.
“Em nossa instituição tal realidade inexiste, pois há equilíbrio entre o número de homens e mulheres. Mas recebemos informações frequentes de alunas que chegam a mudar de área após formadas, frente à dificuldade de trabalhar”, constata a ex-aluna do próprio IFBA.
Segundo ela, esse quadro se verifica não apenas em refrigeração e ar condicionado, mas – e até mesmo com maior intensidade – em setores como eletrotécnica e engenharia mecânica, o que afirma representar uma grande perda para as próprias empresas.
“Com esse comportamento, elas abrem mão de qualidades inerentes ao gênero femenino, dentre os quais poder de organização, resposta rápida, perfil multitarefas, resiliência e, consequentemente, a capacidade de lidar com as mais diversas problemáticas”, exemplifica.
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“Ao mesmo tempo, esses empresários desprezam reiteradas pesquisas demonstrando que a diversidade no ambiente laboral é fonte recorrente de melhores resultados”, acrescenta a estudiosa.
Trabalho colaborativo
Questão recorrente em grupos do HVAC-R preocupados com a equidade de gênero no setor, as possíveis estratégias para reverter o quadro atual neste campo também são objeto de discussões no IFBA.
Algo expressivo, sem dúvida, pois essa centenária instituição de ensino possui 24 unidades espalhadas pela Bahia, totalizando 30 mil alunos, uma sexta parte deles no campus Salvador, dirigido por Luanda.
“Sentimos a necessidade de um trabalho colaborativo junto às empresas em torno desse problema cultural. Só mesmo a partir de um processo educativo poderemos vencer essa barreira, um trabalho de formiguinha”, reconhece.
A iniciativa, no seu entender, se completaria com o papel de cada escola comprometendo-se com o tema e contando, claro, com o devido incentivo de políticas governamentais.
Um aspecto animador nesse sentido, aliás, ela afirma ter presenciado em São Paulo, durante reunião coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), em setembro último.
Naquele encontro foram apresentados os próximos passos do Programa Brasileiro voltado a substituir o uso de fluidos refrigerantes agressivos à Camada de Ozônio (HCFCs) e impactantes no Aquecimento Global (HFCs).
“Ali foi dito que a inserção da mulher nos segmentos de refrigeração e ar-condicionado faz parte das ações a serem promovidas ao longo das próximas etapas do PBH e isso, certamente, somará bastante aos esforços já realizados até aqui pelo HVAC-R nesta mesma direção”, comemora.