As atividades humanas, notadamente as emissões de dióxido de carbono (CO₂), já causaram cerca de 1,1 °C de aquecimento global desde meados do século 19.
Devido a esse fato, o mundo não pode mais evitar algumas das piores consequências da mudança do clima, como ondas de frio e calor, além de secas e chuvas, mais intensas e frequentes.
Ultimamente, muitas das mudanças observadas no clima do planeta não têm precedentes em milhares, quando não em centenas de milhares, de anos.
É o que aponta o Sexto Relatório de Avaliação (AR6, na sigla em inglês) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os cientistas advertem que, caso não haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa (GEE), será impossível limitar o aquecimento global em cerca de 1,5 °C, ou até mesmo 2 °C, nos próximos 20 anos.
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Publicado na semana passada, o abrangente documento está “embasado na análise criteriosa e científica de mais de 14 mil estudos”, conforme pontua o professor de direito e juiz federal Gabriel Wedy, em artigo postado ontem (14) no site Consultor Jurídico.
“Sem qualquer dúvida, é o resumo mais claro e criterioso sobre a ciência das mudanças do clima elaborado até o momento”, avalia.
Ao contrário dos cinco relatórios anteriores, “este elimina toda e qualquer dúvida sobre quem ou o que é responsável pelo aquecimento global”, destaca.
Emissões de gases fluorados
Para o professor Sérgio Eugênio da Silva, presidente do departamento de climatização automotiva da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), “infelizmente, as conclusões gerais do AR6 não permitem uma leitura muito otimista sobre nosso futuro”.
O especialista lembra que os vazamentos de gases halogenados de sistemas de climatização e refrigeração residenciais, comerciais, industriais e automotivos, entre os quais o hidrofluorcabono (HFC) R-134a, também ajudam a aquecer o planeta.
“Quando liberado na atmosfera, o fluido refrigerante R-134a, por exemplo, gera um impacto climático 1,3 mil vezes maior que o CO₂”, compara.
O engenheiro mecânico calcula que “o Brasil tem cerca de 50 milhões de veículos leves, ônibus e caminhões circulando com essa substância”.
“Ademais, temos milhares de supermercados e sistemas de transporte refrigerado operando com o HFC R-404A, um GEE cujo potencial de aquecimento global (GWP) é quatro mil vezes maior que o do CO₂”, informa.
“É por essas e outras razões que nossa indústria pode e deve contribuir diretamente para mitigar os efeitos da crise climática que já estamos vivendo, por meio da adoção de fluidos refrigerantes mais ambientalmente corretos e de boas práticas relacionadas à instalação, operação e manutenção de sistemas de climatização e refrigeração, a fim de evitar vazamentos e também poupar energia”, ressalta.
“Apesar de alarmante, o próprio AR6 destaca que reduções fortes e sustentadas das emissões de CO₂ e de outros GEE limitariam as mudanças climáticas”, acrescenta.
Conforme esclarece o relatório científico, embora os benefícios para a qualidade do ar venham a surgir rapidamente, pode levar de 20 a 30 anos para que as temperaturas globais se estabilizem.
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