“Fala, turminha da refrigeração!”. Não se trata de grito de guerra; pelo contrário. Esta é a chamada pacífica, simpática e sorridente com a qual a pequena Júlia Guimarães, de apenas 8 anos – sempre que possível acompanhada pela irmã Yasmin, de 12 – aparece numa série de vídeos que tem repercutido de forma crescente na internet.
Do outro lado do smartphone, o pai da dupla de apresentadoras mirins não disfarça o orgulho, pois esperava apenas dar vazão à forma espontânea como a filha mais nova acompanhava seu trabalho na oficina, localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP), aprendendo rapidamente as dicas por ele transmitidas – quase que como quem está pensando alto – sem qualquer pretensão especial.
“Carreguei um refrigerador, fiz um nó paulista [de caminhoneiro] no final do serviço e a Júlia aprendeu direitinho”, explica Alan Guimarães, ao recordar como tudo começou. Ele se lembra também como ela se acostumou rapidinho com nomes mais complicados de ferramentas, caso do manifold, por exemplo.
Na verdade, não foi propriamente uma surpresa para a família de uma criança que, com um ano e sete meses, comentava os games com os quais brincava, como se estivesse na TV.
Daí para sair contando coisas do HVAC-R foi um pulo, mesmo com o pai tomando o máximo cuidado para não expor a desembaraçada garotinha a críticas duras, que talvez chegassem se os destinatários das mensagens fossem consumidores finais, e não seus próprios colegas refrigeristas.
“O pessoal tem recebido a ideia muito bem, considerando a importância geral dos assuntos abordados e o jeitinho especial das meninas, sem se prender a certos detalhes mais técnicos”, diz ele, ao falar sobre os 15 vídeos gravados de junho até aqui – utilizando um canal que já existia, mas estava ocioso.
Desde então, a duplinha boa de câmara e microfone já recebeu cerca de 10 mil curtidas nas redes sociais e pelo menos 10% desse total dando origem a comentários, “todos respondidos um a um”, ressalta Alan.
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Os temas responsáveis por tal audiência incluem até alguns bem polêmicos da área, como a cobrança ou não de visitas; os altos preços atuais dos fluidos refrigerantes e algumas tiradas que agradaram bastante.
Uma delas foi a frase: “é para pensar, não para falar”, repetiu graciosamente Júlia, em referência àquele cliente chato, que fica o tempo todo em cima do serviço e não valoriza o trabalho do profissional, “mas que não pode ser maltratado pelo técnico por causa desse comportamento”, ressalta o profissional.
Mímicas simulando atividades típicas do setor para serem adivinhadas; importância de ficar sempre de sobreaviso para reparar câmaras frias e uma homenagem especial no Dia dos Pais são outros destaques já veiculados pelo canal, cujo sucesso também tem sido notável entre a ala feminina do setor.
As felicitações aos aniversariantes, em atendimento a pedidos que chegam de todas as regiões do país, também vem agradando bastante o Turminha da Refrigeração, cujos próximos passos, segundo Alan, devem incluir a organização de visitas monitoradas – com a ajuda de entidades e empresas –, para mostrar a profissão ao público mais jovem.
Apesar de todo o entusiasmo que Alan não consegue disfarçar com o desempenho de Júlia e sua irmã Yasmin, ele a esposa se mantém com os pés no chão, pois não querem que as meninas queimem parte da infância ao desenvolver uma atividade com a qual ninguém na família sequer suspeitava.
“A pequena vem para a oficina com as suas bonecas, brinca bastante aqui, e sempre falo para as duas sobre a importância de estudar bastante enquanto ajudam, com essa nossa modesta iniciativa, a fazer com que a criançada e a população em geral valorizem cada vez mais o refrigerista, uma profissão nobre, que merece todo carinho, ainda mais com o aquecimento global que já está aí”, conclui este pai repleto de motivos para ser coruja.