O Brasil acaba de superar a marca de 29 gigawatts (GW) de capacidade instalada em energia solar fotovoltaica, segundo dados da associação nacional do setor, a Absolar.
O número representa 13,1% da matriz energética brasileira e engloba as grandes usinas e sistemas de autogeração instalados em telhados, fachadas e terrenos menores.
No ano passado, em um avanço histórico para a energia renovável, o Brasil alcançou a oitava posição no ranking global dos maiores geradores de fotoeletricidade, subindo cinco posições na lista em relação a 2021.
“No ritmo em que o setor está crescendo, podemos chegar à sexta posição até o fim do ano”, conforme avalia o professor Ricardo Rüther, do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“A energia solar já ultrapassou a biomassa, o biogás e as usinas eólicas em termos de produção no País”, lembra.
“Hoje, temos mais do que duas hidrelétricas de Itaipu em capacidade de geração solar instalada”, compara o especialista, ressaltando o papel crucial das placas fotovoltaicas na transição para uma matriz energética mais sustentável.
Desde 2012, a fonte fotovoltaica evitou a emissão de 36,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na geração de eletricidade, trouxe ao Brasil cerca de R$ 144 bilhões em novos investimentos e gerou mais de 800 mil empregos acumulados, informa a Absolar.
Só no ano passado, segundo a entidade, o setor solar brasileiro atraiu mais de R$ 45,7 bilhões, um aumento substancial de 64% em comparação com o 2021.
De acordo com o presidente do conselho de administração da Absolar, Ronaldo Koloszuk, “o Brasil possui um dos melhores recursos solares do planeta, o que abre uma enorme possibilidade para a produção do hidrogênio verde mais barato do mundo e o desenvolvimento de novas tecnologias sinérgicas, como o armazenamento de energia e os veículos elétricos”.
União promissora
Com o avanço tecnológico e a redução nos custos de instalação, a energia solar também se tornou uma alternativa altamente viável para a cadeia do frio economizar energia e descarbonizar suas operações.
“De maneira individual, essas duas tecnologias já desempenham papéis fundamentais na vida cotidiana e na economia global. Mas, quando combinadas, elas têm o potencial de trazer benefícios ainda maiores. Portanto, essa união é cada vez mais vital e complementar”, diz o engenheiro mecânico Amaral Gurgel, consultor da área de fluidos refrigerantes da Chemours e diretor da L. Monte Refrigeração.
“Além de reduzir o consumo de energia e as emissões de gases de efeito estufa, essa combinação pode trazer diversos benefícios econômicos para supermercados, atacarejos, armazéns frigoríficos, lojas de conveniência e outros empreendimentos”, reforça.
Como exemplo, o especialista cita o recente caso de sucesso da Jampac Alimentos, que instalou 600 painéis fotovoltaicos em seu novo centro de distribuição na cidade de Itatiba, a 82 quilômetros de São Paulo, num prédio inaugurado em janeiro.
O sistema de geração distribuída, capaz de abastecer até 250 residências, supre com folga toda a necessidade do edifício, onde há quatro racks de compressores, três grandes câmaras frias e uma antecâmara, além de escritório comercial e espaço para armazenagem de produtos não refrigerados.
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“A adoção de tecnologias sustentáveis tem colocado a empresa em destaque no mercado de distribuição de alimentos”, comemora o diretor-geral da companhia paulista, Cláudio César Pessotto.
“Afinal de contas, cada vez mais clientes buscam fornecedores que se preocupam não só com a qualidade dos produtos, mas também com a preservação do meio ambiente”, acrescenta.
Referência no varejo de alimentos congelados, a rede de açougues Swift já conta com cem lojas com painéis solares fotovoltaicos instalados nos telhados. A iniciativa, segundo a companhia, faz parte da sua estratágia para que, até 2025, 100% de seus estabelecimentos de rua sejam abastecidos por fontes renováveis de energia.
Ao todo, já foram instalados 4.801 painéis solares sobre os telhados das lojas, ocupando uma área de 20 mil metros quadrados. Juntos, os sistemas somam uma capacidade instalada de 2,3 MW e, em 2022, eles produziram um milhão de quilowatts-hora (kWh), evitando a emissão de 643,251 toneladas de CO2, segundo a empresa do grupo JBS.
No setor de transporte refrigerado, a DHL Supply Chain instalou placas solares superfinas em 16 caminhões frigoríficos da transportadora Polar no ano passado. Com os bons resultados, a companhia estuda levar o sistema para grande parte da frota da empresa especializada em logística farmacêutica.
“Nesse projeto, temos o ‘casamento’ da necessidade de reduzir custos e emissões com uma tecnologia economicamente viável e que se adaptou bem à realidade brasileira”, afirma o vice-presidente de saúde da multinacional no País, Marcos Cerqueira, destacando que a DHL “tem a meta de zerar suas emissões até 2050 e, para isso, estamos utilizando diversas soluções”.
Entre elas, estão o uso de veículos elétricos (ou movidos a combustíveis alternativos) e bicicletas para entregas urbanas, um centro de distribuição com usina solar na cobertura, que gera quase toda a energia que é consumida no local, e a utilização de equipamentos elétricos nos armazéns, como paleteiras e transpaleteiras, além de painéis solares para recargas dos veículos eletrificados.