Em uma aldeia afegã, terroristas jogam ácido nos rostos das meninas, envenenam a água e lançam granadas em salas de aula para impedi-las de ir à escola. Em um escritório dos EUA, algumas mulheres estão sofrendo em função do frio produzido pelo sistema de ar condicionado.
Para as feministas radicais do primeiro mundo, ambos os casos têm importância equivalente, especialmente no calor escaldante do verão, conforme destaca reportagem publicada pelo site do NewsBusters, projeto de um grupo de direita que busca monitorar, documentar, expor e neutralizar o discurso da mídia norte-americana de esquerda.
Dias atrás, a jornalista Taylor Lorenz, da revista Atlantic, publicou em sua conta no Twitter que o ar-condicionado nos ambientes de trabalho é “insalubre, ruim, miserável e sexista”, chamando a atenção para um movimento feminista contra os aparelhos de climatização mais comuns do mundo.
Uma invenção tecnológica que permite às pessoas aguentarem climas sufocantes é agora “um motor do patriarcado”, segundo a ativista.
Em um tuíte posterior, Lorenz incorporou o link de um artigo escrito por Olga Khazan, outra colaboradora da Atlantic, que afirmava que as temperaturas baixas dos escritórios prejudicam a produtividade das mulheres, agravando a “batalha do termostato”.
Khazan citou uma pesquisa na qual se constatou que as mulheres têm taxas metabólicas mais lentas e que, além disso, a fórmula usada para definir temperaturas nos locais de trabalho, desenvolvida décadas atrás com base no conforto dos homens, pode superestimar a produção de calor corporal das mulheres em 35%.
Enfim, o estudo descobriu o que muitas pessoas já sabem: as mulheres preferem, geralmente, temperaturas mais altas, e os homens preferem temperaturas mais baixas. E quando alguém se sente desconfortável com a temperatura, o desempenho no trabalho, assim como nos estudos, é pior.
Para os empregadores, essas constatações significam que, ao insistir na organização do espaço corporativo em salas geladas, eles não estão apenas deixando parte de sua mão de obra infeliz, mas também sacrificando sua produtividade.
A saga sobre se o “ar-condicionado é sexista ou machista” não é nova. Há anos, a crítica é relembrada pela imprensa. Em julho de 2015, o jornal The Washington Post publicou um artigo alegando que “o ar-condicionado é outra grande conspiração sexista”.
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A suposta armação recebeu apoio dos veículos internacionais CNN, The Telegraph, The New Republic, Today, The New Yorker, The Cut, Vox, The New York Times e Jezabel. E a lista não termina aí, não.
A teoria ressurgiu no verão seguinte, em 2016, quando a revista Time publicou um artigo que afirmava que “o ar-condicionado comercial padrão é realmente sexista”.
Outro artigo da Australian Broadcasting Company (ABC) vinculou o ar-condicionado machista ao “teto de vidro”, expressão que se refere às barreiras na hierarquia de uma empresa nas quais “as mulheres são menos propensas a serem promovidas, independentemente de suas qualificações”.
A teoria da conspiração gerou repercussão novamente no ano passado, quando Cynthia Nixon, do The New York Times, chamou o frio sintético dos sistemas de ar condicionado de “notoriamente machista”.
Ironicamente, o artigo do The New York Times anexado ao tuíte original de Lorenz apresentou argumentos contraditórios na guerra contra o ar-condicionado.
O artigo observou que muitos escritórios ajustam seus termostatos entre 23 ºC e 24 ºC, mas as diferenças entre a “temperatura perfeita” dos sexos são mínimas. Segundo o artigo, alguns estudos sugerem que os homens são mais felizes a 21ºC, enquanto as mulheres preferem apenas 1,5 ºC acima disso.
De fato, de acordo com um estudo do Centro de Ambiente Sustentável da Universidade da Califórnia, em Berkeley, o conforto térmico tem muito menos a ver com o gênero e muito mais com a idade, nível de atividade, peso, altura e até riqueza relativa.
David Lehrer, pesquisador de Berkeley, descobriu que as pessoas em países com Produto Interno Bruto (PIB) mais baixo ficam mais à vontade em uma gama mais ampla de temperaturas – um lembrete de que o ar-condicionado é um luxo de primeiro mundo.
Talvez as pessoas mais privilegiadas da Terra não sejam apenas homens brancos heterossexuais, mas sim as pessoas que podem se dar ao luxo de comprar ou reclamar de um ar-condicionado, conclui o artigo publicado pelo NewsBusters.