Em cima do palco, diante de uma lousa, flip ou projeção, quem dá o pontapé inicial nessa relação tão importante para o sucesso de uma carreira é gente como Amaral Gurgel, profissional que acaba de comemorar 45 anos na área, mais da metade dedicada à parceria mantida até hoje com Chemours e Danfoss, verdadeiras referências em suas especialidades, das quais é consultor.
Após algumas contas, juntos concluímos que foram mais de 26 mil pessoas treinadas por ele desde então, em boa parte do Brasil e países vizinhos, todos participantes de uma atividade na qual Gurgel se esmera para manter atrativa e regada a bom-humor, e onde dificilmente alguém tem motivos para cochilar.
Toda essa maratona sempre visou o progresso profissional dessas plateias, cujo aprendizado vai além do treinamento em si, pois é notória no HVAC-R a disposição para a troca de experiências e dicas entre os colegas.
“Aqui no Brasil o aspecto colaborativo é muito forte, as pessoas não ficam no cada um por si, como é frequente ocorrer na Europa e nos Estados Unidos”, diz o especialista.
Na sua avaliação, somos privilegiados por possuir um “caldeirão cultural”, repleto de descobertas compartilhadas dia e noite em mais de 200 grupos de WhatsApp e vários outros nas demais redes sociais, “um intercâmbio não apenas de informações, mas também de boas energias”, comemora.
Chega a ser um vício do bem, segundo Gurgel, essa prática de compartilhar erros e acertos, que, além de beneficiar os técnicos em refrigeração e ar condicionado, auxilia as indústrias, ao diminuir sensivelmente os índices de retorno para reparo.
Um estado de espírito que vem a calhar, considerando-se o perfil típico da categoria na atualidade, algo que o consultor define como “mais conectada do que nunca”, percepção proporcionada pelo fato de atuar em segmentos altamente estratégicos em seus treinamentos: fluidos refrigerantes e os principais componentes para refrigeração e ar condicionado.
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“Principalmente neste pós-pandemia, o pessoal tomou um susto e viu também que, se não tivesse uma qualificação adequada, começaria a cair fora do mercado”, analisa.
No entender de Gurgel, isso se deve ao fato de o setor estar muito ligado às áreas de automação e mecatrônica, o que torna insuficiente na atividade substituir peças, componentes ou apenas eliminar vazamentos.
“Desde o refrigerador mais comum até o complexo sistema de frio de um hipermercado tem, hoje, uma automação embarcada muito grande, com variador de frequência, válvula de expansão eletrônica e fluidos refrigerantes de baixo impacto ambiental”, explica.
Por essas e outras, ele recomenda aos técnicos focar no que mais gostam e se especializar naquilo, confessando-se especialmente satisfeito quando vê um aluno sabendo até mesmo mais que ele próprio. “O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre”, conclui Amaral, relembrando frase imortalizada pelo filósofo grego Aristóteles.
Carreira
Aos 59 anos de idade, Amaral Gurgel começou sua bem-sucedida trajetória no HVAC-R em 1977, após concluir o curso de aprendizagem industrial então ministrado pelo Senai, onde um dia ele acabaria retornando, dessa vez para lecionar.
Mas naquele instante o ponto crucial para o caçula de uma família com quatro irmãos e uma irmã seria decidir por ferramentaria ou refrigeração, escolha que teve grande participação de sua mãe, uma dona de casa visionária, partidária da segunda opção, pois assim o filho poderia um dia trabalhar por conta.
Na Brastemp, onde Gurgel dava seus primeiros passos profissionais, receberia o empurrãozinho extra que faltava para seguir tal caminho, ao ouvir do profissional da área de assistência social, com todas as letras: “Mãe tem sempre razão, rapaz”.
Naquela oportunidade, mais do que nunca, pois se dona Dulce fosse favorável à ferramentaria, colocaria o filho numa área que pouco evoluiu e, praticamente, extinguiu a profissão de torneiro ferramenteiro, face ao surgimento das máquinas CNC, ao passo que o HVAC-R não parou de precisar, cada vez mais, de mão de obra bem preparada.
Assim seria a chegada de Amaral à Escola Senai Oscar Rodrigues Alves, no bairro paulistano do Ipiranga, onde concluiu o curso de técnico em refrigeração e ar condicionado, formando-se na sequência em tecnologia pela Fatec.
Em 1994, após fechar um negócio próprio diante da crise causada pelo chamado Plano Collor, foi admitido pela então Dupont – hoje Chemours – para atuar na área de retrofit, e praticamente ao mesmo tempo pela Danfoss, uma dupla de peso do setor que constitui a base de todo esse trabalho educativo realizado por Amaral Gurgel, já a caminho dos 25 anos.
“Eu não vou me aposentar nunca”, costuma dizer à esposa, na qualidade de alguém que se sente realizado, sem qualquer sinal de cansaço, “ao sempre aprender mais e passar mais informação para toda essa galera que busca adquirir conhecimentos”, conclui entusiasmado, como se estivesse apenas começando.