A busca por soluções mais sustentáveis e menos prejudiciais ao meio ambiente tem sido uma preocupação crescente no mundo todo, inclusive na indústria de refrigeração e ar condicionado, na qual os refrigerantes “naturais” passaram a ser vendidos como uma solução ecologicamente correta nos últimos anos.
No entanto, essas alternativas podem representar uma ilusão e ocultar problemas ambientais preocupantes, segundo Jordan Smith, diretor executivo do Fórum Global de Tecnologias Climáticas Avançadas (GlobalFact), um laboratório de ideias ligado aos principais fabricantes de fluorquímicos do mundo.
“De fato, dióxido de carbono, amônia, propano e isobutano são substâncias químicas que ocorrem em baixas concentrações na natureza. Contudo, para que possam ser utilizadas como refrigerantes, elas precisam passar por diversos processos químicos industriais intensivos em energia. Isso já nos mostra que a denominação ‘natural’ não é tecnicamente correta e esconde o fato de que sua produção gera emissões de carbono e contribui para o aquecimento global”, diz.
“A fabricação dos chamados ‘fluidos naturais’ geralmente começa com a mineração de carvão ou a extração de gás natural por fraturamento hidráulico, processos que por si só já causam danos significativos ao meio ambiente”, lembra.
De acordo com o especialista, o consumo de energia também pode se tornar um problema para proprietários de instalações com dióxido de carbono, por exemplo.
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“Sistemas de refrigeração que utilizam CO₂ como refrigerante podem consumir até 20% mais energia do que sistemas convencionais. Isso significa que, embora tenha um potencial de aquecimento global [GWP, na sigla em inglês] mais baixo em relação à maioria dos compostos fluorados, a substância contribui para as emissões indiretas de gases de efeito estufa”, explica.
Além das emissões indiretas, alguns dos refrigerantes “naturais” também apresentam problemas de emissões diretas. “Vazamentos e eventos não planejados podem lançar esses fluidos diretamente na atmosfera, contribuindo para o aumento das concentrações de CO₂. O impacto dessas liberações dura séculos, devido ao longo tempo de vida do CO₂”, alerta.
“Propano e isobutano são altamente inflamáveis e classificados como compostos orgânicos muito voláteis, capazes de criar ozônio no nível do solo e contribuir para a formação de smog. E a amônia, além de tóxica, é também um poluente preocupante, pois suas moléculas se combinam facilmente com outros compostos, resultando em céus enevoados e poluição de rios e córregos”, afirma.
Para Smith, “é fundamental repensar a abordagem sobre esses refrigerantes e buscar soluções verdadeiramente sustentáveis, em vez de cairmos na armadilha do greenwashing, uma estratégia de marketing usada para criar uma imagem ambientalmente responsável de produtos, serviços ou práticas comerciais”.
“Afinal de contas, longe de serem uma solução sustentável, essas substâncias podem, na verdade, acelerar e agravar danos ao meio ambiente”, reforça.