O número de aparelhos de refrigeração e ar condicionado deve quadruplicar – de 3,6 bilhões para 14 bilhões – nos próximos 30 anos, estima um relatório da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, salientando que a crescente demanda por equipamentos do gênero pode fazer com que o consumo mundial de energia seja cinco vezes maior até 2050.
Este novo estudo, intitulado A Cool World – Defining the Energy Conundrum (Um Mundo Fresco – Resolvendo o Dilema Energético, em tradução livre), tem a intenção de fornecer, pela primeira vez, uma indicação da escala das implicações energéticas de um cenário chamado de Refrigeração para Todos (Cooling for All, em inglês) pelos pesquisadores.
“Como sabemos, a refrigeração eficaz é essencial para preservar alimentos e remédios. Ela sustenta a indústria e o crescimento econômico, e é fundamental para a urbanização sustentável, além de fornecer uma via de escape da pobreza rural”, destaca o comunicado distribuído à imprensa.
Uma vez que áreas consideráveis do planeta devem sofrer aumentos de temperatura além do que o ser humano pode suportar, os sistemas de refrigeração e climatização tornarão o mundo cada vez mais tolerável – ou até seguro – para se viver.
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“Milhões de pessoas morrem todos os anos por falta de acesso a tecnologias de refrigeração, seja por perdas de alimentos, vacinas estragadas ou impacto do calor severo”, lembra a chefe da organização não governamental Energia Sustentável para Todos (SEforALL, em inglês), Rachel Kyte.
Nos países em desenvolvimento, até 50% dos alimentos chegam a ser perdidos após a colheita, em função da ausência de sistemas de armazenagem e transporte frigorificados. Segundo cálculos da Organização Mundial de Saúde (OMS), 25% das vacinas líquidas são desperdiçadas anualmente, principalmente devido à quebra da cadeia do frio.
Responsável pelo objetivo das Nações Unidas de fornecer energia sustentável a todas as pessoas até 2030, Kyte salienta que “refrigeração para todos” não significa “colocar um ar-condicionado em todas as casas”, mas que são necessários “esforços urgentes para esclarecer as necessidades de refrigeração e desenvolver e testar novas soluções”.
Anualmente, as ondas de calor matam cerca de 12 mil pessoas em todo o mundo. Até 2050, as mortes ocasionadas por esse tipo de desastre climático poderão atingir 260 mil pessoas por ano, a menos que os governos – principalmente as cidades – se adaptem a essa ameaça agravada pelo aquecimento global, informa a OMS.
Produtividade e conforto térmico também estão inter-relacionados. Até 2050, projeta-se que as perdas de horas de trabalho em alguns países cheguem a 12% nas regiões mais afetadas da África subsaariana e da Ásia.
Metas climáticas
O estudo da universidade britânica afirma que, até 2050, se quisermos atingir as metas climáticas estipuladas no Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura global ao máximo de 2 ºC em relação aos níveis da era pré-industrial, o consumo total de energia para climatização e refrigeração deve ser limitado a 6,3 mil terawatts-hora (TWh) por ano.
Sem novas medidas além das capacidades tecnológicas atuais e ganhos de eficiência, o setor poderia responder por 19,6 mil TWh de consumo de energia por ano, frente ao gasto anual atual de 3,6 mil TWh. Mesmo com o advento de novas tecnologias, a necessidade anual de energia ainda seria de pelo menos 15,5 mil TWh.
“Se quisermos cumprir as metas climáticas é necessária uma nova visão sobre a refrigeração, reaproveitando o calor e o frio residuais e incorporando novas tecnologias e conectividade de dados, assim como o armazenamento de energia térmica, a fim de atender à demanda de modo mais eficiente”, revela o estudo.
“As projeções atuais [sobre o consumo de energia] não consideram um cenário de ‘Refrigeração para Todos’ e, assim, será impossível atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] da ONU, bem como metas do Acordo de Paris. Se quisermos atender a uma dessas duas exigências, depender apenas da eficiência tecnológica e de energia limpa não será suficiente”, reforça o professor Toby Peters, um dos principais autores do relatório.
Peters também alerta que a principal pergunta que devemos nos fazer não é quanta energia precisamos gerar, mas sim que tipo de serviço precisamos e como podemos fornecê-lo da maneira menos nociva ao meio ambiente.
Além de outras possíveis medidas interessantes, o estudo sugere criar um modelo para fornecer refrigeração acessível para as comunidades rurais e urbanas com base nas necessidades locais, em vez de impor uma abordagem universal de “tamanho único”, por exemplo.