Grandes empresas têm investindo milhões de reais em processos cada vez mais modernos para aumentar a eficiência energética e a segurança das informações que circulam e são armazenadas em seus centros de dados, principalmente por meio de medidas de controle de umidade e temperatura ambiente.
Além de otimizar esses ambientes com a adoção de novas tecnologias voltadas ao resfriamento dos equipamentos, as empresas reduzem a pegada ambiental de suas operações.
Uma das companhias que mais investem na área, a Embratel atualmente dispõe de uma estrutura de dados com cinco data centers, usados para oferta ao mercado corporativo, localizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Todos foram construídos em prédios técnicos – antigas centrais de telefonia –, devido à robustez destas edificações e similaridade com as necessidades de um data center atual.
As máquinas têm de mais de mil unidades de racks com uma capacidade energética de 7,5 MVA e dispõem de aproximadamente cinco mil servidores instalados, entre físicos e virtuais, com capacidade para, no mínimo, dobrar esta planta. Ao todo 150 profissionais cuidam dessas estruturas.
Leia também
Mecalor aposta em sistemas para pequenos data centers
Schneider Electric expande linha de climatização de data centers
“Desde 2012, com a inauguração do Data Center Lapa, estamos em um processo de melhoria contínua desses ambientes, adequando as estruturas para padrões de mercado com responsabilidade ambiental e uso consciente dos recursos”, diz Mário Rachid, diretor executivo de soluções digitais da Embratel.
“Já temos implementadas práticas de melhoria de eficiência energética, tendo o Data Center Lapa como ponto de referência e com replicação dos resultados positivos para os outros data centers, já o usando como regra para as novas construções de centros”, salienta.
Segundo ele, as instalações da Embratel seguem as melhores práticas recomendadas para construção, fazendo uso de sistemas de confinamento de corredores para melhor eficiência do ar-condicionado, corredores técnicos isolados das áreas de TI, máquinas de precisão com eficiência de 98%, controle de umidade e temperatura, entre outros itens.
“A construção faz uso de sistema à água por serem plantas de grande porte, pois sistemas a ar para grandes áreas são caros e não demonstram grande eficiência. Para compensar o uso de água e termos um maior nível de independência do sistema, implementamos o uso de um sistema de poço e estamos na fase final de um projeto de captação de água de chuva. Com estes sistemas, conseguimos ser autossuficientes em 30% da água necessária para resfriamento dos data centers”, explica.
Com a implementação das melhores práticas, a Embratel passou a usar como referência a norma da Ashrae, e suas máquinas passaram de um PUE (Power Usage Effectiveness ou Efetividade do Uso de Energia) inicial de 2,5 para 1,58 atualmente, e a meta é baixar ainda mais esse nível de PUE.
“Deixamos de gastar 0,42 KW/h por KW de TI gasto, uma economia média de R$ 0,22 por KW/h”, comemora.
Locaweb
Empresa de hospedagem de sites, serviços de internet e computação em nuvem, a Locaweb possui um data center em São Paulo, com três salas distintas e uma sala-cofre, perfazendo um total de 592 metros quadrados de piso com 305 racks e aproximadamente seis mil servidores físicos. Projetado para uma demanda total de energia de 3,5 MVA, no momento o equipamento está operando com 2,4 MVA.
A Locaweb trata este assunto com tanta seriedade que já 2009 inaugurou sua primeira sala, com a adoção de uma central de água gelada (CAG), totalmente retrofitada, com novos chillers e torres de resfriamento. Internamente, foram instalados os sistemas Inrow, da APC, onde há corredores quentes enclausurados.
“Nas outras duas salas e na sala-cofre, devido ao seu crescimento modular, foram adotados equipamentos de refrigeração tipo self a ar com condensadoras remotas que utilizam o sistema VRF, da Mitsubishi, juntamente com o enclausuramento total dos corredores quentes e frios. Desta maneira asseguramos um baixo investimento inicial no startup das salas”, afirma Ivan Tancler, gerente de data center da Locaweb.
“O data center mantém a temperatura das salas entre 18 ºC e 22 ºC dentro dos corredores frios, sendo que nunca foram registrados problemas com o desempenho dos equipamentos nesta faixa de temperatura”, complementa.
Santander
Construído em um terreno de 800 mil metros quadrados, com investimento total de R$ 1,1 bilhão, o Santander Brasil inaugurou em abril de 2014, em Campinas, o data center que concentrou todo o processamento e armazenamento de dados do banco.
O data center triplicou o espaço físico das instalações que abrigam os equipamentos responsáveis pelo processamento e armazenagem de dados do Santander. As instalações têm capacidade de armazenamento superior a cinco petabytes (equivalente a cinco milhões de gigabytes) em storage virtualizado, e o mainframe – principal computador do banco – pode realizar, em média, 210 milhões de transações por dia.
Com 9 mil servidores virtualizados, o data center do Santander foi o pioneiro na América Latina a receber a certificação TIER IV, que reconhece, em grau máximo, as condições de infraestrutura e segurança do projeto e das instalações.
Com as máquinas, o banco diminuiu em cerca de 30% as emissões de carbono correspondentes às atividades de processamento de dados, o que equivale a menos 3,6 mil toneladas de CO₂.
Os geradores de energia são livres de baterias de chumbo e o sistema de refrigeração por condensação a ar dispensa o uso de água. A climatização é garantida por chillers com compressores magnéticos, cujos rotores flutuam – giram sem tocar nos mancais –, eliminando o atrito das peças e, consequentemente, o consumo de energia, o ruído e a necessidade de uso de lubrificantes. E o sistema free cooling permite que, à noite, o ar mais frio do exterior das instalações seja utilizado em substituição ao refrigerado.
Segundo o banco, a eficiência energética, medida em PUE, melhorou 28% em relação à estrutura antiga e está em um nível 15% superior à média do mercado brasileiro.
O indicador compara o total de energia gasta no complexo com o consumo dos equipamentos que fazem o processamento dos dados. O ideal é estar o mais próximo possível de 1. O data center do Santander está em 1,53 – o que equivale a dizer que, para cada 1 W de energia fornecido ao hardware de TI, mais 0,53 W é consumido em refrigeração para abastecer o restante das instalações.
Eficiência em foco
Com o mercado de data centers em alta no Brasil, a segurança e a eficiência energética são prioridades na hora de elaborar um projeto, conforme lembra Eberson Fernandes Muniz, gerente de eficiência energética e geração distribuída da CPFL.
De acordo com o executivo, a área de energia requer aplicações de engenharia para oferecer segurança no fornecimento, pois o regime de operação das empresas que possuem data centers geralmente são 24 horas durante sete dias por semana, além dos dados de TI que lá estão, que devem estar sempre disponíveis para tráfego a qualquer momento, seja por seus clientes ou usuários.
Para data centers existentes, a questão da eficiência energética necessita de um detalhamento técnico, realizado por meio de um diagnóstico de campo, para levantamento e quantificação dos dados técnicos, para o desenvolvimento da solução de engenharia que proponha a melhor redução do consumo energético, garantindo a mesma “produção final”.
“Para a construção e projetos de novos data centers, a recomendação é a busca por fabricantes de racks e de sistemas de climatização reconhecidos, fabricantes de máquinas de refrigeração de alta performance, bem como empresas de soluções energéticas e de engenharia para em conjunto definirem o melhor projeto ou a melhor solução a ser implementada”, recomenda Muniz.
Segundo a Setfrio Engenharia, a gestão da carga térmica é o ponto mais crítico para o funcionamento adequado de um data center. Nos trabalhos realizados pela empresa fluminense, sua equipe encontra, constantemente, fugas de ar frio pelos dutos (insuflamento por duto em cima do forro e pelo piso) em projetos já em funcionamento.
“Somente com ajustes nesses pontos de fugas, podemos reduzir as perdas entre 15% e 30%. Com ajustes nos controladores de temperatura e umidade, conseguimos entre 10% e 15%. E com a implantação de automação remota ativa, não somente passiva, conseguimos mais 10% a 15%”, afirma o diretor comercial da companhia, Vandic Rocha.
“E há casos em que conseguimos obter 35% de eficiência somente com uma dessas ações”, acrescenta.
De acordo com o empresário, uma otimização realizada pela companhia nas instalações da Liq no Rio de Janeiro proporcionou excelentes resultados para grupo de contact center que nasceu da fusão da Contax e da Ability e atende clientes como Claro, Oi, TIM e Vivo.
“Qualquer melhoria de desempenho é muito relevante nessa área, principalmente porque a climatização é responsável por cerca de 40% do consumo energético dos data centers”, salienta o executivo.
“Dentro da premissa de busca por eficiência térmica e energética que perseguimos continuamente, mesmo em numa instalação existente e antiga, com um projeto de melhoria bem ajustado e uma empresa parceira excelente, chegou-se a um resultado acima da expectativa no projeto do CPD Mauá”, afirma o consultor de infraestrutura da Liq, Mário Meireles.
“Buscamos constantemente oportunidades de redução do consumo de energia em nossos prédios. A separação dos corredores quente e frio do CPD, seguida do balanceamento de ar de acordo com a carga de cada corredor, trouxe economia de energia e eliminou os temidos bolsões de ar dentro dos CPDs, proporcionando maior confiabilidade na operação do ambiente”, diz o engenheiro mecânico Arthur Moura, da Liq.