O universo da refrigeração viveu décadas de monotonia. Em seus áureos tempos, o R-12 e o R-22 resolviam quase todos problemas, deixando alguma participação de mercado para a amônia (R-717) em aplicações de grande porte e para o R-502 em sistemas de baixas temperaturas.
No entanto, em 1987, surgiu o Protocolo de Montreal, um acordo fundamentado em estudos que apontaram os CFCs e os HCFCs como agentes causadores da degradação da camada ozônio. No documento, seus signatários, entre os quais o Brasil, acordaram datas e metas para a eliminação desses fluidos.
O cronograma de banimento desses compostos varia de país para país, mas, basicamente, o fim do R-12 foi estabelecido para o ano de 2000, enquanto o do R-22 ficou para 2040.
O Brasil já baniu, com grande sucesso, o R-12. “No parque instalado, a substância foi substituída por gases como o Freon MP39 (R-401A), enquanto os equipamentos novos passaram a vir com R-134a e, mais recentemente, com isobutano (R-600a)”, diz o engenheiro mecânico Edson Girelli, da Girelli Refrigeração.
“Agora, é a vez da substituição do R-22, que será mais traumática e, por consequência, mais criteriosa que a do R-12, pois estamos falando de equipamentos muito mais caros e com instalações mais complexas, cujas paradas podem afetar os trabalhos em fábricas ou comércios envolvidos”, ressalta.
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Rumos a seguir
O governo brasileiro já está diminuindo as cotas de importação do R-22 e isso tem tornado o fluido cada dia mais escasso no mercado, que caminhará, basicamente, em duas direções.
“A primeira delas é adotar o R-134a e, agora, o propano (R-290) em equipamentos novos de refrigeração comercial de pequeno porte, como geladeiras e expositores frigoríficos”, informa.
“Para equipamentos de maior porte, se adota o R-404A, que trabalha bem em aplicações de baixa e média temperatura de evaporação. Já em ares-condicionados, o fluido utilizado nesse momento no País é o R-410A. Tanto o R-404A como o R-410A trabalham com pressões superiores às do R-22, fato que deve ser levado em conta nos projetos de novos equipamentos”, acrescenta.
“Entretanto, ambos os fluidos permitem o uso de óleo sintético nos compressores, o que traz como benefício instantâneo a possibilidade de se trabalhar com temperaturas mais altas de descarga, proporcionando uma alternativa a novos projetos ou ainda a possibilidade de aumento da vida útil dos equipamentos existentes”, destaca.
Em instalações de médio porte, nas quais o R-22 reinava soberano, se notou uma corrida por diversas alternativas, como o R-404A ou os sistemas em cascata, combinando o R-134a com o dióxido de carbono (R-744).
“Nesses casos, o fluido primário fica confinado na sala de máquinas, onde ele resfria um líquido segundário (glicol, geralmente) para a refrigeração final dos expositores”, explica Girelli, lembrando que até a amônia, mesmo com todas as restrições que essa aplicação exige, também está sendo utilizada em casos assim.
Em alguns países, o R-410A tem sido substituído pelo R-32. E já é consenso entre os engenheiros que o R-404A será substituído – só não se sabe ainda por qual fluido – no médio prazo, pois seu potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês) é muito alto.
Em diversos mercados, os HFCs também dão lugar às hidrofluorolefinas (HFOs) da linha Opteon, que está sendo introduzida no Brasil pela Chemours (antiga DuPont Refrigerantes). De acordo com a companhia, o GWP dessa nova geração de fluorquímicos é até 65% menor que o do R-404A.
Enfim, o que se percebe é o desenvolvimento contínuo de equipamentos aptos a trabalhar com uma ampla variedade de fluidos. “O fato é uma boa notícia para os fabricantes, engenheiros e técnicos, que poderão sempre exercer sua criatividade em novas soluções e buscar economia e performance para seus clientes”, avalia.
Dúvida e solução
Mas a pergunta que fica é: o que fazer com o parque instalado em R-22? “Não se pode chegar a um supermercado ou frigorífico, por exemplo, e dizer que não temos mais o R-22, obrigando o cliente a trocar todos os seus equipamentos. O mesmo também vale para as instalações de ar condicionado”, afirma.
Segundo Girelli, esse cenário gera oportunidades para fabricantes de fluidos refrigerantes venderem seus produtos respeitando alguns critérios.
“Os substitutos do R-22 não podem trabalhar com pressões muito diferentes das do projeto original do sistema de refrigeração. Também é preciso usar o mesmo óleo lubrificante sempre que possível, e não se deve alterar a regulagem ou as medidas dos elementos de expansão, tornando a operação de troca do fluido menos custosa ao cliente e ao corpo técnico envolvido”, destaca.
“Fluidos como o Freon MO99 (R-438A) preservam essas características e tornam a substituição do R-22 um processo econômico e de complexidade baixa”, completa o engenheiro, ao ponderar que fatores como o regime de operação, temperatura de evaporação e de condensação devem ser levadas em consideração na hora da troca de refrigerantes.
“Nunca teremos uma única solução de retrofit ao R-22 e, assim, cada caso deve ser analisado junto ao suporte técnico dos fabricantes desses compostos”, recomenda.
Na avaliação do engenheiro, todo trabalho de retrofit pode ser em vão, caso um produto não homologado pela Ashrae seja utilizado.
“Consumo excessivo de energia elétrica, vida útil reduzida de compressores e baixa performance são as consequências do uso de fluidos de baixa qualidade. Por isso, o bom profissional deve sempre orientar seu cliente sobre essas diferenças”, arremata.