O transporte frigorífico não precisa mais provar a ninguém sua importância estratégica num país como o nosso, de dimensões continentais e que tem nas ruas e estradas seus principais caminhos por onde vai e vem de tudo, inclusive uma infinidade de itens vitais perecíveis.
Agora que normas da Anvisa coíbem o absurdo de certas cargas sensíveis ao calor circularem a bordo de baús à temperatura ambiente, uma outra questão crucial começa a tomar corpo: como este setor pode se tornar mais amigável ainda à saúde e à economia nacionais?
Quem esteve no Expo SP na semana passada – em alguns casos levando mais tempo do que o desejado para percorrer o sempre caótico acesso viário daquele excelente Pavilhão – percebeu que nomes fortes do setor estão conectados com tais aspectos, pensados não de hoje nos países mais desenvolvidos.
Ali realizou-se a 24ª Fenatran, também conhecida como Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas, maior encontro latino-americano do gênero, organizado a cada dois anos na capital paulista.
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Ante ao gigantismo dos estandes e dos veículos em seu interior, ao conversar com especialistas em transporte de resfriados e congelados presentes, era inevitável levar-se um certo choque de realidade, ao ver quanto ainda precisamos evoluir, e não por falta de máquinas incríveis.
Regulamentação insuficiente
Apesar dos inegáveis avanços tecnológicos e da própria conscientização de comerciantes e consumidores sobre a correta manutenção da cadeia do frio, apenas 4% do transporte em uso no Brasil têm esse perfil, ou seja, cinco vezes menos em proporção à Europa.
O dado revelado por Cláudio Biscola, diretor de Vendas América do Sul da Thermo King, decorre da enorme diferença existente entre a regulamentação da área por aqui e naquele continente, acontecendo algo semelhante quando se compara nossa realidade à asiática neste campo.
“Noventa e cinco por cento dos nossos equipamentos comercializados na América Latina vêm daqueles dois continentes, razão pela qual eles são fornecidos, também no Brasil, com certificação GDP – Global Distribution Practice”, exemplifica Biscola.
Já aqui, até pouco tempo atrás, sequer medicamentos tinham regras claras, algo sanado pelas RDC 430/2020 e 653/2022. “A partir de então, todo medicamento, e até mesmo cosméticos, passaram a ser transportados com controle de temperatura”, conta o diretor.
Os chamados remédios de prateleira, por sua vez, começaram a transitar com temperaturas entre 6ºC e 15ºC, havendo ainda parâmetros bem mais rigorosos para itens como vacinas e plasma.
Sem dúvida, temos muito a crescer nas áreas de verduras, frutas e carnes, havendo nesta última uma controvérsia a resolver. “A ABNT fala em – 18ºC, mas a tolerância varia muito, havendo no mercado quem trabalhe com uma margem de até 7ºC para economizar combustível”, constata Biscola.
Outra razão para o otimismo dele é a recente regulamentação do frio nos armazéns, pois isso requer normatização semelhante para o transporte, que hoje conta com recursos como a telemetria, permitindo acompanhar pelo smartphone todo o histórico de temperatura de uma carga.
Sustentabilidade
Outro traço marcante do transporte frigorífico nos dias de hoje é a necessidade de torná-lo cada vez melhor sob os pontos de vista ambiental e econômico.
Empresas globais como a própria Thermo King têm essa agenda entre suas prioridades, como foi claramente percebido na Fenatran, por meio de sistemas capazes de gastar até 30% menos óleo diesel e reduzir a emissão de gases de efeito estufa na mesma proporção.
“Nossa estratégia é bastante holística nesta questão, ao buscar diversas formas de contribuir com a preservação ambiental em nossas sete plantas espalhadas pelo mundo”, afirma o diretor geral América Latina, Ivan Colazzo.
Essa forma abrangente de tratar a questão começa pelo fluido refrigerante R-452A aplicado no compressor dos sistemas, até a diminuição do dióxido de carbono (CO2) emitido agora pelos equipamentos movidos total ou parcialmente com energia elétrica.
A exemplo de Biscola, ele vê a existência de fatores externos ao setor que também devem impulsioná-lo, como é o caso da desejável regulamentação do transporte frigorífico.
E para ilustrar seu ponto de vista, Colazzo cita o ocorrido no México. “Por estarem próximos aos Estados Unidos, os mexicanos aprimoram seus procedimentos na área, algo que deve se repetir por aqui, em atendimento às crescentes exigências locais”, prevê o diretor.