Quem visitou a última Febrava certamente percebeu a repercussão alcançada pelo tratamento de águas no AVAC-R. Além da primeira Ilha Temática a respeito montada no evento, pela segunda vez houve mesa-redonda sobre o assunto no seu congresso paralelo, o Conbrava. Por fim, o anúncio de que, em 2025, será realizada, simultaneamente, a primeira feira internacional dedicada ao segmento.
Nada mais justo, convenhamos, pois desde os anos 1970 se fala disso no Brasil. A princípio, com ênfase em produtos químicos importados, utilizados primordialmente nas torres de resfriamento espalhadas pelo país.
Uma década depois, shopping centers e outras instalações de grande porte aderiram a essa prática, agora contando também com fornecedores locais. Porém, sem ainda trabalhar dentro de padrões definidos, e tendo a questão da mão de obra em primeiro plano.
Consultor com quase 40 anos de atuação nesse campo, o atual presidente do Comitê Nacional de Tratamento de Águas da ABRAVA, Charles Domingues, lembra também que, aos poucos, o mercado vem se unindo em torno de entregar qualidade, tanto nos produtos quanto nos serviços agregados.
“Isso teve um importante impulso a partir de 2018, quando o nosso DN foi criado, e os tratadores de águas começaram a se sentar na mesma mesa, discutindo sobre soluções técnicas, cases, novos produtos, enfim, mantendo o diálogo fundamental para que um setor evolua de fato”, afirma Domingues.
Logo em seguida, segundo o consultor, o Renabrava 8, publicação técnica editada pela ABRAVA, forneceria a primeira referência para o mercado com relação aos produtos apropriados para cada tipo de sistema e seus diferentes componentes.
Ele considera igualmente fundamental a formação, antes mesmo disso, do Comitê Nacional de Tratamento de Águas (CNTA), reunindo todos os players do setor, em nome da criação de uma regulamentação técnica, em conjunto com as entidades representativas do AVAC-R brasileiro.
Dois anos depois, porém, a pandemia de Covid 19 diminuiria o ritmo desses trabalhos, ficando igualmente estagnadas as águas dos sistemas desligados em função da ausência de ocupantes nos edifícios, tendo em vista a adoção maciça do home office, enquanto nas atividades comerciais com atendimento ao público as portas simplesmente se fecharam.
PÓS-PANDEMIA
Por mais paradoxal que possa parecer, a volta gradativa das pessoas ao trabalho presencial, o mesmo ocorrendo com os frequentadores de bares, restaurantes, grandes lojas, shopping centers etc., conferiu ao tratamento de águas maior relevância ainda.
“Afinal, todos queriam saber a melhor forma de religar os sistemas, qual tratamento utilizar, que procedimentos colocar em prática para garantir a saúde das pessoas nesse novo momento e também o bom funcionamento e a longevidade das máquinas, após tanto tempo desligadas”, recorda-se Domingues.
Naquele momento crítico, ele destaca a iniciativa da ABRAVA de lançar o Renabrava 10, contendo recomendações que todos queriam receber naquele momento, um trabalho educativo que prosseguiria por meio de cursos, palestras e a transmissão de conteúdos específicos, de acordo com a modalidade e o tamanho das diferentes obras.
Dessa forma, em meio a uma crise sanitária sem precedentes, os mantenedores e usuários dos edifícios passaram a perceber de maneira clara quão importante seria substituir a prática que vigorou durante tantos anos.
“Antes, era comum se investir basicamente em produtos, sem a preocupação de realizar programas de tratamento de águas que pudessem garantir aspectos fundamentais como monitoramento, manuseio, estocagem e, principalmente, responsabilidade técnica por parte dos profissionais envolvidos na operação”, explica Charles.
Segundo o especialista, tem contribuído muito para essa releitura do tema o retorno positivo frente aos investimentos realizados, a partir da sempre desejável eficiência energética, mas atingindo também outros aspectos, dentre eles, menos manutenção corretiva e melhor performance.
DESAFIOS
Tantos avanços obtidos num período relativamente curto não significam, propriamente, que o setor de tratamento de águas já tenha chegado ao seu ápice no AVAC-R.
Dentre os pontos que preocupam Domingues, destaca-se a existência ainda de quem venda e compre ‘pacotes de prateleira’, hoje na contramão do estado da arte desse segmento, “onde já ficou claro que cada caso é um caso e requer uma atuação específica”, reforça o consultor..
O aspecto reuso de água também constitui solução considerável, “desde que haja classificação distinta para cada processo”, defende. No entender do especialista, é emblemático disso o fato de tantas estações do gênero estarem paradas Brasil afora, muitas delas tendo fracassado, justamente, pela generalização em projetos que, por exemplo, menosprezaram as peculiaridades da água que abastece diferentes localidades e regiões, com variações frequentes até mesmo de um bairro a outro”, observa.
Inquietação semelhante é revelada por ele frente à inexistência de uma recomendação em âmbito nacional sobre a qualidade da água a ser empregada nos sistemas de ar condicionado.
Entre prós e contras, no entanto, o futuro do setor é promissor, na opinião de Charles, que condiciona a continuidade do progresso registrado nesses últimos anos à conscientização cada vez maior de projetistas, fabricantes, usuários e clientes sobre a importância da área. “Essa divulgação nós estamos fazendo e prometemos intensificá-la”, conclui o presidente do Comitê Nacional de Tratamento de Águas da Abrava.