Em um mundo cada vez mais ciente dos impactos provocados pela ação humana no meio ambiente, a descarbonização se estabeleceu como a nova fronteira a ser transposta por todas as indústrias, e o mercado de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração (AVAC-R) tem tudo para ser um protagonista-chave nesse cenário.
O segmento, cuja importância permeia desde processos industrias e preservação de alimentos, vacinas e medicamentos até a manutenção do conforto térmico em meios de transporte, residências e edifícios comerciais, enfrenta agora o desafio de conciliar sua operação essencial para a sociedade com a neutralidade climática, em função do Acordo de Paris e da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal.
Ao analisar os avanços tecnológicos, as mudanças regulatórias e o impulso econômico para essa transição, Lucas Fugita, especialista de serviços técnicos e desenvolvimento de mercado da Chemours no Brasil, lembrou, durante o 4º Seminário de Refrigeração Industrial e Comercial – evento promovido no fim de junho na Fiesp pela Abrava –, que o AVAC-R está se reinventando em meio à necessidade da descarbonização, salientando que “essa realidade nos dá uma visão ampla sobre as estratégias utilizadas pelo setor para alcançar a sustentabilidade”.
“A descarbonização da nossa indústria não é apenas sobre reduzir as emissões de carbono – é sobre reconstruir a relação entre a humanidade e a natureza”, disse o engenheiro, em entrevista concedida ao Blog do Frio logo após sua palestra.
Para ele, “a ação climática no AVAC-R não é uma opção, mas um imperativo para garantir um futuro mais verde para todos e lucrativo para os negócios”.
Embora os desafios sejam grandes, Fugita ressaltou que “o setor está mostrando uma disposição crescente para embarcar de vez nessa jornada crucial para a proteção do nosso planeta”.
“A indústria do frio está abraçando a eficiência energética como uma estratégia-chave para a descarbonização, apoiada pela adoção de novas tecnologias, como fluidos refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global [GWP, em inglês], e a implementação de boas práticas de manutenção, a fim de conter vazamentos e solucionar outros problemas técnicos de forma preventiva e, acima de tudo, para reduzir custos operacionais, como gastos em manutenção corretiva”, informou.
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“Esse compromisso se traduz em medidas efetivas alinhadas com as melhores práticas socioambientais e de governança corporativa [ESG] e também com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] da ONU”, enfatizou.
Em sua avaliação, o AVAC-R enfrenta um desafio único quando se trata de emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2e) – atualmente, o setor é responsável por 7,8% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE).
Em geral, “as emissões diretas, ocasionadas por fugas de fluidos refrigerantes, representam cerca de 20% do impacto total de emissões dos sistemas de refrigeração, enquanto as emissões indiretas, resultantes do consumo de energia na operação, compõem a maior parte, cerca de 80%”, disse.
O desenvolvimento e a adoção de refrigerantes de baixo impacto climático, “como nossas hidrofluorolefinas [HFOs] da linha Opteon, estão abrindo novos caminhos para a indústria. Além disso, a busca por soluções de refrigeração mais eficientes e com menor consumo de energia está fomentando a inovação e abrindo novos mercados para empresas inovadoras”.
Apesar de toda essa evolução, “também precisamos atacar outro problema, que são as emissões oriundas de atividades que estão fora do controle direto das empresas, mas estão associadas à sua cadeia de valor, como a extração de matérias-primas, transporte e tratamento dos resíduos produzidos em suas operações”, alertou.
Outro aspecto relevante abordado por Fugita foi a importância do desenvolvimento de habilidades técnicas e da formação de profissionais qualificados para lidar com as novas tecnologias e práticas emergentes. Para o gestor, “essa demanda representa uma oportunidade de ouro para o desenvolvimento de capital humano no setor”.
Tudo isso, em sua visão, “está pavimentando o caminho para um futuro mais sustentável, no qual a refrigeração e a preservação ambiental deverão andar cada vez mais de mãos dadas”.