A alemã Bosch prevê um crescimento anual de cerca de 20% até 2025 para o mercado europeu de bombas de calor residenciais, que já conta com mais de 30 milhões de unidades instaladas.
Para fazer frente a essa expansão, a gigante tecnológica vai ampliar sua rede de desenvolvimento e fabricação de equipamentos desse tipo no continente, o que inclui uma nova fábrica na Polônia.
Desde 2019, a Bosch aumentou sua capacidade de produção na Alemanha, dobrando o número de modelos disponíveis em sua linha atual.
Agora o conglomerado anunciou que planeja investir € 1 bilhão nesse segmento até o fim da década.
O vice-presidente do conselho de administração e responsável pelos setores de energia e tecnologia de edifícios e bens de consumo da empresa, Christian Fischer, detalhou os planos de longo prazo da companhia.
A Bosch planeja continuar a investir em aerotermia – uma forma de energia renovável que capta a energia térmica presente no ar e a redistribui para fornecer aquecimento, refrigeração e água quente em construções – para sustentar o crescimento de suas vendas, que registram aumento de 54% no ano passado.
Dos investimentos totais, € 225 milhões serão destinados, até o fim de 2027, para a nova fábrica em Dobromierz, a cerca de 200 quilômetros de Varsóvia.
A nova planta é um objetivo da Bosch para 2025. “A construção começará em 2024 e espera-se que a produção comece no final de 2025 ou início de 2026, criando cerca de 500 novos empregos até 2027”, informou Fischer.
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Outro plano da empresa é fortalecer suas fábricas europeias, como a de Eibelshausen, na Alemanha. Nela, a empresa vai começar a produzir unidades internas silenciosas de bombas de calor projetadas para operar com propano (R-290), um fluido refrigerante de baixo impacto ambiental.
Outros avanços ocorrerão em fábricas em Portugal (Aveiro), Suécia (Tranås) e Alemanha (Wernau). Também faz parte desse plano investir em uma sociedade para bombas de calor que a Bosch e a Electra Industries têm em Israel.
Jan Brockmann, CEO do grupo Bosch Home Comfort (antiga Bosch Termotecnologia), afirmou que a meta da empresa é crescer mais rapidamente que o mercado europeu como um todo. “A nova fábrica na Polônia nos ajudará a alcançar esse objetivo”, disse.
Brockmann também destacou a importância de criar uma estratégia de portfólio diversificada para atingir as metas climáticas do setor de construção civil.
“Sistemas híbridos compostos por uma bomba de calor e uma caldeira tradicional [a gás] para picos de demanda podem ser uma solução provisória no caminho para habitações climaticamente neutras”, ponderou.
“Eles são especialmente adequados para edifícios antigos, geralmente nos quais não há capital suficiente para renovar completamente sua envoltória”, salientou.
Transição energética sustentável
A REPowerEU, uma proposta da Comissão Europeia para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis provenientes da Rússia antes de 2030, estabeleceu como meta a instalação de 30 milhões de bombas de calor adicionais na Europa até lá.
Só no ano passado, as vendas de bombas de calor no bloco registraram um aumento de 40%, chegando a quase três milhões de unidades comercializadas, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
Países como Polônia e República Tcheca, com mercados emergentes, dobraram o tamanho de suas vendas no último ano. No entanto, quase metade de todas as vendas na Europa ocorreram na Itália, França e Alemanha.
Nos países nórdicos, onde as bombas de calor são uma solução de aquecimento estabelecida há muito tempo, quase cinco vezes mais unidades foram vendidas por domicílio em comparação com o restante da Europa.
Veronika Grimm, professora titular de economia e chefe da cátedra de teoria econômica na Universidade de Erlangen-Nuremberg (FAU, em alemão), lembra que, “atualmente, metade dos domicílios alemães utiliza caldeiras a gás para aquecimento”.
Em entrevista concedida ao Blog do Frio durante colóquio sobre transição energética sustentável promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação de São Paulo (DWIH-SP) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) nesta semana, ela avaliou que “essa dependência representa um desafio enorme para fazer a transição para as bombas de calor”.
Para a cientista, a precificação do dióxido de carbono (CO₂) é um dos caminhos para tornar “o aquecimento baseado em combustíveis fósseis mais caro no futuro”.
“Na Alemanha, estabelecemos um sistema de comércio de emissões, também para o setor de aquecimento, no qual o preço do CO₂ está aumentando lentamente. Consequentemente, o aquecimento a gás se tornará cada vez mais caro”, disse.
Com isso, “as tecnologias climaticamente neutras ficarão mais atraentes. Além da política de preços do CO₂, o governo alemão fornece subsídios para as bombas de calor. Portanto, tudo isso irá acelerar a transição energética” no mercado europeu de aquecimento.
“Há edifícios novos muito adequados para as bombas de calor. O problema está nas construções antigas, que precisam ser renovadas para se tornarem mais eficientes. Mas isso, obviamente, é caro e afeta todos os lares. Então, esse é um grande desafio que temos pela frente”, ressaltou.