As coisas não têm sido fáceis para ninguém, principalmente num mundo que mal havia superado a recessão global, iniciada em 2014, e no início da década seguinte se surpreenderia com um novo coronavírus e seu poder destrutivo ainda maior, inclusive para a economia.
Mesmo assim, profissionais e empresas do setor de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração (AVAC-R) continuam evoluindo em vários sentidos, o que demonstra a existência de fatores estruturais positivos na área, mesmo em períodos tão complicados.
O autor dessa tese sabe perfeitamente do que está falando, pois é um dos nomes mais conhecidos de um mercado onde ocupou cargos diretivos em várias empresas, bagagem com a qual assumiu, em junho de 2016, a presidência executiva da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, a nossa conhecida Abrava.
Realista ao reconhecer que o AVAC-R não haveria de passar imune por crises tão graves como essas mais recentes, a ponto de também ter visto negócios e empregos desaparecerem, o engenheiro e administrador de empresas identifica, em compensação, pontos altamente favoráveis inerentes à área.
Sem barreiras de entrada expressivas, por exemplo, o segmento continua acolhendo muitos profissionais egressos de setores como elétrica e hidráulica, ainda mais após ter sido reconhecido como essencial na pandemia, inicialmente pelo governo paulista e, na sequência, pelo Ministério da Saúde. Vive, igualmente, o reflexo positivo da transformação do PMOC em lei, quatro anos atrás.
Segundo Basile, o lançamento, no fim de 2020, do Programa Nacional de Qualidade do Ar Interior (PNQAI), acabaria por atrair mais profissionais ainda para o AVAC-R, mediante esse novo agente transformador, que só tem feito valorizar a atividade e quem nela atua.
“O grande desafio atual é capacitar adequadamente toda essa mão de obra para que ela adote procedimentos corretos, tanto de instalação quanto de manutenção preditiva e corretiva”, afirma o executivo, para quem “não deve faltar trabalho aos interessados em abraçar as muitas oportunidades existentes no setor que procuram sempre fazer a coisa certa”.
Mercado crescente
Dentre os indicadores desse vasto espaço a ser explorado, Basile aponta o fato de o ar-condicionado vir ocupando o papel de objeto de desejo em residências e escritórios, concorrendo inclusive em preço com celulares e smartphones, itens que hoje despertam cobiça similar à provocada pelos DVDs e outras vedetes nas salas de estar em décadas passadas.
Apenas no ano passado, Arnaldo lembra que foram vendidos mais de 3,5 milhões de mini-splits em todo o País, havendo no comércio um parque instalado estimado em torno de 60 milhões de unidades, números que ilustram o grande potencial para fabricantes, instaladores e especialistas em manutenção, para um item que chega a custar de duas a três vezes menos, já instalado, em comparação aos modelos top da telefonia móvel.
As perspectivas para o mercado de climatização se tornam melhores ainda ao se considerar que apenas menos de 20% dos domicílios brasileiros estão em dia com o conforto térmico, havendo vaga para no mínimo dois mini-splits em cada um desses lares, com vida útil média de 15 anos, período durante o qual a presença do técnico é fundamental.
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Uma presença, aliás, que representa talvez o maior desafio do setor, no entender do executivo, voltando a abordar o aspecto boa capacitação profissional. Segundo o Senai, a indústria de climatização e refrigeração é o setor de maior empregabilidade, dentre as muitas profissões que passam por suas escolas, com o encaminhamento de 90% dos alunos para as muitas vagas semanalmente demandadas pelo AVAC-R.
“Precisamos de técnicos comprometidos com o trabalho que realizam, capazes de indicar a instalação dos aparelhos adequados para cada situação, utilizar os fluidos refrigerantes adequados e assim por diante”, diz ele, ressaltando também a atuação decisiva das empresas, ao treinar continuamente suas equipes.
Empreendedorismo
Tendência forte já há um bom tempo na área, a iniciativa de abrir negócio próprio registrou impulso significativo durante a pandemia, até mesmo por ter se tornado a única opção para quem perdeu o emprego, frente ao inevitável encolhimento de várias instaladoras de ar-condicionado.
De acordo com o dirigente da Abrava, algumas empresas chegaram a reduzir em 80% seus contingentes fixos, em muitos casos aderindo às modalidades alternativas de contratação proporcionadas pela última reforma trabalhista, que flexibilizou sensivelmente boa parte da CLT.
Tal realidade muito tem a ver com a proliferação de micro e pequenas empresas, que acabaram puxando para cima as vendas das distribuidoras de mini-splits, um dos segmentos em ascensão evidente, a exemplo dos cursos profissionalizantes de curta duração, face à urgência de se acelerar a qualificação profissional no mercado.
As gigantes do passado, por sua vez, se tornaram mais enxutas, como manda a moderna gestão, e optaram por atuar em áreas mais especializadas, notadamente indústrias e data centers, como forma de compensar a queda dos negócios na área das grandes construções nestes tempos de trabalho híbrido e menos investimentos em workplaces.
Diante de tantas evidências do quanto o AVAC-R é resiliente e possui campo para se expandir em várias direções, Arnaldo Basile é um otimista assumido, tomando como base sermos um país tropical de horizonte ilimitado para quem resolva fazer da climatização e da refrigeração sua escolha profissional e/ou empresarial.
Pois bem, o recado está dado!
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