Embora 2021 tenha sido um ano muito difícil para a economia brasileira e para os trabalhadores, principalmente em função das novas variantes do novo coronavírus, a indústria de refrigeração e ar condicionado, caraterizada por sua essencialidade no enfretamento à pandemia, faturou R$ 36,35 bilhões no ano passado, ante R$ 32,88 bilhões registrados em 2020.
Para a Abrava, entidade que representa esses segmentos, os números comprovam a recuperação alcançada pelo mercado do frio em 2021. A projeção para 2022 é atingir um faturamento 5,5% maior, totalizando R$ 37,98 bilhões.
Segundo a associação, a produção de splits residenciais cresceu 10,9%, saltando para quase 3,4 milhões de unidades no ano passado. Neste ano, esse número deve subir 6%, chegando a 3,57 milhões de aparelhos produzidos, segundo projeções do departamento de economia da Abrava.
As importações de insumos e equipamentos também cresceram no ano passado. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do governo federal, comprovam esta realidade.
Em 2021, o setor importou US$ 1,185 bilhão em compressores e bombas e ventiladores (+29,6%), ante US$ 914,4 milhões em 2020; US$ 688,1 milhões (2021) em aparelhos de ar condicionado (+21,7%), contra US$ 565,5 milhões (2020); e US$ 318,8 milhões (2021) em refrigeradores e congeladores (+30,9%), ante US$ 243,5 milhões (2020).
Da mesma forma, o forte crescimento das exportações de carnes refrigeradas e congeladas confirmou a boa fase do segmento de refrigeração.
Segundo o levantamento, com dados da Secex, somente com carnes congeladas de bovinos, o País registrou crescimento de 25,2% em vendas em 2021, em comparação a 2020.
Termômetro do setor
Estes e outros números estão na pesquisa “Termômetro Abrava – Resultados 2021 e Perspectivas 2022”, realizada com 75 empresas associadas nas duas primeiras semanas de janeiro deste ano. De modo geral, os empreendedores estão otimistas com o que 2022 terá a oferecer ao mercado.
Para 47,14%, as condições gerais das empresas em relação a empregos melhoraram no segundo semestre de 2021 em comparação ao primeiro semestre do mesmo ano.
Já 44,29% disseram que as condições permaneceram as mesmas. Número similar (45,17%) foi registrado em torno das condições gerais acerca de investimentos no mesmo período comparado.
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O levantamento aborda ainda o faturamento, que para 51,43% dos entrevistados melhorou, além de exportações e acesso a insumos e matérias-primas.
“A crise causada pela pandemia foi desigual, pois afetou mais famílias de baixa renda. No entanto, famílias de média e alta renda elevaram gastos, favorecendo especialmente os segmentos de ar condicionado e refrigeração em 2021”, enfatiza o estudo, acrescentando que a “retomada das atividades de serviços favorece também o segmento de equipamentos de ar condicionado de grande porte”.
Para este ano, segundo a pesquisa, 55,5% dos empresários do setor entrevistados estão otimistas ou muito otimistas com as exportações, enquanto 54,3% referiram-se ao faturamento. Em relação à retomada do emprego e dos investimentos, este estado ânimo tomou conta de 52,9% e 48,9% dos participantes, respectivamente.
“O ano de 2022 será difícil, com eleição e incertezas. Houve recuperação de empregos em 2021, mas perda de massa salarial. Com inflação elevada, vimos uma perda de renda e poder de compra, afinal os preços subiram”, diz o economista Guilherme Moreira, diretor do departamento de economia da Abrava.
Ele enfatiza, particularmente, os bons resultados do setor da construção civil para imóveis de médio e alto padrão em 2021. “E continuará assim em 2022, uma boa notícia para a área de ar condicionado residencial e equipamentos centrais. Mas, em 2023, deve haver uma desaceleração”, alerta.
Para o vice-presidente do departamento de comércio da Abrava, Toríbio Rolon, os dados colhidos sobre o mercado em 2021 mostram que o Brasil não é para principiantes.
“O comércio se adapta muito rápido. Enquanto a indústria consegue se planejar, o varejo é mais estratégico. Para as classes mais altas, o split e as instalações serão mais procurados, enquanto para as menos favorecidas, haverá maior demanda por manutenção de equipamentos, como trocas de compressor e filtros”, exemplifica.
Igualmente otimista, o representante da indústria de ar condicionado, Matheus Lemes, apontou que, mesmo com alguns solavancos, o setor deve crescer mais modestamente em 2022, apesar da abertura de mais oportunidades, vide a alta na importação de insumos.
“Tal otimismo pode ser explicado porque a indústria talvez esteja alavancada por estoques, por causa da crise global da cadeia de suprimentos. Além disso, a crise hídrica já está levando a uma maior procura por produtos Inverter”, argumentou.
Segundo o gestor, o mercado tem provado uma digitalização da prestação de serviços, um tipo de “uberização”, já usado pelo comércio ao buscar prestadores de serviço, abrindo inclusive oportunidades para empresas de pequeno e médio porte e MEIs.
“Serviços corretivos e de reparos para escolas, que estavam paradas e agora retornam, e portanto irão precisar de manutenção de seus equipamentos, vão contribuir para o crescimento do setor neste ano”, mesmo com Copa do Mundo e as eleições no segundo semestre, aponta Lemes.
Já para o vice-presidente do departamento de refrigeração comercial da entidade, Marcos Almeida, “a refrigeração, por estar em todos os setores da economia, acaba sendo resiliente em momentos como este em que vivemos”.
“Além disso, há grandes movimentações regulatórias e tecnológicas, como os novos gases refrigerantes, e isso tudo movimenta a cadeia produtiva”, salienta o executivo.