O uso de fluidos refrigerantes inflamáveis (classificação de risco A2 e A3) em equipamentos que foram projetados para trabalhar apenas com substâncias não inflamáveis (A1) continua a preocupar os fabricantes do setor.
Recentemente, o presidente da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), Arnaldo Basile, ressaltou que as boas práticas e as normas de segurança devem ser rigorosamente observadas pelos prestadores de serviços. “Do contrário, há risco de explosões e queimaduras, podendo afetar refrigeristas e usuários”, salientou.
“No Brasil, existe a NBR 16069, que referencia a Ashrae 34, na qual se menciona, por exemplo, a limitação da carga de fluidos inflamáveis em sistemas de ar condicionado e bomba de calor para conforto humano”, informou.
De acordo com a norma, qualquer “sistema de refrigeração selado montado em fábrica com uma carga de fluido frigorífico inferior a 150 gramas de um refrigerante A2 ou A3 poderá ser instalado em um ambiente ocupado sem restrição, mesmo que não seja uma sala de máquinas especial”.
O texto do documento técnico também ressalta que “os fluidos frigoríficos dos Grupos A2, A3, B1, B2 e B3 não devem ser utilizados em sistemas de alta probabilidade para conforto humano”. Segundo Basile, esta última observação apresenta algumas exceções, como a área industrial, por exemplo.
Leia também
Recarga com GLP faz refrigerador ir pelos ares
Misturas entre HFCs e HFOs criam refrigerantes seguros e eficientes
Freon MO99 facilita retrofit do R-22
“Os sistemas frigoríficos são projetados para operar com uma determinada classe/tipo de fluido e, portanto, para qualquer alteração do projeto original, deve-se consultar o fabricante do equipamento”, recomendou.
Em relação à escolha do fluido refrigerante a ser utilizado, Basile lembrou que os usuários e profissionais do setor sempre devem checar a procedência da substância.
“Adicionalmente, para segurança e para seguimento de padrões globais, é importante usar fluidos classificados pela Ashrae, ou seja, que apresentam informações de flamabilidade e manuseio aprovados e regulamentados por esta instituição”, arrematou.
Preocupação mundial
Os retrofits inadequados e potencialmente perigosos não são uma preocupação apenas no Brasil. No início de agosto, nove associações que representam 90% da indústria global de refrigeração e ar condicionado – Abrava, AHRI (EUA), Arema (Austrália), CRAA (China), EPEE (Europa), Eurovent (Europa), HRAI (Canadá), JRAIA (Japão) e KRAIA (Coreia do Sul) – divulgaram um alerta a respeito do tema, com o título “Use o Refrigerante Correto!”.
Segundo Greg Picker, assessor técnico e político da Arema, procedimentos dessa natureza foram realizados na Austrália, África, Papua New Guinea, Indonésia e outras partes da Ásia. “Por isso, acidentes têm ocorrido em muitas destas localidades”, disse Picker, em entrevista ao Cooling Post.
Em 2008, um bombeiro morreu e outras sete pessoas ficaram feridas em uma explosão num armazém frigorífico na Nova Zelândia, onde os funcionários não sabiam que o R-22 tinha sido substituído por um refrigerante à base de hidrocarbonetos.
Em 2010, também na Nova Zelândia, um engenheiro queimou o rosto e as mãos quando trabalhava num evaporador de um entreposto frigorífico. Em 2013, uma explosão de ar condicionado seguida de um incêndio fatal num restaurante em Hong Kong foi atribuída ao uso de refrigerantes “inadequados e inflamáveis”. O incidente ainda feriu mais de 20 pessoas.
No início deste ano, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) também repetiu os alertas que já vinha fazendo sobre os perigos do uso de fluidos refrigerantes com hidrocarbonetos na substituição do R-22.