Uma investigação sigilosa feita por uma organização não governamental (ONG) em 45 supermercados dos EUA descobriu “vazamento mensurável de superpoluentes” em 57% das lojas.
A informação consta do relatório Leaking Havoc: Exposing Your Supermarket’s Invisible Climate Pollution (Vazamentos de compostos orgânicos altamente voláteis: Expondo a poluição climática invisível do seu supermercado, em tradução literal).
O documento, produzido pela Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês), é resultado de uma apuração iniciada no outono de 2019 em lojas instaladas na região metropolitana de Washington, DC, incluindo Maryland e Virginia.
Apesar de a investigação ter sido interrompida pela pandemia do novo coronavírus, o grupo ambientalista afirma ter detectado de forma conclusiva “poluição climática” nos corredores de produtos refrigerados, usando ferramentas padrão da indústria de refrigeração e ar condicionado.
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Os ativistas dizem ter inspecionado as áreas de resfriados e congelados de cada loja em busca de vazamentos de fluidos refrigerantes, registrando em partes por milhão (ppm) as concentrações das substâncias detectadas pelos equipamentos de medição.
As equipes encontraram vazando nas lojas investigadas hidrofluorcarbonos (HFCs) como o R-404A, R-407A e R-507A, gases de efeito estufa milhares de vezes mais nocivos ao clima do planeta do que o dióxido de carbono.
A ONG também disse ter gravado um vídeo com evidências de gases refrigerantes vazando em produtos num expositor aberto instalado num dos estabelecimentos.
A investigação se concentrou em unidades do Walmart e de outras redes na região. “É terrível que os supermercados não estejam conseguindo enfrentar e controlar essas emissões facilmente evitáveis”, disse Avipsa Mahapatra, líder da campanha climática da EIA.
“Nossa investigação deixa claro que essa flagrante inação é um crime contra nosso clima e deveria ser ilegal”, afirmou a ativista.
Concentrações detectadas
Três tecnologias diferentes de detecção de vazamentos de fluidos refrigerantes foram usadas pelas equipes da EIA, incluindo dois detectores portáteis e uma câmera infravermelha específica para visualizar a dispersão de gases.
Em todos os casos, a ONG diz que as diretrizes aprovadas pela indústria de refrigeração para operar detectores e registrar vazamentos em ppm foram seguidas.
Todas as concentrações detectadas acima de dois ppm foram consideradas como um indicador de um vazamento potencial significativo, conforme orientação fornecida pelo fabricante dos equipamentos de detecção de vazamentos.
Menos de 5% dos vazamentos detectados estavam em uma concentração superior a 100 ppm, “um limite comum para disparar um alarme para inspeção ou reparo”, disse a EIA.
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No entanto, 29% variaram de 10 ppm a 100 ppm na área de vendas. A grande maioria foi detectada em concentrações mais baixas, com 67% dos vazamentos gerando concentrações inferiores a 10 ppm na área de vendas.
“Nossa investigação demonstra que a detecção e a resposta a vazamentos de ppm aparentemente baixas precisam ser levadas mais a sério pelo setor”, disse a EIA, alertando que “os pequenos vazamentos têm o potencial de levar a grandes vazamentos ao longo do tempo”.
“É alarmante que o cenário regulatório de hoje ainda permita que os supermercados usem legalmente e vazem HFCs em grandes quantidades”, declarou Christina Starr, analista de política sênior da EIA.
Para ela, as autoridades da área ambiental precisam implementar “regulamentações mais eficazes para acelerar a substituição de HFCs por refrigerantes ecologicamente corretos e exigir que as empresas monitorem e mitiguem vazamentos”.