O segundo maquinista de uma traineira europeia morreu asfixiado depois de um vazamento de R-22 no tanque de água salgada refrigerada (RSW, na sigla em inglês) da embarcação.
O acidente de trabalho foi registrado em agosto de 2018 a bordo do pesqueiro Sunbeam, no Reino Unido.
Essas informações constam de um relatório da agência britânica de investigação de acidentes navais (MAIB) publicado na semana passada.
Segundo o documento, quando foi constatado que a vítima estava desacordada dentro do tanque de RSW, três de seus companheiros de tripulação entraram no tanque para ajudá-lo. Como não usavam equipamentos de proteção individual (EPIs), todos sofreram dificuldades respiratórias e um também desmaiou.
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Dois outros membros da tripulação, então, vestiram aparelhos de respiração e resgataram seus companheiros. Entretanto, os colegas de tripulação não conseguiram reanimar o segundo maquinista, revela o relatório.
A MAIB ressalta que o tanque era um espaço fechado, sem nenhuma das precauções normais de segurança. Não havia ventilação, a atmosfera não era monitorada e o profissional estava trabalhando sozinho, sem comunicação.
Na ocasião, foi descoberto que gás refrigerante vazou para o tanque através de tubos corroídos do evaporador do chiller localizado a estibordo da traineira de arrasto.
Sem plano formal de manutenção
O Sunbeam foi construído em 1999 na Espanha. Seu casco original tinha 48,75 metros de comprimento, mas ele foi alongado para 56,17 metros em 2004, para que o número de tanques de RSW pudesse ser aumentado de seis para nove.
O pesqueiro estava equipado com duas instalações de refrigeração que podiam funcionar individualmente ou em paralelo para refrigerar água do mar.
Os sistemas de refrigeração foram projetados e fabricados pela norueguesa Technotherm e foram instalados no barco durante sua construção.
Os evaporadores compreendiam dois trocadores de calor de casco e tubo montados horizontalmente, e cada trocador de calor continha 142 tubos de liga de alumínio e latão resistentes à corrosão.
Na Europa, embora o uso do hidroclorofluorcarbono (HCFC) R-22 ainda seja permitido em sistemas antigos, sua remoção para manutenção ou abastecimento complementar de sistemas que operam com esse fluido refrigerante nocivo à camada de ozônio foram proibidos em janeiro de 2015.
De acordo com o relatório da MAIB, até o final de 2017, o refrigerante R-22 foi recolhido do sistema pela tripulação e armazenado a bordo em cilindros quando as instalações de refrigeração não estavam em uso. Tal procedimento foi interrompido em janeiro de 2018, após orientação de um engenheiro de refrigeração.
Cada uma das plantas de refrigeração do Sunbeam foi projetada para operar com 486 quilos de R-22. Após o acidente, a Star Technical Solutions, que havia sido contratada para realizar uma inspeção nos sistemas de refrigeração, removeu 312 quilos de R-22 do chiller instalado a bombordo e 178 quilos do equipamento instalado a estibordo.
Desde janeiro de 2018, a tripulação da Sunbeam operava os sistemas de refrigeração em modo manual, devido a uma falha no interruptor de controle automático dos compressores.
Segundo a MAIB, isso eleva o o risco de congelamento da água dentro dos tubos do evaporador e, consequentemente, o risco de danos neles.
A manutenção de rotina e a retificação de defeitos das plantas de refrigeração foram realizadas pela tripulação, utilizando, quando necessário, o suporte do prestador de serviços contratado.
O relatório da MAIB também revela que não havia nenhum plano formal ou registro a bordo de manutenção das plantas de refrigeração, embora o diário do maquinista-chefe contivesse alguns registros de tarefas concluídas, entre as quais reparos anteriores nos tubos dos evaporadores de ambas as instalações.