A centésima ratificação da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, pacto climático que visa reduzir o uso de hidrofluorocarbonos (HFCs) na indústria de refrigeração e ar condicionado nas próximas décadas, foi recebida como uma “ótima notícia” pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Nesta semana, a Libéria se tornou o último país a aderir ao acordo, ratificado primeiramente pelo Mali, em 2017. A marca histórica proporciona “um impulso bem-vindo à ação climática global”, avalia a agência ambiental da ONU.
Os HFCs são gases de efeito estufa com um significativo potencial de aquecimento global (GWP, na sigla em inglês), argumenta o Pnuma, lembrando que, após o estabelecimento do Protocolo de Montreal, em 1987, eles se tornaram amplamente utilizados no mercado como substitutos de refrigerantes nocivos à camada de ozônio.
“Ao lidarmos com os impactos da pandemia, é crucial não esquecermos a ação climática”, diz Inger Andersen, diretora executivo do órgão.
Leia também
- Danfoss qualifica válvulas termostáticas para HFOs levemente inflamáveis
- Nano-óleo aumenta eficiência de refrigeradores domésticos
- Joana Canozzi assume VP do Comitê de Mulheres da Abrava
“As mudanças climáticas podem causar ainda mais miséria e perturbação do que a covid-19; por isso, devemos ser resolutos em nossos esforços para limitá-las”, acrescenta.
Segundo a economista e ambientalista dinamarquesa, a Emenda de Kigali é “uma ferramenta poderosa para manter nosso planeta fresco”.
“Agradeço aos Estados que a ratificaram e incentivo os outros 98 [signatários do Protocolo de Montreal] a seguirem o exemplo, ajudando a garantir um futuro mais seguro para toda a humanidade”, salienta.
Benefícios do acordo
Aprovada pelas partes do Protocolo de Montreal em 2016, em Ruanda, a Emenda de Kigali define um cronograma de redução gradual dos HFCs com alto GWP em mais de 80% — em dióxido de carbono equivalente (CO2eq) — nos próximos 30 anos.
As estimativas sugerem que as emissões evitadas até 2100 podem variar de 5,6 a 8,7 gigatoneladas de CO2eq por ano. “Isso evitará até 0,4 °C do aquecimento global até o final do século”, afirma o Pnuma.
A substituição de HFCs também cria uma oportunidade para aumentar a eficiência energética de equipamentos de refrigeração em 10% a 50%, reduzindo significativamente os custos de energia para consumidores e empresas.
A Emenda de Kigali segue os preceitos responsáveis pelo sucesso do Protocolo de Montreal, criado para proteger a saúde humana e o meio ambiente dos efeitos adversos causados pela destruição da camada de ozônio.
Com o apoio universal de 198 países, o tratado ambiental levou à eliminação progressiva de quase 99% das substâncias nocivas à ozonosfera, notadamente os clorofluorcarbonos (CFCs) e hidroclorofluorcarbonos (HCFCs).
Como resultado, a camada de ozônio está agora a caminho da recuperação. Os benefícios proporcionados pelo protocolo incluem até dois milhões de casos de câncer de pele prevenidos a cada ano até 2030, cerca de US$ 1,8 trilhão em economia à saúde global e quase US$ 460 bilhões em danos evitados à agricultura e à pesca até 2060.
Os esforços para proteger a camada de ozônio também evitaram um número estimado de 135 bilhões de toneladas de emissões de CO₂ equivalente entre 1990 e 2010. Caso o Protocolo de Montreal não existisse, as temperaturas médias globais poderiam subir mais de 2 °C até 2070.
“Cada ratificação da Emenda de Kigali nos aproxima de replicar o sucesso do Protocolo de Montreal ao lidar com substâncias que destroem a camada de ozônio”, diz Tina Birmpili, secretária executiva do Secretariado do Ozônio da ONU.
“Esse sucesso se baseia em nações que trabalham juntas. Estou muito satisfeita em ver 100 ratificações e espero muito mais nos próximos meses e anos.”
Comments 2