Desde o início da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), a covid-19 também tem se alastrado entre os profissionais do mercado de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração (HVAC-R, na sigla em inglês).
Com a reabertura da economia, o risco de contágio pode se agravar ainda mais, uma vez que a demanda de serviços tende a crescer nas áreas de climatização e refrigeração comercial, aumentando a circulação de técnicos em casas de máquinas e outros ambientes insalubres.
Por esse motivo, diversas empresas do mercado do frio vêm adotando protocolos de segurança sanitária, desde que a emergência global foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A Trane, por exemplo, envia para toda a sua equipe técnica um roteiro de processos para serem seguidos diariamente.
“Antes da ida ao campo, é realizado um procedimento chamado de pré-qualificação com o cliente, e os técnicos necessitam realizar uma autoavaliação, em que as condições de saúde de ambos são atestadas”, explica Vivian Menegoli, coordenadora de bem-estar, saúde e segurança da companhia.
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A gestora esclarece que neste momento de enfrentamento da covid-19 qualquer deslocamento feito pelos técnicos deve ser munido de proteção completa dos EPIs, incluindo máscara facial (N95 ou PFF2), macacão com fechamento frontal e capuz, óculos de proteção, sapatilhas (descartáveis, confeccionadas em TNT, utilizada por cima do calçado) e luvas (nitrílicas e descartáveis).
“Além disso, os profissionais devem manter o distanciamento físico de no mínimo dois metros e realizar a higienização das mãos e das ferramentas e equipamentos antes e depois dos atendimentos”, complementa Vivian.
Sem entubação
Mesmo tomando todos os cuidados possíveis, profissionais do setor de refrigeração, como Alexander Soares Aguiar, morador do bairro de Xerém, em Duque de Caxias (RJ), foram contaminados pelo Sars-CoV-2.
Especializado em equipamentos residenciais, ele contraiu o coronavírus entre abril e maio, e os sintomas começaram após o término de mais um dia normal de trabalho.
“Tive febre, muita dor no corpo e de cabeça, tontura e um pouco de falta de ar. Fui medicado em um posto de saúde perto de casa, voltei a me sentir bem e continuei trabalhando por mais um dia e meio. Depois, passei três dias com muita tosse e fraqueza. Perdi o olfato e parcialmente o paladar. Tive uma tosse tão forte que parecia que os meus pulmões iam ser arrancados”, conta o técnico, lembrando que a doença foi confirmada após a realização de radiografia e tomografia.
Embora estivesse com sintomas fortes, os médicos entenderam que não era caso de entubação. Medicado, Alexander foi mandado de volta para casa, se isolando da esposa e do filho de quatro anos de idade, em um quarto da casa.
Mesmo sem poder trabalhar, o técnico enfatiza que em torno de 90% de seus clientes continuaram fiéis a ele e aguardaram a sua plena recuperação para o retorno às atividades.
“Depois de tudo isso, desejo aprofundar meus conhecimentos em equipamentos como VRF e chiller, a fim de crescer na profissão”, projeta.
Internação necessária
Atuando no setor desde o final dos anos 1990, o técnico em refrigeração Reginaldo Renzon Queiroz Nogueira também precisou ser internado após contrair a covid-19.
Morador da cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio, o profissional trabalha em uma rede de supermercado, prestando serviço de manutenção de ar-condicionado, local onde acredita ter se contaminado.
“Eu tive dores no corpo e de cabeça e febre, além de falta de apetite e muita tosse decorrente do comprometimento dos meus pulmões. Fiquei internado por sete dias em ambulatório e, após sair, passei mais 14 dias em isolamento”, relembra o profissional, ao descrever a agressividade da doença.
“Não estava bem o suficiente para fazer o tratamento em casa, mas também não estava ruim a ponto de precisar de entubação, somente usei o respirador externo durante três dias”, complementa Reginaldo, que já retornou ao trabalho e cuja esposa também contraiu a doença, mas em grau mais leve – também recuperada.
Sintomas leves
A covid-19 também acometeu, porém em grau mais leve, o mecânico de ar-condicionado Leonardo Alves da Silveira, outro profissional de Xerém, em Duque de Caxias (RJ).
Embora não saiba especificamente onde contraiu o novo coronavírus – se em um hotel na Barra da Tijuca, ou no Aeroporto Santos Dumont –, ele acredita que o contato com a doença possa ter ocorrido durante as diversas horas de trabalho em casa de máquinas.
Especializado em equipamentos split, a fancoil, chiller, rooftop e VRF, o técnico tinha muitas dúvidas sobre a evolução da doença, visto que em seu histórico médico, além de conviver com a bronquite, ele já enfrentou duas pneumonias.
“Quando eu comecei a apresentar os primeiros sintomas, estava muito bem, passei a tarde trabalhando. Tomei banho e fui dormir, como se nada estivesse acontecendo. Só que às três horas da manhã, comecei a passar mal, com muito frio. Mesmo usando três cobertores, casaco, touca, meia e calça, nada adiantava”, conta o profissional, que chegou a ter somente 10% da capacidade pulmonar comprometida àquela altura.
O tratamento foi feito à base de anti-inflamatório e anticoagulante – este último para evitar o surgimento de trombose. Foram 15 dias afastado do trabalho. “A doença deixou como sequelas algum cansaço e uma leve dor no peito”, afirma Leonardo, torcendo para serem passageiras.
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