Um estudo liderado pelo professor Herek Clack, do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade de Michigan, nos EUA, comprovou, há pouco mais de um ano, a eficácia do plasma não térmico na inativação de vírus transportados pelo ar.
Sua equipe demonstrou como essa técnica de descontaminação do ar funciona contra o MS2, um patógeno que infecta bactérias e é conhecido por ser particularmente difícil de inativar.
Em um segundo estudo, Clack provou que o plasma não térmico também poderia inativar o vírus da síndrome reprodutiva e respiratória porcina (PRRSv), que afeta os porcos.
Agora, muitos curiosos estão entrando em contato com cientista para perguntar se esse gás especial, também conhecido como plasma frio ou NTP, poderia inativar o Sars-CoV-2, a nova cepa do coronavírus.
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Especificamente, muitos querem saber se o plasma pode neutralizar o coronavírus nos sistemas de ar condicionado, segundo reportagem publicada no site da IEEE Spectrum, revista do conceituado Instituto Internacional de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos.
O plasma é um estado da matéria em que níveis de energia suficientemente altos fazem com que os elétrons sejam eliminados de suas órbitas e entrem em um estado livre. Naturalmente, esses elétrons radicais podem ser prejudiciais ao DNA e ao RNA dos vírus.
Em função das temperaturas relativas dos elétrons, íons e partículas neutras, os plasmas são classificados como térmicos ou não térmicos.
Plasmas térmicos possuem elétrons e partículas pesadas à mesma temperatura, isto é, eles estão em equilíbrio térmico entre si.
Plasmas não térmicos, por outro lado, possuem íons e átomos neutros a uma temperatura muito menor (normalmente temperatura ambiente), enquanto os elétrons são muito mais “quentes”.
Plasma em sistemas de ventilação
A capacidade do plasma não térmico de interromper a infecciosidade de um vírus foi demonstrada pela primeira vez por um grupo de pesquisadores chineses em 2015, e a equipe de Clack vem explorando seu potencial para desativar vírus em fazendas.
A ideia deles é incorporar reatores de plasma não térmicos nos sistemas de ventilação de criadouros de porcos, para purificar o ar e limitar a propagação de doenças infecciosas como a PRRSv.
Clack disse à publicação do IEEE que o mecanismo exato pelo qual o plasma desativa esses vírus ainda está sendo explorado. “Mas o pensamento é que ele interrompe a capacidade do vírus se acoplar à célula hospedeira”, revelou.
“Nossos estudos mostram que o número de vírus infecciosos caiu mais de dois log, ou seja, mais de 99%, se você comparar antes e depois do tratamento com plasma”, acrescentou.
Embora a capacidade do MS2 e do PRRSv de infectar células tenha sido substancialmente reduzida nos estudos de Clack, a quantidade total de material genético viral dificilmente foi afetada.
Isso sugere que o plasma não térmico, na intensidade exata, pode estar alterando as proteínas na superfície dos vírus, que os vírus usam para entrar na célula hospedeira. Sem essas proteínas intactas, os vírus não podem mais infectar sua célula hospedeira.
À medida que se tornou cada vez mais claro que o novo coronavírus pode ser transmitido pelo ar, sendo até detectado em saídas de ar de hospitais, mais pessoas entraram em contato para perguntar sobre a aplicabilidade da pesquisa de Clack ao Sars-CoV-2.
Barreiras à tecnologia
Os dispositivos de plasma não térmico dentro dos sistemas de ventilação nos hospitais, por exemplo, poderiam ajudar a reduzir a propagação do vírus da covid-19? Explorar essa possibilidade é intrigante, mas é um caminho cheio de muitos obstáculos.
A covid-19 é “altamente contagiosa, sem imunidade inata da população, é potencialmente mortal e não há nenhuma vacina à vista”, lembrou Clack.
“Obter aprovação para trabalhar com essa doença não é um empreendimento mundano”, enfatizou o pesquisador. Isso exigiria um estudo cuidadosamente regulamentado em um laboratório com nível de biossegurança NB-3, o que ele considera caro e difícil de obter.
No entanto, a possibilidade de prosseguir com esse estudo passou por sua mente. A principal questão, observou Clack, é onde, na fila de muitos cientistas, com muitas questões de pesquisa relacionadas à covid-19, se encaixa esse estudo em potencial?
Pesquisas para encontrar uma vacina são claramente uma prioridade – mas também podem levar algum tempo para serem desenvolvidas e implementadas.
Enquanto isso, Clack ressalta que nossa única proteção contra o vírus é o distanciamento social, a cobertura de rosto e a quarentena.
“E é aí que nossa tecnologia realmente pode ter o maior impacto, fornecendo proteção enquanto as vacinas ainda não estão prontas”, salientou.
Apesar da necessidade de mais maneiras de combater o Sars-CoV-2, os desafios do uso de plasma não térmico no contexto da pandemia atual podem ser muito complicados.
A alta fila de propostas de pesquisa sobre covid-19, a necessidade de aprovação pela agência de vigilância sanitária dos EUA (FDA) de dispositivos de plasma frio em ambientes humanos e formas limitadas de produzi-los para sistemas de climatização continuam sendo as principais barreiras para o uso da tecnologia no curto prazo.